27/03/2013
Tucano virou pavão e 'imortal' da Academia
Do Blog Palavra Livre - 27/03/2013
Por
Davis Sena Filho
Fernando
Henrique Cardoso — o Neoliberal — é o que podemos chamar de “o
bom burguês”. Respeitado e considerado nos salões de festas e
reuniões, bem como nas casas da burguesia quatrocentona paulista, o
ex-marxista que foi presidente da República durante oito anos quer
ter também em sua biografia a “glória” de ser “imortal”.
Deus ouviu as preces de Merval, e FHC vai vestir o fardão. |
FHC
é candidato a uma cadeira na conservadora e vetusta Academia
Brasileira de Letras (ABL), instituição privada ajudada pelo poder
público, que é composta por representantes de nossa burguesia que
se dedicam às letras. A burguesia que cria seus espaços para
homenagear, premiar e elevar o nome de seus integrantes, pois sabem
que jamais receberiam homenagens do segmento popular.
A
Academia divorciada do povo e que, por intermédio de suas nomeações
“imortais”, agracia os donos do dinheiro ou os seus empregados de
confiança, como forma concreta e evidentemente simbólica de manter
a hegemonia de classe social sobre o restante da sociedade, no que
diz respeito ao mundo literário e suas inúmeras escolas e vertentes
— oficiais ou não.
A
ABL sempre causa má impressão às pessoas quando barra na porta de
seu baile à black tie escritores e poetas da grandeza de Mário
Quintana e Antônio Torres, somente para exemplificar esses, porque
muitos outros talentos literários tiveram de ficar na porta da
comezaina dos nobres da Academia.
Homens
e mulheres que se comportam como “peruas” ou socialites, porque a
modéstia, a humildade e a verdadeira sabedoria passam longe desses
proeminentes das letras eleitos por eles mesmos, já que fazem parte
de um clube restrito, fechado cujas sedes se localizam nos endereços
dos salões e dos escritórios de nossa burguesia sedenta de glória
e de reconhecimento, mas que, para seu desalento, vazia de ideias,
além de ser estéril no poder, quando se trata de elaborar
estratégias, programas e projetos para transformar o Brasil em um
País independente habitado por um povo emancipado.
FHC
quer completar sua biografia. Em sua modéstia comovente e humildade
exemplar, o político tucano e neoliberal afirmou, por e-mail, à
presidenta da ABL, Ana Maria Machado, que "Depois de tantos
amigos insistindo comigo tantas vezes, acabei cedendo. Minha
reticência sempre foi a de que não sou homem de letras e não
queria criar constrangimentos por ter sido presidente da República.
Mas agora, passados tantos anos da presidência e mantida, se não
mesmo que ampliada, a convicção de vários membros da ABL de que eu
deveria juntar-me a eles, acabei por concordar".
Roberto Marinho, vestido a caráter, espera por FHC com o bigode e o rosto do Merval. |
Comovente,
não? Sempre tive a impressão de que FHC — o Neoliberal — é,
sobretudo, a modéstia em pessoa e a despretensão em toda sua
essência. Esta realidade me causa profundo mal-estar e uma
preocupação que me deixa insone. Afinal, FHC, como bem informa em
sua carta eletrônica, quase se viu obrigado a se tornar “imortal”
da ABL, o que lhe causou e ainda lhe causa sérias conseqüências de
ordem psicológica e social quanto a seu status de “príncipe”
dos sociólogos, apelido este dado por um monte de jornalistas
abestalhados e puxa-sacos da imprensa de mercado.
Jornalistas
que aderiram aos interesses de seus patrões e que viam na pessoa de
FHC um Brasil culto e que, até que enfim (ufa!), poderia se
reportar, em termos institucionais, culturais e acadêmicos, com os
dirigentes dos países considerados por essa gente de cabeça
colonizada e vitimada por um imenso complexo de vira-lata como as
sociedades perfeitas, pelo menos até o ano de 2008, quando a crise
financeira e imobiliária derreteu suas economias como sorvete em dia
de 40 graus.
Seus
apoiadores da ABL — igualmente de almas simples tal qual a do
tucano FHC — são também a mais autêntica expressão da
simplicidade, despojados de vaidade e orgulho, e nunca ou jamais
farão política de interesse ou de agrado àqueles que habitam o
pico da pirâmide social ou os meandros do poder, no caso do
ex-presidente tucano, que tem influência em São Paulo, Estado da
Federação controlado há 18 anos pelo PSDB e governado pelo
governador direitista, Geraldo Alckmin,
considerado por muitos como um membro da Opus Dei.
