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03/10/2014
DCM no debate: a tensão e as piadas nas coletivas de imprensa após o programa
O debate acabou à 1h15 da madrugada. Cada presidenciável teve direito, na seqüência, a cinco minutos com a imprensa. Marina Silva, Luciana Genro, Aécio Neves, Dilma Rousseff, Eduardo Jorge e Pastor Everaldo desceram para uma sala com um palanque onde conversaram com os repórteres.
Marina Silva chegou 15 minutos depois do final do embate. Estava sorridente de início, mas sua felicidade se desfez com as perguntas, demonstrando um cansaço visível.
“A senhora avalia fazer uma aliança com Aécio Neves no segundo turno?”, foi a primeira pergunta dos jornalistas. O sorriso sumiu e ela argumentou que “segundo turno se faz no segundo turno”.
Marina fez uma defesa do seu plano de governo, mesmo com os recuos na questão do casamento gay e na polêmica da independência do Banco Central. A candidata também acredita que seus dois minutos de propaganda, ampliados em um possível segundo turno, podem levá-la à presidência. “Encaramos uma guerra desigual”, completou.
Marina Silva repetiu quatro vezes a palavra “vitória” num discurso muito bem treinado, não dando espaço para questionamentos. Mesmo assim, sua assessoria de imprensa estava tensa e analisando toda a fala.
Também disse que o 13º pagamento do Bolsa Família já era estudado, embora tenha sido apresentado nos últimos dias. Um jornalista angolano perguntou sobre parcerias e Marina terminou a entrevista no tempo.
Depois foi a vez de Luciana Genro. Perguntamos como a candidata pretende levar a taxação das grandes fortunas como uma proposta, caso ela não vá para o segundo turno. “Acreditamos que as pesquisas não podem definir a eleição, mas todos que apoiarem as nossas bandeiras terão apoio do PSOL para fazer uma votação que vai surpreender”, disse ela.
Luciana também qualificou os debates como um aspecto positivo das eleições. Estava visivelmente tensa, embora seu assessor Rodolfo Mohr a acalmasse ao meu lado. A coletiva dela se encerrou dois minutos antes do tempo por falta de perguntas da imprensa.
Aécio Neves apareceu cumprimentando os jornalistas como se fossem seus melhores amigos de pelada. Antes da coletiva, falou que o empate técnico com Marina Silva nas pesquisas significava que a curva de seu crescimento é “ascendente”, com uma “das mais qualificadas e seguras alianças”. O candidato afirmou que a situação econômica do governo Dilma é uma “herança perversa”.
Eu lhe perguntei: “Candidato, sua curva é ascendente, mas há uma possibilidade de o senhor não ir ao segundo turno. O senhor se candidatará novamente em 2018?”
Aécio deu risada. “Essa possibilidade pequena a que você se refere não é bem o que andamos ouvindo por ai”, disse, sendo interrompido pela funcionária da Globo que disse que ele tinha apenas um minuto para terminar a resposta.
O tucano então completou dizendo que não pensa em próxima eleição, mas nesta eleição. Ele acredita que pode converter votos para vencer no domingo.
Um abatido e suado Levy Fidelix também ouviu uma pergunta do DCM. “Como o senhor avalia a posição da mídia após o debate sobre homofobia e os seus posicionamentos?”, questionei. Levy ficou mais entristecido e disse que a intenção não foi atacar ninguém com suas declarações. “Fiz um apelo para defender a família, dentro do meu direito de expressão previsto na Constituição”, respondeu.
Para o candidato do PRTB, os demais candidatos são um “mau investimento” e ele assegurou que volta em 2018. “Votar em Levy Fidelix é um bom investimento, apliquem nesta bolsa agora porque ela está subindo”, completou.
Isso arrancou alguns risinhos da plateia, o que deixou a feição do candidato ainda mais dura e desesperançosa. “Colocamos uma pedra final neste assunto, que infelizmente foi provocado por uma pessoa que havia combinado comigo de fazer perguntas apenas essenciais ao Brasil”, disse Levy Fidelix sobre Luciana Genro.
Levy terminou a coletiva se autoproclamando um democrata que sabe ouvir opiniões diferentes, disse também que foi um dos responsáveis pelo Bolsa Família e saiu da entrevista visivelmente abalado, enquanto despertava apenas algumas risadas da imprensa.
Dilma Rousseff chegou acompanhada por assessores, pelo ministro Mercadante e pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. “Boa noite e boa madrugada”, disse a presidente, mais descontraída do que se viu no debate. A candidata explicou que pretende transformar o caixa dois em crime eleitoral, diferente do crime financeiro que existe hoje.
Respondendo a um jornalista argentino, Dilma disse que o país latino-americano é um parceiro fundamental do Mercosul e que as relações internacionais devem desenvolver uma relação definida por ela como “amiga”. “Devemos também promover a Unasul (União de Nações Sul-Americanas ) e a Celac (Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos)”, completou.
“Candidata, falta um minuto”, disse a equipe da Globo. “Para quê?”, respondeu Dilma. Os jornalistas caíram na risada.
Rouca, Dilma reclamou do pouco tempo para responder questões. “Isso virou uma febre, né? Qualquer dia vou chegar em casa e minha filha vai perguntar: ‘Como você está? Você tem 30 segundos para responder a pergunta’”.
Eduardo Jorge, sempre de mochila, entrou em uma coletiva de imprensa bem mais esvaziada. “O que o senhor quis dizer com corrupção estrutural no governo Dilma?”, indaguei.
O candidato disse que isso ocorre com nomeações de cargos em ministérios, cargos de confiança e diretorias de estatais. “Há um loteamento de diretorias. O caso da Petrobras, me parece, é um caso exemplar deste tipo. A sugestão nossa, do Partido Verde, é seguir o rumo do parlamentarismo e diminuir o número de cargos de confiança”, afirmou.
“O senhor já fumou maconha?”, alguém quis saber.
“Graças a Deus sou de uma família de esportistas e nunca fumei nem cigarro. E eu sou um médico de saúde pública, você acha que eu sabendo dos prejuízos vai cair numa bobagem dessas? Nunca precisei! Prefiro ler Tolstói! Ou jogar futebol”.
A última entrevista, depois das 2h da madrugada, foi com o Pastor Everaldo, ainda mais esvaziada. Perguntei-lhe: “Candidato, através das redes sociais o senhor condenou a posição de Levy Fidelix sobre os homossexuais, mas o seu posicionamento não é parecido?”
Everaldo deixou de lado a jovialidade marota. “Em momento nenhum eu condenei a liberdade do Levy de dar a sua opinião. Todos nós estamos num Estado democrático de direito”, começou.
“Mas o senhor foi contrário às declarações dele, não foi?”
“Em momento nenhum eu disse isso. Quis dizer que todos podem se expressar e serem respeitados por isso”, reforçou.
Everaldo havia divulgado uma nota em que dizia que “opiniões divergentes devem ser encaradas com naturalidade, mas sem desrespeito”. Dias atrás, também declarou que o posicionamento das autoridades públicas sobre os gays deve ser cobrado pela opinião pública. No fim, ainda perguntei se a ideia dele sobre casamento entre homossexuais é a mesma de Levy Fidelix. Everaldo fingiu que não ouviu e partiu para a noite.
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