quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Contraponto 15.314 - "Será a covardia uma espécie de herança moral dos direitistas?"

 
Brasil 247 -



Querem que os militares façam para eles o serviço sujo. Como faziam os capatazes, os feitores, os senhores de escravos e seus capitães do mato em tempos idos


LULA MIRANDA

Lula MirandaSão inúmeros os exemplos de covardia da classe dominante, ou seja, dos conservadores ao longo da história: contra os inconfidentes, contra os sem-teto, os sem terra, os indígenas; contra os negros, os judeus, as mulheres, os homossexuais; contra o ímpeto mudancista da juventude e dos estudantes em tantas ditaduras, aqui e mundo afora etc. 
Mas vamos a alguns episódios emblemáticos, mais recentes e “ordinários”, cotidianos, desprezíveis, mas reveladores, ocorridos nos dias que correm, aqui mesmo na nossa pátria mãe gentil. 

Primeiro, tivemos o caso do artista Lobão que “amarelou”, para utilizar uma linguagem mais palatável aos mais jovens, quando Mano Brown, ícone do rap brasileiro, chamou-lhe às falas. Lobão foi, digamos assim, “prudente” ao se acovardar. Pois, sabemos, o ex-roqueiro e atual candidato a líder dos reacionários é o eterno garotão irreverente egresso da Zona Sul carioca, criado a pão de ló e muito, muito leite condensado. Já Brown é, como sugere a alcunha, “mano”. Foi criado – talvez fosse mais honesto dizer, sobreviveu – nas quebradas da periferia de São Paulo. Um criado e educado na opulência; outro, na mais absoluta precariedade e insegurança. Essa distinção, por si só, já diz muito, quase tudo. Porém, é forçoso dizer, não faltou coragem nem argumentos a Brown para encarar o embate, digo, o debate.

Recentemente, Diogo Mainardi, ex-enfant terrible da revista “Veja”, dirigiu-se aos nordestinos utilizando-se dos impropérios usuais que povoam o imaginário e o vocabulário das elites conservadoras de fato, e dos incautos que se supõem (ou se pretendem) integrantes dessa mesma elite. Teria chamado os meus conterrâneos nordestinos de “bovinos”, “retrógrados” e “gente pouco instruída”, ou algo nessa linha, utilizando-se sem pejo de qualificativos ou expressões reveladores de abjeto preconceito de classe e outras mazelas do pensamento e do caráter. 

Ato contínuo, levou uma reprimenda de um célebre paraibano, o incrível Hulk – não o personagem da Marvel Comics, claro, mas o jogador de futebol que defendeu a seleção brasileira. Mainardi, que não bate assim nenhum bolão e nunca se destacou em nenhuma seleção, foi também prudente, diga-se, ao pedir desculpas na TV, ao vivo e em cores. Afinal, Hulk faz jus ao apelido e é incrivelmente forte, corpulento, intimidador. E o arauto do conservadorismo, diretamente de Veneza, falou uma sandice inacreditável e não é assim, digamos, um forte. Por mais esta sandice, irá responder a processo no Ministério Público. Pois, avise-se ou se relembre aos navegantes, vivemos dias em que não se pode, impunemente, injuriar ou ofender as pessoas, ainda mais com essas inacreditáveis diatribes que evidenciam cacoetes de racismo, xenofobia e outros preconceitos improváveis.

No período eleitoral um cadeirante, o blogueiro Enio Barros Filho, foi agredido porque usava na camisa um broche no formato da estrelinha do PT. Veja como são “valentões” esses conservadores!
Agora, também recentemente, um milheiro de reacionários (alguns contestam, dizem que foram dois milheiros e meio) desfilou seu corso infame pela Avenida Paulista, em SP, pedindo intervenção militar no Brasil. E por que clamam pela intervenção dos militares no Brasil? Por que não intervêm eles mesmos, mas no plano institucional? Por exemplo, elegendo um candidato que represente as suas ideias (ou a falta destas) para o País, ou mesmo se engajando em algum partido que represente ou dê guarida a suas supostas “reivindicações”. Por quê?

Porque são covardes. Simples assim.

Procuram, sem rumo, um atalho, o caminho mais fácil, o descaminho.

Querem que os militares façam para eles o serviço sujo. Como faziam os capatazes, os feitores, os senhores de escravos e seus capitães do mato em tempos idos. Como faziam os milicos nos tempos da ditadura: prender, torturar, silenciar e/ou matar quem ousasse divergir e pensar diferente.

Aos direitistas lhes apraz a covardia. 

Talvez sintam falta dos tempos em que testemunharam calados a tortura de jovens (e até de senhores já grisalhos!) nos porões da ditadura. Os covardes e os sádicos provavelmente gostariam de ver novamente, silentes e cúmplices, mulheres, algumas grávidas, serem seviciadas e torturadas, das maneiras mais bárbaras e aterradoras – não entro em detalhes em respeito à memória das que morreram na tortura e das que sobreviveram à dor, à humilhação, ao escárnio e ao vilipêndio. Algumas hoje são ministras de Estado e, veja bem, uma até conseguiu chegar à Presidência da República. Agora reeleita.

Mas é exatamente esta que os reacionários pretendem derrubar em sua sanha maldita, infame, covarde. Os covardes já clamam pelo impeachment da presidente.

Covardes!

Covardes!!! – reitero.

Os militares, em consonância com os tempos modernos, sabem de cor e salteado a lição que aprenderam com a nova ordem mundial, com as novas gerações (de militares, inclusive) e com os novos tempos: o respeito aos direitos humanos é pedra fundamental para se edificar qualquer sociedade que se pretenda civilizada.

Os militares de hoje, é preciso que se reconheça e louve, compreendem o seu importante papel na sociedade: trabalham em obras do PAC, em campanhas de vacinação, nos programas sociais do governo, em missões de assistência humanitária, dentro e fora do país. O exército está plenamente integrado à cidadania e à democracia. E dá o exemplo. Faz a sua parte.

Mas... 

O querem esses reacionários? O que desejam? O que pretendem?

Qual o papel desses indivíduos numa sociedade moderna? Um “papelão”? 

Que exemplos pretendem dar? Quais as suas demandas?

São “ativistas de hospício”; loucos militantes abnegados da falta de razão e senso? Necessitam de auxílio psiquiátrico?

Porque aos que loucos não são...

Já não lhes basta morar nas melhores casas, apartamentos ou bairros? 

Já não lhes é suficiente comer as melhores comidas, almoçar ou jantar nos melhores restaurantes?

Já não lhes basta que seus filhos estudem nas melhores escolas e universidades?

Já não lhes é o bastante, aos brancos bem nascidos, serem detentores de algo em torno de 80% da renda; não lhes basta receberem os melhores salários e empregos?

O que querem mais os reacionários? 

Querem impedir os avanços da sociedade – no âmbito da economia, da justiça social, mas também da moral e da cultura?

Não querem que fiquemos nem com suas migalhas? Pois são contra a “esmola” (segundo a sua retórica contaminada pelo ódio e pela intolerância) do Bolsa Família.

São covardes e caretas os reacionários! 

É uma gente infeliz.


 
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Um comentário :

  1. Nobre Miranda,

    Brilhantíssimo texto.

    Quanto à série de perguntas no final, uma resposta simplista e simples: são uns idiotas atendendo bovinamente - está em voga - as ordens do império do north. Só que não sabem. Não são dotados de inteligência o bastante para verem isso.

    Acham também que é bonito trabalhar - nós os pobres evidentemente - para sustentar os red necks ....

    Abraços
    José Sabino
    O Pueril

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