24/05/2011
Os Ditados do Império

Mauro Santayana

O que está em discussão é a enorme disparidade entre os privilegiados e os pobres. Essa rebelião, que se espalha hoje por vários paises não islâmicos, não leva em conta a natureza ideológica ou teológica dos regimes contestados, mas a sua incapacidade de resolver os problemas cotidianos das pessoas. Tanto nos paises muçulmanos de hoje, quanto nos que se identificam como cristãos, xintoístas, budistas, ou animistas, o que se contesta é o domínio dos ricos. Esses opressores internos participam da exploração dos recursos naturais e do trabalho de seus povos. Por detrás se encontra o sistema financeiro internacional, com ladrões que comandam os escritórios de Wall Street, da Place de la Bourse, da City, das bolsas de valores de Frankfurt, Tóquio, Hong Kong, Xangai – e outros lugares.
O pronunciamento de Obama é ambíguo. Por um lado, ameaça; pelo outro acena com o reconhecimento do Estado Palestino nas fronteiras estabelecidas em 1967 – já de si usurpadoras dos direitos dos seus ocupantes históricos. Um observador das incoerências do presidente norte-americano poderá ver no discurso a tentativa de engambelar os palestinos, com a promessa – vaga, diga-se de passagem – de usar o seu poderio a fim de impor a independência dos territórios ocupados por Israel, e, ao mesmo tempo, agradar ao governo teológico judaico com a perspectiva de submeter a Síria, e o Irã, únicos vizinhos com capacidade bélica de ameaçar Tel-Aviv, embora não sejam potências nucleares como Israel.
Não é provável que Obama obtenha de Israel qualquer compromisso em reconhecer o direito do povo palestino a um estado independente. Na realidade, os israelitas, mediante a poderosa influência que exercem na política interna nos Estados Unidos, impõem a Washington a posição que lhes interessa.
Talvez Obama, induzido à cegueira pela arrogância histórica de Washington, não tenha ainda percebido que os seus inimigos reais – os que se opõem à sua reeleição, e que corroem o futuro de seu país – não se encontram entre os islamitas, mas exatamente em seu próprio território e no território de seus vassalos e aliados, como a França e a Inglaterra. São os que usufruem da cruel desigualdade social que, só nos Estados Unidos, confere a um por cento da população quarenta por cento da riqueza interna. Nunca houve, naquele país – nem mesmo na véspera da Grande Depressão – injustiça social semelhante. Talvez conviesse, para a segurança da grande nação do Norte, e para a paz no mundo inteiro, que o governo norte-americano se dedicasse a eliminar a iniqüidade interna, em lugar de se meter a guardião do mundo.
Se assim os Estados Unidos agissem, estariam voltando ao compromisso dos fundadores da República, entre eles, Washington, que em seu discurso de despedida, conclamou seus pósteros a tratar de maneira equânime as nações estrangeiras, mantendo boas relações comercias com todas elas, mas se esquivando de meter-se em seus assuntos políticos, e – o que é principal – não odiando, nem amando nenhuma em particular.
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Muito bom. Tenho acompanhado ele no www.maurosantayana.com.
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