quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Contraponto 15.961 - "Requião: Esqueçam do impeachment, que Eduardo Cunha não vai facilitar para o PSDB"

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05/02/2015


 Requião: Esqueçam do impeachment, que Eduardo Cunha não vai facilitar para o PSDB


Jornal GGN - qui, 05/02/2015 - 18:34 Atualizado em 05/02/2015 - 18:42


Cíntia Alves


Em entrevista exclusiva ao GGN, o senador Roberto Requião afirmou que o PMDB deve romper com o PT e lançar um candidato a presidente em 2018. "O sonho de Eduardo Cunha é ser esse candidato", disse





Jornal GGN - "Esqueça dessa história de impeachment", diz o senador Roberto Requião (PMDB). O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara, "não vai facilitar nada para o PSDB tomar o poder" das mãos da presidente Dilma Roussef (PT), acrescentou o ex-governador do Paraná, na manhã de quarta-feira (4). Segundo Requião, "o partido de Eduardo Cunha chama-se Eduardo Cunha" e sua intenção é ser "hegemônico" dentro do PMDB, com um único objetivo: ser candidato a presidente da República em 2018.

Em entrevista exclusiva ao GGN, Requião afirmou que existe um "sentimento" dentro do PMDB fomentando o rompimento definitivo com o PT, em um futuro não muito distante. E o senador, que já tentou ser o presidenciável do partido em outras oportunidades, é um defensor declarado desse divórcio. "Cá entre nós, a finalidade de um partido é esta, (...) lançar um candidato em todas as instâncias públicas", disse ele. Durante a última campanha eleitoral, o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, admitiu que há um "sentimento patriótico" nesse sentido.

Sem destacar as lideranças peemedebistas com maior potencial para concorrer ao Palácio do Planalto, Requião apenas alertou: "O sonho de Eduardo Cunha é ser esse candidato". E ele construirá esse caminho, mesmo que tenha de passar o trator sobre outros caciques do PMDB.

Confira a entrevista abaixo.


Jornal GGN: Senador, o que o senhor achou do parecer do jurista Ives Gandra Martins, levantando a hipótese de impeachment da presidente Dilma por culpa no caso Petrobras?

Roberto Requião: Aquilo é besteira! O parecer não tem sentido algum porque um impeachment é um juízo político. O [ex-presidente Fernado] Collor foi impeachmado pelo Congresso e absolvido pelo Supremo. É um juízo político. A rigor, tecnicamente, só seria cabível um impeachment com prova de dolo [participação intencional em crimes]. Eles estão criando um pensamento subsidiário do domínio do fato, o suposto domínio do fato.

GGN: O senhor acha que Dilma corre o risco de enfrentar esse processo de cassação agora que Eduardo Cunha preside a Câmara?

Requião: Não, acredito que não. O Eduardo Cunha, veja bem, o pessoal está entendendo mal Eduardo Cunha. O partido de Eduardo Cunha chama-se Eduardo Cunha. Cunha não vai facilitar nada para o PSDB tomar o poder. O projeto de Eduardo Cunha é ser absolutamente hegemônico no PMDB, afastar [a liderança do vice-presidente da República Michel] Temer e os outros, e tomar conta da República. A vocação é presidencial, a desse rapaz. Ele nunca vai forçar o impeachment para o PSDB e esse pessoal tomar conta do governo. Ele quer o reforço do PMDB dele.

GGN: Para isso, ele teria que isolar algumas lideranças, como o próprio presidente do partido, Michel Temer…

Requião: Exato. Ou tratorar.

GGN: E como seria isso?

Requião: Na próxima convenção do partido, que acontece no final do ano, afastar os comandos dos diretórios e ter o domínio do processo [para chegar a presidente nacional da legenda]. Este é o objetivo de Eduardo Cunha: controlar o PMDB, não o de entregar o impeachment da Dilma de bandeja para o PSDB. Portanto, esqueçam dessa história de impeachment.

GGN: Eduardo Cunha deu uma entrevista ao Estadão essa semana, deixando no ar que se houver sequelas da disputa acirrada com o PT pela presidência da Câmara, essa sequela será política. Ele indicou que caberia ao PMDB discutir, internamente, o rompimento definitivo com o PT com vistas à eleição de 2018.

