30/09/2017
Irmãos Marinho denunciam “ruína” da universidade pública sem mencionar uma só vez os cortes promovidos por Temer
Do Viomundo - 29 de setembro de 2017 às 20h26
Resposta dos estudantes à revista Época, dos irmãos Marinho, enviada por Rafael Gomes
A edição do último domingo, 25 de setembro, da revista Época trouxe em sua capa uma manchete que diz: “Educação em ruínas”.
A ilustração da capa deu destaque para o prédio em construção que abrigará as futuras instalações da UNILA — Universidade Federal da Integração Latino-Americana, localizada em Foz do Iguaçu.
À primeira vista, a percepção do leitor é de que a matéria irá abordar o desmonte em curso na educação, atingida com os cortes que reduziram as verbas de custeio e praticamente zeraram os recursos para investimento nas universidades, em 2017.
A UNILA é um caso destes, junto com quase uma dezena de universidades federais em implantação no Brasil, que sofrem as consequências destas medidas.
A matéria, no entanto, não dedica uma linha sequer ao efeito devastador do corte.
Critica a ampliação das vagas nas universidades públicas nos anos dos governos Lula e Dilma, aponta para o alto custo de manutenção do sistema de universidades e escandaliza o orçamento da construção do campus da UNILA.
Na ânsia de impressionar seus leitores, chega a afirmar que a área do campus possui 380 mil quilômetros quadrados, o que se fosse verdade corresponderia a uma área equivalente a dois estados do Paraná, onde a UNILA está localizada.
No subtítulo da matéria, ainda na capa, vê-se que não se trata propriamente de uma abordagem sobre educação, quando se lê: “Escolhas ideológicas e erros de gestão estão destruindo as universidades públicas brasileiras”.
Como o próprio título diz, o alvo central é a questão ideológica e o caráter público das universidades, e neste contexto, a UNILA tem sido o modelo principal a ser combatido por setores da extrema direita.
Há meses, a UNILA está sofrendo uma escalada de ataques de natureza ideológica por parte dos setores mais conservadores do Congresso e da grande mídia.
Em outubro de 2016, o locutor da rádio Jovem Pan, Marco Antonio Villa, teceu comentários contra a UNILA, esbanjando ignorância diante das nomenclaturas das disciplinas de alguns cursos oferecidos pela universidade.
O senador Álvaro Dias usou a tribuna do Senado e as redes sociais para desferir ataques contra a UNILA, classificada por ele como “bolivariana”.
Recentemente, o deputado Sergio Souza, do PMDB do Paraná propôs a extinção da UNILA e no lugar dela, a criação de uma universidade vocacionada para o desenvolvimento do agronegócio da região oeste do estado. A proposta não avançou.
A abordagem da revista Época demonstra a continuidade de uma antiga aliança entre os setores mais retrógrados do Congresso e a grande mídia para destruir o programa que expandiu e ampliou o acesso às universidades públicas brasileiras, e no caso da UNILA, deu um passo histórico na direção da integração científica e cultural da América Latina.
Se, para estes setores a UNILA é uma escolha ideológica do governo Lula, combatê-la e esmagá-la é uma questão de honra e um desafio também ideológico.
Estes algozes exercem uma patrulha semelhante à das milícias da Escola Sem Partido, como numa guerra contra o livre pensamento.
É neste terreno que a UNILA está situada, com o agravante do caráter xenofóbico que possui seus mais vorazes críticos.
A presença de estudantes estrangeiros na UNILA também é alvo de ataques de ódio praticados por agressores encorajados por alguns políticos e pelos grandes meios de comunicação de massa.
Exemplo incontestável foi o do estudante haitiano agredido enquanto seus agressores gritavam dizeres xenofóbicos e evocavam temas políticos para justificar que o estudante deveria voltar para seu país de origem.
Recentemente, uma Audiência Pública no Senado, convocada pela Comissão dos Direitos Humanos e presidida pelo senador Paulo Paim, discutiu a crise das universidades e dos institutos federais.
