Eduardo Cunha retomou a agenda que tem imposto ao Congresso desde que
a assumiu a presidência da Casa. Uma emenda que englobava os principais
pontos do PL 4330, que autoriza a terceirização dos empregos em
qualquer tipo de atividade, foi aprovada no início desta noite.
O resultado permitiu ao PMDB e aos partidos de oposição festejar uma
vitória que, na visão de diversos analistas — inclusive este que aqui
escreve — parecia ameaçada pela pressão dos sindicatos e pelo
desconforto de boa parte do plenário em votar contra uma conquista
histórica dos assalariados brasileiros, a CLT.
A vitória foi menos retumbante do que se pode imaginar, porém. O
emendão foi aprovado por 232 votos contra 203, diferença real mas
apertada, equivalente a 3% do plenário (seriam 513 votos se todos
parlamentares estivessem presentes).
“Com quinze votos a mais, a Câmara teria invertido o placar e
derrubado a proposta de terceirização” disse o deputado Alessandro Molon
(PT-RJ) ao 247, logo após a votação terminar. Em comparação com a
primeira votação, há duas semanas, os adversários do PL 4330 cresceram
50% e os apoiadores encolheram 40%. Depois que o emendão foi aprovado,
Molon colocou uma questão de ordem oportuna: sugeriu que o plenário
pudesse votar, como destaque, a questão essencial quando se discute a
terceirização — saber se ela deve englobar a atividade-fim de uma
empresa, ou apenas a atividade-meio. Caso a votação fosse realizada,
cada parlamentar presente seria forçado a se posicionar sobre a questão
principal. Na prática, era uma janela para os aliados menos convictos da
terceirização mudar de lado. Exatamente por isso, Eduardo Cunha
rejeitou a proposta de Molon. Cunha também prestou um favor essencial
aos parlamentares alinhados com o PL 4330 e um desfavor ao eleitor: não
abriu o voto de cada deputado, o que permitiria todo mundo saber quem
votou de que forma numa decisão essencial — talvez a mais essencial em
muitos anos — para o conjunto dos brasileiros.
É sintomático que, tão ativos em outras oportunidades, não havia
aqueles grupos que pregam a transparência total nas decisões do
Congresso.
Dá para desconfiar porquê, certo?
O reforço da bancada favorável a terceirização ajuda a recordar que o
debate em torno do PL 4330 está longe de ser uma discussão banal.
Envolve o grau de civilização que o Brasil foi capaz de atingir no
universo do trabalho — que, como sabemos desde a invenção do
capitalismo, costuma determinar as outras esferas da vida em sociedade.
Estamos falando de interesses enormes e benefícios gigantescos que se
consolidaram de 1943 para cá. Se forem suprimidos de uma hora para
outra, como prevê o projeto de lei, esses ganhos acumulados e
multiplicados ao longo de 70 anos irão trazer uma perda incalculável
para o padrão de vida dos assalariados — algo que vai muito além de sua
renda monetária — e um ganho na mesma proporção para empresários e
investidores. Estamos falando de um duelo gigantesco, talvez a mais
dramática e profunda disputa direta entre classes sociais em anos
recentes em nossa história.
Ninguém imagina que, nas próximas semanas, que tem o 1 de maio no
horizonte, serão dias de calmaria para os sindicatos e os movimentos
sociais. Ao contrário de outros conflitos mais específicos, o risco é de
um ataque geral aos direitos dos assalariados — razão mais do que
palpável para uma resposta a altura.
Não se trata de um conflito para se resolver num fim de semana,
portanto. Depois do debate na Câmara, o PL 4330 irá ao Senado. Ali, pode
ser aprovado, emendado ou mesmo rejeitado, isto é, recusado de forma
terminal. A fase seguinte seria a sanção ou veto presidencial. Caso a
presidente resolva vetar o projeto, atendendo a uma campanha que não
parou de ganhar corpo no Congresso e nos movimentos sociais, a oposição
tem o direito de tentar derrubar o veto — no voto. Examinando a votação
desta noite, adversários do PL 4330 acreditam que o nucleo duro a favor
da terceirização, formado por 232 parlamentares, pode não ser tão
difícil assim de ser derrotado, caso o plenário seja chamado a
posicionar sobre um eventual veto de Dilma.
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