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16/07/2015
A lavagem da sujeira aumentou a imundície
Tijolaço - 16 de julho de 2015 | 14:06 Autor: Fernando Brito
Não é um blogueiro sujo como eu, mas o equilibrado colunista José Roberto de Toledo, do Estadão, quem descreve o festival de chantagens e pressões espúrias que tomou conta das instituições brasileira, depois que o juiz Sérgio Moro e a mídia abriram os portões do inferno para que prevalecessem as teses de que “os fins justificam os meios”, com a ressalva de que os fins, quase sempre, são também injustificáveis.
Toledo descreve um quadro que, apesar de dantesco, pouco comove a mídia nacional: tudo, nas reações dos parlamentares, está ligado à sorte das investigações sobre Eduardo Cunha, Renan Calheiros e, subsidiariamente, à dos demais parlamentares que eram, afinal, mandantes e beneficiários dos desvios apurados pela Lava Jato, entretanto conduzida com foco no Executivo ao qual eles aderiram e sugaram como carrapatos.
“O alvo final da reação é o governo. Projetos importantes para o Executivo viram, automaticamente, moeda de troca para tentar diminuir a pressão sobre os congressistas. As medidas para controlar os gastos públicos e, mais à frente, tentar retomar o crescimento da economia passam a enfrentar resistência dobrada tanto da oposição quanto de supostos aliados. Ministro da Fazenda, Joaquim Levy coleciona desaforos. Mas não só ele.” – escreve Toledo em seu artigo “Quando setembro chegar“, no Estadão de hoje.
A convocação de Cardozo ao Congresso, diz ele, “esconde o jogo real dos donos do Congresso: impedir a recondução de Rodrigo Janot como procurador-geral da República. Talvez o 14 de Julho (nota do Tijolaço: data da queda da Bastilha) de Janot – que já investira contra Renan Calheiros (PMDB) e, na terça-feira, voltou-se contra Fernando Collor (PTB), Fernando Bezerra (PSB) e Ciro Nogueira (PP), entre outros – tenha sido sua guilhotina. Se for barrado, o procurador já tem uma boa explicação: terá sido cassado por sua caça”.
Sim, porque Janot depende de Dilma – o que é simples, dada a notória inocência pessoal da Presidenta em todo este imbróglio -, mas depende também dos votos dos nada inocentes senadores da República:
“Mesmo que esteja entre os mais votados pelos procuradores, Janot ainda precisa ser indicado por Dilma Rousseff e aprovado pelos senadores (14 dos quais ele investiga). Isso acontecerá em setembro, quando termina seu mandato. No calendário dos salões e balcões brasilienses, setembro é o mês em que a presidente estará lutando por sua cadeira. Será logo após a Câmara confirmar a eventual reprovação de suas contas – o que, em tese, permitiria a abertura de processo de impeachment contra Dilma.”
“Será sob essa lâmina que ela terá que tomar a decisão de apresentar ou não o nome de Janot para o Senado referendar. Se não o fizer, Dilma arcará sozinha com todas as acusações de tentativa de abafar as investigações da Lava Jato. Se peitar os aliados do PMDB, fragilizará ainda mais sua já precária situação no Congresso e poderá somar contra si os fatais 342 deputados – número mínimo de votos para impedir o presidente da República. E, mesmo assim, Janot ainda poderia ser indeferido pelo Senado.”
É possível perceber que a vontade eleitoral de mais de 100 milhões de brasileiros depende agora de dois colégios eleitorais, o dos senhores procuradores e o dos senhores parlamentares, que decidem a sorte do país?
E como são isentas estas figuras, mostra Toledo:
“( há)um movimento articulado de sobrevivência dos presidentes das duas Casas, de dezenas de deputados e senadores investigados e de centenas de outros que devem ser implicados na Lava Jato.(…) 199 deputados estaduais, 178 deputados federais, 17 governadores e 16 senadores têm financiadores de suas campanhas eleitorais presos pela Polícia Federal.”
No total, “os empreiteiros detidos doaram R$ 64 milhões para deputados federais e senadores eleitos” – e estamos falando do declarado – que poderão se tornar “propina” ao bel-prazer das delações premiadas, que ganharam, como se sabe, chancela de “verdade absoluta” desde que Moro, os vazamentos das investigações e a ânsia de atingir o governo fizeram abandonar toda a prudência com que deveriam ser tratadas, por virem de gente que se assume criminosa.
A pretexto de combatermos a corrupção, o Brasil tornou-se refém das chantagens – leiam o Paulo Henrique Amorim sobre os votos misteriosamente “virados” no TCU -, de ambições, de jogos de impunidade e de absoluta indiferença com o interesse público, com nossas instituições envolvidas num jogo de suicidas que ameaça matar a própria institucionalidade democrática.
A criança da democracia jogada fora com a água do banho em meio ao chiqueiro.
A lavagem a jato do Brasil virou só lavagem, aquela que alimenta os porcos, refocilando sobre a República.
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