A Audiência contou com as presenças de representantes de entidades da educação, MEC e representantes das IES, como o reitor da UNILA, Gustavo Vieira.
O principal encaminhamento da Audiência foi o da criação da Frente Parlamentar em Defesa das Universidades Públicas em Implantação, que inclui a UNILA, a UNILAB e outras seis instituições.
A criação da Frente é uma forma de legitimar o trabalho de parlamentares alinhados com a pauta da defesa dessas universidades, como já demonstrado pelos senadores Paulo Paim e Fátima Bezerra e pelos deputados Orlando Silva e Maria do Rosário.
A defesa da universidade pública brasileira e da UNILA enquanto estratégia de integração regional está distante dos interesses corporativos dos grupos empresariais que pretendem feudalizar o sistema de educação brasileiro.
A ofensiva destes grupos se deve ao fato de que, sob a liderança de Michel Temer, é possível fazer todo o serviço sujo, como fechar UNILA a pedido de empresas agroindustriais, como a Frimesa, a Cocamar e a Lar.
Os nomes destas empresas estavam citados na justificativa do deputado Sergio Souza, quando propôs a uma Medida Provisória, a emenda que previa a extinção da UNILA.
Servindo-se de panfleto destes políticos e grupos empresariais, a revista Época bradou que os ricos devem pagar para estudar e os pobres ocuparem vagas gratuitas nas universidades públicas.
A UNILA é alternativa de universidade da integração para estudantes das periferias de diversos países latinoamericanos.
Uma das tragédias que esses países compartilham em comum são suas crianças e jovens segregados em escolas, onde os que pagam têm direito à qualidade e os que não pagam, não.
As elites que querem destruir a UNILA jamais admitiram pagar para o filho do pobre estudar na mesma escola que o filho deles.
O mesmo não fariam nas universidades.
Nós bem os conhecemos.
#UNILAfica
A família do conglomerado de mídia, por incrível que pareça, faz parte da associação do agronegócio!
Unila responde reportagem da Revista Época intitulada “Educação em Ruínas”
Carta à comunidade acadêmica
Secretaria de Comunicação Social contextualiza e detalha o atendimento de imprensa realizado à Revista Época
Em razão da reportagem veiculada pela Revista Época – com a data desta segunda-feira (25, edição número 1005) –, intitulada “Educação em Ruínas”, trazendo a obra do campus da UNILA na capa, e também em respeito aos anseios e angústias da comunidade acadêmica, a Secretaria de Comunicação Social vem a público manifestar seu posicionamento e uma contextualização da situação.
A SECOM – área técnica responsável pelo planejamento e execução das atividades de Comunicação da UNILA – sempre pautou seus trabalhos, primordialmente, nos princípios da Administração Pública: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.
Desta maneira, seu compromisso principal sempre foi para com a transparência, condição intrínseca à comunicação pública.
Neste contexto, na condição de área encarregada pela promoção da imagem institucional da Universidade, a SECOM sempre desempenhou seu papel levando em consideração as características fundamentais da UNILA: seu projeto pedagógico inovador, sua premissa básica de internacionalização, sua multiculturalidade, o bilinguismo, a promoção de uma educação inclusiva, democrática, e, por fim – mas não menos importante –, o fortalecimento do Ensino Superior público, gratuito e de qualidade.
É nesse sentido, principalmente, que se enquadra uma das atividades desempenhadas pela Secretaria: a Assessoria de Imprensa.
A área é especializada no contato com jornalistas, recebendo solicitações de informações e entrevistas, assim como atuando proativamente no envio de press-releases sobre pautas relevantes para a comunidade.
Em razão deste trabalho, a Assessoria é demandada diariamente por repórteres e editores de veículos diversos – desde redes de televisão e rádio, até portais online e mídia impressa –, e atende a todos com a mesma presteza e dedicação, sejam os veículos locais, regionais, nacionais ou internacionais.
