16/11/2011
Enviado por luisnassif, qua, 16/11/2011 - 11:22
Por Marco Antonio L.
Líbia passou por 'recolonização', diz jornalista brasileiro barrado no país
Fabíola Ortiz
Especial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro (RJ) Em agosto deste ano, o jornalista Mário Augusto Jakobskind integrou uma delegação brasileira que viajaria à Líbia com o objetivo de fazer um relatório sobre a situação do país, em meio à revolta contra o regime do ex-ditador Muammar Gaddafi. O agravamento da situação no país, sob intervenção da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), acabou impedindo a entrada do grupo, que não conseguiu cruzar a fronteira da Tunísia com a Líbia.
Mesmo frustrada, a experiência rendeu um livro lançado pelo jornalista na sexta-feira (11): “Líbia: barrados na fronteira – O que não saiu na mídia sobre a invasão da Líbia”. E também deixou impressões no autor sobre o país que agora desenha seu futuro pós-Gaddafi – o ditador foi morto no final de outubro, em uma ação que contou com a participação da Otan e dos rebeldes. Para Jakobskind, a democratização da Líbia foi apenas um “pretexto” para que forças ocidentais lucrem com a reconstrução do país.
“O que houve na Líbia foi um processo de recolonização que remonta ao século 19. O primeiro bombardeio na história foram os italianos na Líbia. Ela pertenceu ao império otomano durante séculos, e a Itália tomou dos turcos. A Líbia também foi um protetorado da ONU tornando-se independente com o rei Ídris, em 1951”, completou.
Jakobskind considera que falar sobre um possível regime democrático em território líbio pode ser apenas “jogo de marketing político” e destaca a importância da economia para determinar o futuro da Líbia. “É um jogo de marketing político de democracia, quem vai dominar o pedaço vão ser as potências da Europa como França e Itália, e também os EUA. Eles (líbios) não conhecem o conceito de democracia como nós conhecemos. Para eles, o padrão de vida é um marco, agora resta saber se o padrão de vida vai continuar o mesmo, aumentar ou diminuir, isso é o que vai determinar”. Além do contexto histórico do conflito na Líbia, o autor também aborda no livro o que seria o papel da rede terrorista Al Qaeda.
“É muito estranho que uma organização como a Al Qaeda tenha participado junto com a Otan na luta contra Gaddafi”, diz. A viagem interrompida em agosto não foi a única que o jornalista tentou fazer à Líbia. Ele conta que, em 1998, havia uma previsão de a seleção brasileira de futebol jogar naquele país. Ele acompanharia a partida, que acabou sendo cancelada.
“Agora, 12 anos depois, também não consegui entrar”. A nova tentativa foi iniciada em São Paulo, no dia 14 de agosto, e encerrada na capital tunisiana, Tunis, de onde o grupo seguiria de carro até a Líbia, que estava com o espaço aéreo fechado. “Se a gente tivesse chegado 24 ou 48 horas antes, nós teríamos entrado, mas não iríamos conseguir sair. As estradas estavam sendo bombardeadas, a única passagem que levava a Trípoli estava sob forte combate”.
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Comentário do leitor
qua, 16/11/2011 - 12:29
Em 1969 (início do regime de Kadaffi), a Líbia era um país miserávelmente miserável, sem educação, saúde, e com todas as suas reservas minerais nas mãos de multinacionais.
Pois bem, Kadaffi nacionalizou toda a cadeia petrolífera expropriando as potências ocidentais, e nacionalizou também inúmeros outros ramos da indústria líbia que estavam nas mãos de italianos, franceses, norte-americanos e ingleses. Esse é o pecado original de Kadaffi que nunca foi esquecido pelas potências imperialistas...
A Líbia atual (até a intervenção criminosa da OTAN), era o país com o mais alto IDH da África (IDH superior inclusive ao do Brasil), era também um país que fornecia educação, saúde, moradia e luz elétrica de forma gratuita para toda a população. Muitos universitários líbios estudavam em instituições européias e norte-americanas com as despesas totalmente pagas pelo governo líbio.
Esse era o "caos" existente na Líbia sob o governo de Kadaffi...
Pois bem, é sabido por todos que se não fosse pela intervenção criminosa da OTAN, Kadaffi teria controlado a revolta já em fins do mês de março. No dia 17 de março de 2011, a OTAN conseguiu um mandato do Conselho de Segurança da ONU para "proteger" os civis líbios da repressão governamental. Na mesma noite iniciaram os bombardeios da maior e mais moderna máquina de guerra da história da humanidade, capitaneada pela França, Inglaterra e EUA. Até o dia 20 de outubro, foram mais de 10.000 bombardeios diários, destruindo cidades inteiras, destruindo a infra-estrutura portuária, ferroviária e rodoviária da Líbia, bem como hospitais, escolas, mesquitas, o exército, a marinha e a aeronáutica líbias e todos os prédios das instituições do regime de Kadaffi.
Mesmo assim, utilizando-se da maior máquina de guerra da história da humanidade, com intervenção direta e com apoio logístico de oficiais dos países imperialistas, a OTAN demorou 07 longos e sangrentos meses para dar cabo de Muamar Kadaffi (a missão não era proteger os civis?). Kadaffi tinha e ainda tem o apoio de milhões de líbios, que lutaram ao seu lado contra a aberração imperialista da OTAN e da Al Qaeda, foram bravos, lutaram em cada esquina contra a recolonização de seu país, para manter a independência nacional conseguida à duras penas em décadas anteriores.
Lembro-me bem que quando iniciaram os ataques monstruosos contra o povo líbio, acusavam Kadaffi de ter matado 800 pessoas na repressão. E o que vemos hoje? Vemos que a "ajuda humanitária" da OTAN e de seus lacaios, a pretexto de "libertar" a Líbia, assassinaram mais de 50.000 pessoas com seus bombardeios criminosos! Isso sem falar nas mutilações decorrentes da guerra de recolonização...
Essa é a face do império nua e crua. Muito rapidamente os líbios dar-se-ão conta do que realmente aconteceu nesses odiosos meses de brutal e aterrorizante intervenção imperialista. Veremos também como é que ficarão as questões da saúde pública, da educação, da moradia, da luz elétrica e dos direitos humanos na Líbia "democratizada" pós Kadaffi. Para quem quiser se informar mais sobre a situação dos direitos humanos da Líbia, recomendo que leiam o que dizia a ONU sobre o governo de Kadaffi, em 16 de janeiro de 2011, apenas dois meses antes do genocídio recolonizados (é revoltante ver a hipocrisia do ocidente "civilizado"):
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