12/04/2016
Obcecada pelo impeachment, imprensa esquece do Brasil , por Mauro Santayana
Do blog de Mauro Santayana
por Mauro Santayana
O céu era “de brigadeiro”.
Mas, para a maior parte da mídia passou
em brancas nuvens a apresentação do novo cargueiro militar KC-390 da
EMBRAER à Presidente da República, ao Ministro da Defesa, Aldo Rebelo, e
ao Ministro da Aeronaútica, Nivaldo Luiz Rossato, após viagem de Gavião
Peixoto à Capital Federal, nesta semana, na Base Aérea de Brasília.
E, no entanto, tratava-se apenas da
maior aeronave já construída no Brasil, com capacidade de transporte de
blindados, de brigadas de paraquedistas, de operar como avião-tanque
para reabastecimento aéreo de caças, ou como unidade de salvamento, em
um projeto que custou 7 bilhões de reais, em grande parte financiado
pelo Governo Federal, que teve também participação minoritária de outros
países, como Portugal, Argentina e a República Tcheca, destinada a
substituir, no mercado internacional, nada menos que o Hércules C-130
norte-americano.
A mesma indiferença, para não dizer,
desprezo, ou deliberada desinformação, ocorreu com o início do processo
de geração da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a terceira
maior do mundo, com capacidade de 11.000 megawatts, na semana passada.
Ou com a hidrelétrica de Santo Antônio,
situada no Rio Madeira, em Rondônia, a quarta maior do país, que colocou
em operação sua 39ª turbina geradora há alguns dias.
Como sempre se dá com os grandes
projetos erguidos nos últimos 13 anos neste país – e põe obra nisso –
escolheu-se dar atenção, prioridade e divulgação preferencial a aspectos
negativos, discutíveis e polêmicos como eventuais “estouros” de
orçamento, atrasos ou suspeita de corrupção, do que às próprias obras.
Projetos que, depois de prontos,
passarão a pertencer, inexoravelmente, ao patrimônio nacional e ao
domínio do concreto, da realidade – e que, querendo ou não seus
detratores – continuarão, agora e no futuro, beneficiando o país com
mais empregos, mais energia, melhora no nível tecnológico de nossa
indústria bélica e aeroespacial e da capacidade de defesa da Nação.
Bom mesmo, para essa gente, deve ter
sido o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, que, segundo o Banco
Mundial, conseguiu encolher o PIB e a renda per capita do Brasil em
dólares nos oito anos em que permaneceu à frente do Palácio do Planalto,
aumentou a carga tributária em vários pontos percentuais e duplicou a
relação dívida líquida-PIB, além de deixar uma dívida de dezenas de
bilhões de dólares o FMI, sendo obrigado a racionar energia por falta de
investimentos na geração de eletricidade — além de deixar que
desaparecessem empresas como a ENGESA, sem forjar um simples parafuso
para as forças armadas.
Naquele tempo não se discutia a suspeita
de irregularidades na construção de usinas, refinarias, plataformas de
petróleo, gigantescos sistemas de irrigação e saneamento, ferrovias,
tanques, submarinos – até mesmo atômicos – usinas nucleares, estádios,
aviões, mísseis, porque não se fazia quase nada disso em nosso país, e,
quando havia encomendas, poucas, eram para o exterior, e não para aqui
dentro.
Aludia-se, sim – muito timidamente com
relação ao que se faz hoje – à possibilidade da existência de
irregularidades na compra da emenda da reeleição no Congresso; e na
sabotagem, esquartejamento, destruição, por exemplo, de grandes empresas
nacionais, algumas delas centenárias, a maioria estratégicas, para sua
entrega, a preço de banana, para estrangeiros, com financiamento farto,
subsidiado, do BNDES.
Lembrando George Orwell — em seu
inesquecível e cada vez mais atual “1984” — o Ministério da Verdade, ou
Miniver, em “novilíngua” — formado pela parte mais seletiva, parcial,
ideologicamente engajada e entreguista da mídia brasileira — pode fazer o
que quiser — um diário chegou a trocar a foto de Dilma na cabine do
KC-390, por outra, menos “favorável”, em pleno processo de impressão da
tiragem do dia seguinte ao fato — que não se conseguirá derrubar obras
como Belo Monte, Telles Pires, Santo Antônio, ou Jirau, ou o novo trecho
da ferrovia norte-sul, que já leva soja de Anápolis ao Porto de Itaqui,
no Maranhão, ou paralisar – com a desculpa de que vão dar ou deram
prejuízo (prejuízo contábil, virtual, não interessa, afinal, dinheiro se
necessário, como fazem os EUA, se fabrica), como se não bastassem o 1
trilhão e 500 bilhões de reais em reservas internacionais que o Brasil
possui – a construção da Transposição do São Francisco ou a expansão da
refinaria Abreu e Lima, que já está processando, em sua primeira fase,
cerca de 100.000 barris de petróleo por dia.
As obras e as armas construídas, para o
Brasil, como os fuzis de assalto IA-2, ou os radares SABER, ou o Sistema
Astros 2020 – até mesmo porque as Forças Armadas não vão permitir que
esses programas venham a ser destruídos e sucateados — vão ficar, por
mais que muitos queiram que elas desapareçam em pleno ar, em uma nuvem
de fumaça ou nunca venham a ser vistos em um livro de história.
Et latrare canes caravanis transit –
ouviu, certa vez um romano, em um ponto qualquer da rota da seda, entre
as dunas do deserto do Saara.
O calendário da pátria não se mede com o ponteiro fugaz das vaidades humanas.
O que importa para o Brasil é o que fica.
No futuro, o povo saberá datar essas conquistas — separando o joio do trigo — no tempo e nas circunstâncias.
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