Os
asseclas dos jornalões de negócios privados e porta-vozes da
direita brasileira já se mobilizam em um frenesi de satisfação e
confraternização incontrolável, afinal o seu ídolo, o neoliberal
FHC, aquele que quebrou o Brasil três vezes porque foi exatamente
três vezes ao FMI pedir esmolas de joelhos e com o pires na mão,
vai se tornar “imortal”.
O
reconhecimento artificial e a “imortalidade” burguesa para os
burgueses compromissados com as classes dominantes, porém, sem
talento literário, tanto no que concerne à literatura ou a outros
estilos de obras, como, por exemplo, as escritas pelo político
trabalhista e antropólogo Darcy Ribeiro, intelectual e pensador de
peso, e não apenas um escritor medíocre — a realidade nua e crua
de FHC.
O
tucano tem, visivelmente, dificuldade para se expressar, além de
escreve mal, pois seus textos são desconcatenados no que diz
respeito ao pensamento e ao assunto que ele aborda, ao ponto de não
se compreender o que o futuro “imortal” pensa ou deixa de pensar.
Quem não acredita no que eu afirmo que leia um livro do grão-tucano.
FHC tem fama de ser intelectual; e esta fama ele tem de agradecer,
encarecidamente, ao sistema midiático corporativo e privado,
que sempre fez questão de colocar a cereja em seu bolo.
A
Academia Brasileira de Letras mais uma vez se curva ao sistema, ou
seja, a aqueles a quem a instituição serve, como serviu, sem
titubear e despida de ética, à ditadura militar. O sistema de
poderes das classes dominantes premia a quem lhe serviu e ainda lhe
serve. É o caso de FHC. O tucano pretende ocupar a cadeira nº 36,
que está vaga desde a morte do
jornalista João de Scantimburgo, ex-diretor dos Diários Associados,
umbilicalmente ligados às nossas elites econômicas, cujo jornal
Correio Braziliense é a empresa mais forte desse grupo.
Como
se observa, os membros, mortos ou vivos da ABL, no decorrer e após a
ditadura militar são títeres e porta-vozes de nossa burguesia
provinciana e lamentavelmente herdeira da escravidão. Segundo alguns
“imortais”, o ex-presidente neoliberal que vendeu o patrimônio
público brasileiro que ele não construiu já conta com 38 votos.
Seu companheiro de Governo, o ex-ministro de Relações Exteriores,
Celso Lafer, foi responsável por levar a carta de candidatura de seu
chefe.
Não
convém esquecer. O diplomata Lafer, responsável por uma política
externa de punhos de renda e subalterna, tirou os sapatos no
aeroporto de Nova York a mando de agentes de segurança ocupantes de
cargos subalternos. O ex-ministro, autoridade máxima da diplomacia
brasileira, curvou-se à sua insignificância e mostrou para quem
quisesse ver o quão subalternas são as nossas burguesias,
vergonhosamente colonizadas e com um incomensurável complexo de
vira-latas. Chique é o povo trabalhador brasileiro, que sustenta a
Nação.
FHC
agradece penhoradamente a imortalidade concedida pela ABL,
instituição elitista e preocupada com o chá das cinco. Ele vai ser
imortal, e quem vai recebê-lo é o jornalista Merval Pereira, autor
de três livros, sendo que dois não passam de uma compilação do
que ele escreveu em sua coluna em O Globo, cujo tema é
sistematicamente o ex-presidente trabalhista, o principal político
da América Latina, conhecido mundialmente e que atende pelo nome de
Lula.
Fernando
Henrique gosta de ter o ego massageado. É sua índole e
personalidade — o seu caráter. Vaidoso ao extremo, mendiga
medalhas, diplomas, moções e aplausos. Ávido por
reconhecimento, abandona a plumagem de tucano e a troca por uma de
pavão. Mais um pavão “imortal” da ABL.
É isso aí.
PITACO DO ContrapontoPIG
O modelito de fardão aí abaixo seria, quem sabe, mais adequado para a posse do FHC na ABL
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PITACO DO ContrapontoPIG
O modelito de fardão aí abaixo seria, quem sabe, mais adequado para a posse do FHC na ABL
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