03/08/2015
Petróleo e mar de lama
Laurez Cerqueira
Na Era Vargas, as "três irmãs" Texaco, Shell e Esso, que vendiam gasolina e óleo diesel para o Brasil diziam que no Brasil não tinha petróleo.
Elas praticamente bancavam a imprensa da época com os mais gordos anúncios. E a imprensa repetia o que elas diziam à exaustão.
O melhor exemplo disso é o Repórter Esso, da Rádio Globo, uma espécie de porta-voz da velha UDN, que foi ao ar pela primeira vez em 28 de agosto de 1941, para atacar Getúlio Vargas e seu governo.
O prefixo do programa, por incrível que pareça, era: "um serviço público da Esso Brasileira de Petróleo".
Eis a última transmissão do famoso Repórter Esso, em 1968, no governo do ditador general Costa e Silva: https://youtu.be/cIgSWgWH2kg
Ao criar a Petrobras, Vargas desafiou o conluio das petroleiras com a imprensa golpista. O ódio da imprensa veio imediatamente destilado em manchetes garrafais contra ele.
Entre os inúmeros ataques, o jornal O Estado de São Paulo guarda em seus arquivos um memorável editorial, radicalmente contrário à criação da Petrobras. Uma pérola da imprensa golpista.
Vargas, homem sóbrio e de moral rígida, que nunca ostentou riqueza, foi atacado dia e noite, sem trégua, com acusações de corrupção.
O governo dele foi rotulado de "mar de lama" pelos jornais e rádios da época. Virou chacota nos bares de esquina.
Se quiser conferir vá ao Centro de Documentação e Informação da Câmara, ou a outros arquivos, e peça para ler os jornais da época. Vale a pena, para ver a semelhança com o que estão fazendo com Dilma e Lula.
Acuado pelos ataques da UDN, de seu líder maior, Carlos Lacerda, da imprensa golpista que servia a ela, arrasado moralmente pelo massacre de notícias levianas, Vargas se matou. Mas, certamente para alertar as gerações futuras, como as de hoje, deixou registrado na carta-testamento: "Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma."
Hoje assistimos no Brasil a uma disputa gigantesca na área do petróleo. O Brasil está ameaçado na geopolítica do petróleo.
Foi no governo Lula que se revelaram as informações sobre as imensa jazidas de petróleo do pré-sal e foi feita a Lei que coloca a Petrobras no controle da produção.
Outra Lei, sancionada por Dilma, destina 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde. Esse montante de recursos vai se somar às demais fontes para complementar o percentual de investimentos, de 10% do PIB na educação, previsto na lei que instituiu o Plano Nacional de Educação, em 2014.
No governo Fernando Henrique, tentou-se privatizar a Petrobras com pré-sal e tudo mais. O sindicato dos trabalhadores da empresa conseguiu barrar a sanha privatista com um movimento contrário fortíssimo.
Note que o conluio petroleiras e imprensa parece estar de volta com a ladainha de que tem que revogar a Lei que estabelece o controle da produção de petróleo pela Petrobras.
O Senador José Serra já apresentou o projeto de lei no Senado para revogar a Lei de Dilma. Na cara dura.
Aécio Neves e seus aliados estão chamando o povo para a rua. Eles querem o golpe. Mas um golpe cirúrgico, parlamentar ou judicial. Um golpe "paraguaio". A conspiração está em curso.
Eles não querem saber de militares. Militares, para eles, são coisa velha. Militares são nacionalistas. Com eles não dá. Como vender a estatal símbolo do nacionalismo brasileiro, uma estatal conquistada com o grande movimento "O Petróleo é Nosso", liderado pela União Nacional dos Estudantes e sindicatos de várias categorias profissionais e muitas outras entidades civis?
Eles têm Globo, Folha, Correio Braziliense, Estadão, Veja, Época, Istoé, as TVs, sites e rádios sobretudo o Facebook, para conduzir a massa.
A manada está indo tão bem para o que eles querem, para que militares?
As petroleiras internacionais, penhoradamente, agradecem o serviço que certos políticos estão fazendo.
Laurez Cerqueira. Autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes - vida e obra; Florestan Fernandes – um mestre radical; e O Outro Lado do Real
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