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19/07/2015
Na moda de colorir, por Janio de Freitas
Jornal GGN - dom, 19/07/2015 - 09:21 Atualizado em 19/07/2015 - 09:22
A direção mudou. Mas não muda o peso de verdade dado a umas poucas
palavras acusatórias vindas, sem provas ou indícios, de pessoa com
idoneidade inatestável. E as instituições políticas se abalam,
jornalistas falam de futuras retaliações e derrubadas entre Câmara e
Presidência, políticos espertalhões pensam em um acordo de compensações
com impeachment de Eduardo Cunha e impeachment de Dilma. Claro, Estado
de Direito e democracia à brasileira.
Tudo que se passou na política desde a segunda posse de Dilma
Rousseff esteve, e está, condicionado pelo retorno ao poder do grupo
Collor, ocupante das presidências de Senado e Câmara com Renan Calheiros
e Eduardo Cunha, discípulo que encantou PC Farias. É apenas lógica a
volta do próprio Fernando Collor à projeção, acompanhado, entre outros,
de Pedro Paulo Leoni Ramos, que foi o seu encarregado de neutralizar a
rede de informações e negócios do SNI, para maior tranquilidade das
transações colloridas.
Deputados e senadores, com exceções exíguas, outra vez aceitaram
bem o domínio e as práticas do collorismo. Associação, e em muitos casos
sujeição, bem ilustrada no silêncio de Aécio Neves e do PSDB, capazes
de pedir na Justiça a cassação do mandato presidencial com base em uma
frase de delação premiada, mas emudecidos quando a mais grave das
acusações a políticos cai sobre Eduardo Cunha.
Essa situação de Câmara e Senado não precisará esperar a
comprovação ou negação da culpa de Eduardo Cunha para receber efeitos
políticos importantes. Tanto mais que ele sentiu o golpe. Sua resposta
de superioridade quando esteve na expectativa de uma visita policial
substituiu-se, em apenas 24 horas, por um jorro de agressões patéticas,
evidência de tombo e descontrole. Eduardo Cunha não imaginaria, a sério,
que o governo dirija o procurador-geral da República, nem Rodrigo Janot
obrigou delator algum a difamar Eduardo Cunha. Nem o juiz Sergio Moro
detém indevidamente o inquérito em que Eduardo Cunha é acusado da
extorsão de US$ 5 milhões.
O enfraquecimento de Eduardo Cunha é imediato, embora parcial. Se a
acusação não for eliminada no recesso parlamentar, a iniciar-se amanhã,
os projetos induzidos na Câmara por seu presidente já serão recebidos,
no Senado, sem a complacência interesseira ou temerosa dada a Cunha. O
PSDB, por exemplo, não será o mesmo da semana passada.
Citar Eduardo Cunha já é meia lembrança de Renan Calheiros. O
enfraquecimento de um alcança o outro. Mas na Câmara é que a provável
permanência da acusação tem o maior campo de influência. Cunha adiou
para agosto a votação final de alguns projetos, convencido de que os
deputados voltarão radicalizados pelos eleitores. Mas as aprovações
obtidas por Eduardo o foram acima de tudo por suas manobras e
articulações. No caso de seu enfraquecimento, a esperteza encontrará, no
mínimo, um ambiente incerto.
Para completar, a situação de Eduardo Cunha é muito mais complicada
do que o enfrentamento a uma afirmação breve de delator bem premiado.
Ele o prova, descontrolado a ponto, por exemplo, de desmentir-se em
apenas horas. Mal acabara de repetir que passar à oposição –na qual, de
fato, sempre esteve– não influiria na conduta de presidente da Câmara,
correu a aprovar duas CPIs contra o governo. Na porta do recesso.
Desespero raivoso é isso aí.
BRASIL BRASILEIRO
Música é também história. Franklin Martins faz um passo a passo do
Brasil político, ao longo do século 20, por intermédio de um
levantamento do Brasil musical, com notas complementares. Boa ideia e
leitura, além de divertida, sonorizada com a reprodução de gravações
originais: "Quem foi que inventou o Brasil?" (Nova Fronteira).
Lilia M. Schwarcz e Heloísa M. Starling fazem uma crônica
biográfica do Brasil com largueza temática e disposição de veracidade
muito enriquecedoras. Até porque às vezes você discutirá com as autoras.
Mas será levado a fazer ou aprimorar sua visão deste país que está sob
seus olhares sempre e forçosamente estarrecidos, com o bom e com o
restante. "Brasil: Uma Biografia" (Companhia das Letras).
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