sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Contraponto 15.570 - "Paulo Fonteles Filho: Hora de enfrentar os barões da Vênus Platinada"

 

17/10/2014

 

Paulo Fonteles Filho: Hora de enfrentar os barões da Vênus Platinada


Do Viomundo - publicado em 17 de outubro de 2014 às 12:07


Globo sonega


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Os batuques da senzala e o medo na casa grande
sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Um odioso cerco se abate contra as mudanças no Brasil. Tal assédio, sempre estimulado pelos latifundiários da mídia hegemônica, procura, como em 1964, criar um ambiente de medo como base numa provável ‘cubanização’ do país; além, é claro, do mofado discurso de que somos governados por gangsteres comunistas, corruptos e malfeitores da pior espécie.

Por Paulo Fonteles Filho, em seu blog

Editorialistas da estirpe mais reacionária se reúnem, ao redor de fantasmagóricas figuras como Olavo de Carvalho, Jair Bolsonaro, Silas Malafaia, Lobão, Ronaldo Caiado e Marcos Feliciano, para que, como numa esquizofrênica cruzada salvacionista, pavimentar a eleição de seu candidato, Aécio Neves.

Os instrumentos, para tal intento, se baseiam na lavagem cerebral do noticiário dos jornalões e em seu subproduto mais perigoso: o ódio contra tudo que for popular, progressista e, em última instância, brasileiro.

Nessa conjuntura, a principal organização política da direita brasileira, a Rede Globo, porta-voz e apoiadora de tudo aquilo que é antinacional, truculento e reacionário no país tupiniquim nos últimos 50 anos, precisa ser duramente combatida.

Se assim não o fizermos, poderemos ver um importante ciclo político e democrático – iniciado por Lula e continuado por Dilma – ser derrotado pelas mesmas penas e baionetas que apearam João Goulart do poder presidencial e instalaram, por mais de vinte anos, um regime medularmente corrupto, de terror, com censura, demissões em massa, torturas, mortes e desaparecimentos forçados.

O que essa gente quer senão decretar o fim de toda uma experiência histórica?

O diapasão do tempo, nossos últimos 30 anos, ensejaram lutas memoráveis que uniram o país, desde as “Diretas Já!” — memorável contenda pela redemocratização do Brasil — até os dias atuais, onde o país está mais independente e tem opinião própria, sempre de acordo com seus interesses, onde a fome e o desemprego são duramente enfrentados porque, dentre outras medidas, deixamos de ser lacaios dos interesses dos grandes impérios mundiais, em especial o estadunidense.


E esse tempo foi um tempo, sobretudo, de acumulação de forças. Soma-se a esse esforço o fato de que essa gente, hoje aecista, quebrou o país e nos deixou o legado da insolvência.
Acumulamos força porque conseguimos, depois de muitas derrotas, ganhar o imaginário dos brasileiros para um projeto mudancista, distante da premissa ultraliberal, de privatizações, desemprego e arrocho contra os trabalhadores, que marcaram os anos regressivos de Fernando Henrique Cardoso.

Não se mata uma ideia. A grande fixação dos direitistas é sempre matar uma ideia. Toda ideia é subversiva para um recalcitrante.

Tudo que é diferente dá trabalho. Tudo que é mestiço é anticolonial. Tudo que é popular é ignorante, aliás, não foi esse o recado do mais emplumado dos tucanos, Fernando Henrique Cardoso?
Definitivamente não se mata uma ideia, mas a velhacaria um dia desaparece, aliás, apodrece.

E o latifúndio da mídia é a estrutura da sociedade brasileira que mais nos remete ao obscurantismo, porque, dentre outras, destila na consciência social o barbarismo onde tudo se resolve com linchamentos públicos e a redução da maioridade penal. Porque, sabemos, é melhor construir presídios a escolas.

O enfrentamento a esses barões, principalmente os da Vênus Platinada, é uma tarefa que se impõe nesta e nas futuras batalhas pela consciência e pelo poder político no Brasil.

A questão central, para eles, é que o povo não pode ter direito e futuro. Tolstói sempre haverá de nos ensinar com sua célebre passagem que “os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas”.

Acontece que essa gente, mais tucana é impossível, não estava acostumada a ver pessoas do povo vivendo com o mínimo de dignidade, porque, afinal, só são dignos os nascidos nas meritocratas famílias tradicionais, não é verdade?

Dinheiro público apenas para as pançudas barrigas acostumadas a Miami, nunca para quem nasceu nas ribeiras amazônicas ou no sertão piauiense, não é verdade?

Universidades para o povo? Nunca.

