.18/03/2012
Da Carta Capital - 18/3/2012
Delfim Netto
Para reanimar a economia brasileira não existe nada mais importante do que baixar a taxa de juros. É absolutamente natural o corte de 0,75 ponto da taxa básica, decidido na reunião do Copom na segunda semana do mês de março. O Banco Central está agindo prudentemente e com medidas corretas. A taxa real dos juros no Brasil continua sendo a maior do mundo. Seu nível é extremamente prejudicial do ponto de vista da eficiência do funcionamento do sistema econômico, adiando investimentos e inibindo exportações dos setores mais dinâmicos da indústria, graças à supervalorização do real.
Haverá sempre quem faça críticas acenando com os riscos de uma recidiva da inflação (em 2013!), já que mesmo os mais céticos se convenceram de que em 2012 ela está se comportando como esperava o governo, na direção da meta de 4,5%. Existe um certo esforço de bruxaria nesses ensaios, pois as conclusões dependem do modelo de análise que os críticos estão usando, das relações que estão dentro desses modelos, da qualidade das estimativas e das convicções dos analistas. Dependem, também, da crença de que “o governo está morto”.
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A hipótese é que “tudo vai continuar como está”: o governo não vai agir, “já fez o que tinha de fazer” e vai esperar de braços cruzados a inflação voltar, ou seja, a própria hipótese nega a existência do governo. Só que o governo Dilma está vivo e mandando bem… O Banco Central está muito mais “antenado” com a realidade econômica mundial do que a maioria de seus críticos. Tem antecipado-se aos lances (alguns próximos do desespero) das autoridades monetárias dos países desenvolvidos, que tentam transferir para os parceiros emergentes os efeitos do sufoco financeiro que eles próprios criaram.
O governo brasileiro sabe que o problema europeu está longe de ser resolvido. E não tem ilusões sobre as consequências da criação dessa gigantesca liquidez nos Estados Unidos e na Europa, cujo objetivo é desvalorizar -suas moedas e melhorar a capacidade de ampliar suas exportações. É isso que move essa competição entre o dólar e o euro à qual, embora distante, não está alheia a China, porque sua moeda (o yuan) já está grudada na americana. Paí-ses emergentes como o Brasil, com instituições de melhor qualidade e que tenta se comportar de forma civilizada, são as maiores vítimas da contrapartida que é a supervalorização de suas moedas. No nosso caso, não podemos continuar subestimando os prejuízos causados por um real sobrevalorizado ao setor industrial, um desequilíbrio permanente que vem de longe.
Há outras causas para esse desequilíbrio, como a alta tributação, a infraestrutura mal resolvida, a burocracia e as taxas de juro abusivas, que todos conhecemos. O abandono mais recente de investimentos e o aumento das dificuldades para vencer a competição externa e no -próprio mercado interno têm como causa principal, no entanto, a competição dos Estados Unidos, Europa e a própria -China ao desvalorizarem suas moedas para explorar -mercados como o brasileiro. E lucrar com as oportunidades de arbitragem financeira que a supervalorização do real oferece.
Há análises aqui e no exterior (como a que inspirou o comentário da chanceler da Alemanha) que pretendem que a indústria brasileira não sabe ser competitiva, e, por isso, exige de seu governo medidas protecionistas. É natural que nosso setor industrial tenha problemas de competição, como qualquer outra indústria no mundo. Nós sabemos o que representa o “custo Brasil”, mas, na usina, a produtividade da Volkswagen do Brasil é tão eficiente quanto a da Volkswagen na Alemanha.
Merkel sabe que a infraestrutura alemã funciona bem, que seu sistema de assistência social é muito eficiente e que o entendimento com os sindicatos trabalhistas tornou possível manter os salários contidos em meio a crises. Com câmbio favorável desde a introdução do euro e índices de produtividade do trabalho crescentes, a Alemanha aumentou vigorosamente suas exportações, especialmente para os países da Zona do Euro, consolidando a posição dominante que tem hoje na -Comunidade -Econômica Europeia.
Não deixa de ser -interessante discutir esses índices de produtividade industrial. O que está em jogo, porém, são as condições -isonômicas que nenhum governo brasileiro deu, até agora, à sua indústria.
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