Por Altamiro Borges
Os analistas políticos queimam os neurônios para descobrir
os motivos da liderança de Celso Russomanno na disputa pela prefeitura
de São
Paulo. Ele sempre foi apontado como um “azarão” nesta eleição. Seu
partido, o
PRB, tem pouca capilaridade; seu tempo na rádio e televisão é pequeno;
ele não
conta com o apoio de máquinas públicas. Mesmo assim, Russomanno surge em
todas
as pesquisas com mais de 30% das intenções de voto e parece já ter
garantido a sua vaga no segundo turno. O que explica este “fenômeno
eleitoral”?
Teses para todos os gostos
Há teses para todos os gostos. A que foi explorada no início
da campanha é que ele seria um ser midiático, apresentador da TV Record num
programa popularesco de defesa do consumidor. Com o fim das suas aparições na
telinha, em função da legislação eleitoral, muitos analistas apostaram na sua acelerada
queda. Mas esta tese não se confirmou. Russomanno continuou crescendo nas
pesquisas. Na sequência, surgiu a hipótese de que sua força decorria do apoio
da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), que é dona da TV Record.
Estabeleceu-se, então, uma verdadeira guerra santa – que de
santa não tem nada. A Igreja Católica, rival dos evangélicos, divulgou em suas
centenas de paróquias em São Paulo um duro sermão contra o candidato da Iurd. A
mídia demotucana, numa atitude que beira o preconceito religioso, amplificou o
manifesto da Cúria Metropolitana. Apesar do ataque “religioso”, Russomanno
manteve a liderança nas pesquisas. O que explica, então, este fenômeno
eleitoral? Não há respostas conclusivas, mas apenas hipóteses mais
consistentes.
Eleitorado conservador
A primeira é que o candidato do “nanico” PRB é expressão do conservadorismo
de São Paulo. Das sete eleições realizadas na maior cidade do país após o fim
da ditadura militar, a direita fisiológica venceu em quatro – com Jânio
Quadros, Paulo Maluf, Celso Pita e Gilberto Kassab. O PT elegeu duas prefeitas,
Luiza Erundina e Marta Suplicy, em momentos políticos excepcionais. E o PSDB,
expressão da direita “moderna”, ganhou apenas uma vez, com José Serra. Ou seja:
o eleitorado conservador é muito influente na capital paulista.
Esta hipótese foi reforçada pela última pesquisa do
Datafolha. Ela testou os “valores” dos paulistanos e indicou que o conservadorismo
é forte na capital paulista. A sondagem, que apontou Russomanno com 35% das
intenções de voto, indicou que junto aos eleitores que se identificam com as
ideias conversadoras – sobre religião, sexo, violência e outras – a sua
vantagem passa dos 41%. Os homens (61), os mais velhos (média de 49 anos) e as
pessoas com ensino fundamental (42%) comporiam a parcela do eleitorado
ultraconservador.
Vácuo político
A segunda hipótese é que Celso Russomanno ocupou o vácuo na
disputa entre o tucano José Serra e o petista Fernando Haddad. Ambos contam com
apoios de máquinas públicas, têm mais tempo no horário eleitoral de rádio e tevê
e possuem estruturas partidárias mais sólidas. Desde o início da campanha, tudo
levava a crer que se estabeleceria uma polarização entre PSDB e PT – o que, de
fato, não faz parte da tradição das eleições na capital. Serra e
Haddad passaram a se digladiar, deixando o espaço aberto para Russomanno.
Maria Cristina Fernandes, editora de política do jornal
Valor, há muito alertou para esta possibilidade. “Ao lançar um desconhecido do
eleitor e sem o aval de Marta, o PT deixou o flanco aberto para o candidato do
PRB ocupar... No flanco tucano, foram a desaprovação de Gilberto Kassab e a
rejeição de Serra que abriram espaço para o candidato do PRB entrar no
condomínio de classe média baixa que um dia foi de Maluf e onde PSDB e PSD
passaram a se revezar”. Para ela, Russomanno cresceu neste vácuo político.
Nova fase da campanha
Com o seu discurso vazio em defesa do consumidor e sem sofrer ataques
dos adversários, o “azarão” do PRB se consolidou como alternativa viável. Agora,
porém, as coisas começam a mudar. Na última semana, Celso Russomanno foi alvo
de duros ataques, principalmente do tucano. Os rivais alertam que ele não tem
consistência, é um candidato “laranja” e com uma trajetória sinistra. A última
pesquisa Datafolha já apontou queda de 5% nas suas intenções de voto – o
primeiro baque desde o início da campanha.
Será que Russomanno vai conseguir
sustentar a sua folgada vantagem. A conferir!
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