Para que, se eles têm Harvard para aprender a sociologia branca estadunidense e jamais para compreender as grandes deformações da sociedade brasileira e, com isso, engendrar políticas públicas capazes de emancipar milhões da pobreza no sentido de assegurar a prosperidade material e espiritual do conjunto do povo brasileiro e, assim, alimentar nossas vidas de humanidade e felicidades.

O problema dessa turma é o povo e, concomitantemente, quem representa e organiza o povo para enfrentar os desafios do futuro.

Por isso é que o Lula e a Dilma são tão odiados pelos ricaços e os nortistas e nordestinos ganharam o nefasto “posto” – na verborragia de FHC – de ignorantes ou desinformados.

Para eles as massas devem estar em silêncio, desorganizadas, desunidas, dependentes de políticos desonestos.

O próprio jornal que eles escrevem pode ser perigoso porque, por eles, só a casta deveria ler como na Idade Média. E, como tal, preparam enormes fogueiras.

O perigo da façanha deste clubinho seleto é o de estar pavimentando a liquidação do Estado Democrático de Direito.

Conheço há muito esta ladainha e não posso calar-me.

Aliás, onde estavam os redatores dos editoriais da Rede Globo quando a tortura era oficializada no gabinete da Presidência da Republica?

Decerto comungavam, como inimigos das liberdades públicas, da mercurial frase que condenou uma geração aos porões na edição do AI-5: “Às favas os escrúpulos da consciência”.

Falo isso porque nasci na prisão, sei bem da história.

Quem dá guarida ao ódio ceva infames ideólogos das quarteladas, das noites de medo e do pau-de-arara.

Para levar a cabo o que pensam eles dizem ter pavor e devem mesmo ver ou escutar fantasmas, talvez pelos gritos daqueles que foram torturados e desapareceram, seja nas matas do Araguaia ou na Barão de Mesquita.

Limito-me a dizer que estes editorialistas são os sanguinários da palavra, espécimes de pensadores muito em voga em tempos onde assistimos, na vida nacional, a ascensão daqueles que sempre foram humilhados, seja pelo abandono, seja pela fome ou o preconceito.

Poderiam, pelo menos, ter uma pena mais elegante e mirar-se em Paulo Francis. Poderiam, pelo menos, utilizarem-se da linguagem subliminar e apetrecharem-se da discrição. Mas não, são afoitos.
Às vezes percebo que é por puro desespero, afinal, o governo atual, da Presidenta Dilma, pode avançar para finalmente não lhes servir mais. Assim se coloca na ordem do dia a democratização dos meios de comunicação e o fim do reinado dos Marinhos e Civitas.

O que eles querem é a inquisição. Para isso se apetrecham do lacerdismo como fonte inspiradora e repetindo o passado anseiam sugerir o futuro. Perigoso, não?

O problema dos sanguinários da palavra é que eles infundem de convicção outros sanguinários. Falo isto porque certa vez, meu pai, num pronunciamento na Assembleia Legislativa do Pará, nos longínquos anos oitenta, afirmou que “preferia perder a própria vida que a identidade”.

Depreendi desta lição que há dois tipos de morte, a moral e a física. O que os editorialistas pretendem é, certamente, encorajar um desastre que pode ensejar isso sim, um sério dano para a nossa vida democrática.

Essa contenda tem dimensões históricas e se projeta no leito caudaloso na brutal, porém extraordinária formação social do povo brasileiro, como nos ensinou Darcy Ribeiro.

Alguns, mesmo na esquerda, creem que tudo é tragédia e não é. O povo brasileiro venceu a preagem indígena, os navios negreiros, até os brancos aqui, os iniciais, eram degredados.

E tudo foi se gestando de tal forma que somos diferentes de tudo que há no mundo, um povo novo, uno, e nossa unidade foi fazer com que esse imenso território, essas florestas pulmonares, estes rios que se perdem na paisagem, os litorais do sem-fim, as multitudinárias esperanças, nossos bichos, enfim, tudo desta civilização brasileira é obra da nossa capacidade criativa de resistir através dos séculos.

Para os convivas da casa grande nada mais ameaçador que os batuques da senzala.

O povo brasileiro é obra de um milagre que a elite jamais entenderá, por isso que devemos travar o bom combate, quem não entende, quem não desvenda, domina por certo tempo, mas não domina por todo o sempre.

Aqui termino com a convicção de que vivemos numa batalha de dimensões históricas e a eleição de Dilma, passa, sobretudo, pela capacidade e ousadia de enfrentar aqueles que ainda se julgam donos das mentalidades e das almas do povo brasileiro.

Vencer a Rede Globo, elegendo Dilma, será nosso passaporte para manhãs ensolaradas e colocará, em definitivo, o Brasil no rumo do progresso e da prosperidade social.

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