Requião: Tudo isso é crível. Há esse sentimento dentro do PMDB, de lançar um candidato em 2018, não se subordinar mais ao PT. Cá entre nós, a finalidade de um partido é esta. O contrário é que é um pecado político. E esse erro vem sendo cometido [pelo PMDB] há muito tempo.

GGN: E quem seria o nome do PMDB para 2018?

Requião: O sonho de Eduardo Cunha é ser esse candidato.

GGN: E o senhor acredita que ele conseguirá?

Requião: Vamos ver como o negócio prossegue. Ninguém pode acreditar nem desacreditar de nada.

GGN: Alguns analistas destacam o Eduardo Paes [prefeito do Rio de Janeiro] como uma liderança peemedebista com potencial para ser candidato a presidente. Como o senhor avalia essa indicação?

Requião: Isso é o grupo do PMDB do Rio de Janeiro. Eu mal conheço esse Eduardo Paes…

GGN: E quanto a sua pretensão de ser candidato a presidente pelo PMDB?

Requião: Eu já tive duas vezes essa pretensão. Em uma delas [1998], o partido decidiu apoiar [a reeleição] de Fernando Henrique Cardoso e, na outra [em 2010], apoiou a Dilma. E eu também. O que eu acho é que a função política de um partido é lançar candidato em todas as instâncias públicas e, excepcionalmente, fazer uma composição.

GGN: Como está o clima no Congresso depois da reeleição de Renan Calheiros no Senado e da vitória de Eduardo Cunha na Câmara?

Requião: O clima acirrado está mais na Câmara. Lá, o que aconteceu foi o seguinte: Joaquim Levy [ministro da Fazenda] tirou de Dilma a votação que ela teria entre o eleitorado progressista do PT e PMDB. E a oposição continuou sendo a oposição. Na minha opinião, quem ganhou a eleição para a presidência da Câmara foi Joaquim Levy.

GGN: O que aconteceu, então, foi que alguns deputados não receberam bem a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda? A insatisfação não teria sido com indicações para outros ministérios? Uma reforma ministerial que não agradou a todos.

Requião: Não, não. Se a questão fosse a reforma ministerial, a indicação de ministros, o candidato de Dilma teria 90% dos votos. A Kátia Abreu [ministra da Agricultura] daria adesão da bancada ruralista, que é significativa na Câmara. Não foi o que aconteceu. O que aconteceu foi o desencanto com a nova orientação do governo. O termo certo é insatisfação [com a condução da política econômica]. Eles acham que não há espaço para um apolítica desejada por eles. Os que votaram na Dilma estão decepcionados. O que você acha, por exemplo, que eu estou pensando de escolherem pessoas do mercado para o Conselho de Administração e direção da Petrobras? Qual é a nova Petrobras que estão anunciando? Um instrumento de drenagem de recursos na mão da banca privada e rentistas? Não é mais a empresa estratégica do Brasil? É a empresa a serviço do capital vadio?

GGN: Mas faz sentido, senador? Como que alas progressistas do PT e PMDB, por insatisfação com as escolhas de Dilma, ou a indicação de Levy, votaram justamente em Eduardo Cunha, sabendo que ele é, no mínimo, um grande defensor de agendas conservadoras?

Requião: Eduardo Cunha era a contraposição ao Chinaglia, que seria a correia de transmissão das ideias do governo. Eduardo Cunha oferece espaço. Eles não são [do time de] Eduardo Cunha. Eles queriam deixar claro que são contra a oficialização da política do governo.

GGN: No Senado, Luiz Henrique tentou impedir a reeleição de Renan Calheiros para presidente e conseguiu 31 votos [seis a mais do que somam os partidos de oposição ao governo]. O senhor acha que esses 31 senadores vão se juntar durante a legislatura para formar um bloco de oposição maior do que Dilma enfrentou entre 2010 e 2014?

Requião: Não, o Luiz Henrique é do PMDB também. E o Senado é menor, mais sensível a pressões do governo. A presidência do Senado e da Câmara apenas presidem. No caso de um impeachment, quem decide antes é o plenário. A soberania é do plenário! A imprensa fica estabelecendo teses, mas ninguém se subordina ao Eduardo Cunha. (...) A Mesa Diretora não pode tudo. No máximo, conta com a leniência do plenário.
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