Para se ter uma ideia, somente no segundo semestre de 2017 (considerando-se a partir do mês de julho), foram realizados 84 atendimentos, dos mais diversos níveis de complexidade – desde informações muito básicas e pontuais, até solicitações de entrevistas com professores especialistas em diversas áreas, entre outras demandas.
Cabe ressaltar que a Assessoria de Imprensa não apenas repassa dados e contatos, mas também acompanha pessoalmente as entrevistas feitas com integrantes da comunidade acadêmica, desde as imagens captadas nos espaços da UNILA, até o monitoramento posterior à veiculação das reportagens, realizando análises e gerando relatórios.
É importante frisar, também, que a Assessoria não emite juízo de valor ideológico ou político sobre os veículos e seus jornalistas, dando tratamento equânime a todos, atendendo com seriedade, transparência e profissionalismo, sem jamais buscar direcionar ou manipular as informações, respeitando, inclusive, a autonomia editorial da imprensa.
O caso da Revista Época
Antes de mais nada, a equipe ressalva que a presente nota não se trata de um ataque pessoal ou crítica à jornalista que assina a reportagem, por entender e respeitar uma colega de profissão.
Ainda assim, os profissionais de comunicação lotados na SECOM sentem-se no dever de dividir com a comunidade acadêmica um relato mais detalhado de suas atividades, bem como desenhar o contexto em que a reportagem foi realizada.
Assim, a SECOM vem a público relatar o contexto da solicitação e do atendimento jornalístico prestado:
A solicitação da Revista Época chegou no dia 11 de agosto, através da jornalista Flávia Oshima, a princípio sem uma pauta muito bem delineada. As primeiras questões foram relativas à Emenda Aditiva à Medida Provisória nº 785/2017, que estava em evidência na ocasião, além de algumas perguntas genéricas sobre a obra do campus.
Após conversas com a equipe de jornalistas da SECOM, a repórter anunciou a intenção de vir pessoalmente conhecer a Universidade. A partir de então, iniciou-se o trabalho de levantamento dos dados solicitados e organização de uma logística de atendimento, buscando fontes e agendando entrevistas que mostrassem à reportagem todo o contexto da Universidade.
Neste sentido, a Assessoria identificou as possibilidades de revelar o cotidiano do ensino, pesquisa e extensão, preparou visitas com o objetivo de mostrar, além das questões de infraestrutura, uma realidade acadêmica e pedagógica de uma universidade em pleno funcionamento, onde ocorrem diariamente trocas de saberes e a construção do conhecimento, coletivamente.
O atendimento
Estudantes entrevistados pela Revista Época
Após uma série de tratativas, a repórter finalmente veio a Foz do Iguaçu, onde realizou as visitas e entrevistas na UNILA entre os dias 22 e 24 de agosto, sempre acompanhada por um (ou mais) jornalista da SECOM.
Ela solicitou que pudesse ter contato com estudantes brasileiros e de demais nacionalidades, a fim de conhecer um grupo que representasse a diversidade da UNILA.
Agendaram-se, então, conversas com discentes – de graduação e de pós-graduação – das seguintes nacionalidades: Brasil, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Equador, Peru, e Costa Rica.
Os estudantes também representaram a diversidade de cursos, tendo sido contemplados todos os Institutos.
A conversa ocorreu de forma franca e sem censuras, oportunizando à repórter ouvir histórias de vida dos estudantes, motivações para estar na UNILA, dificuldades que os estrangeiros enfrentam ao estudar no Brasil, como é a experiência de integração e a diversidade dentro da Universidade, o acolhimento na cidade de Foz do Iguaçu, os desafios da permanência no ensino superior, os sonhos e ambições para voltar para casa após formado ou avançar em estudos de pós-graduação, entre outros assuntos.
Essas reuniões ocorreram tanto na unidade do Jardim Universitário como também no PTI, onde a repórter assistiu a uma aula em espanhol, para perceber como funciona o bilinguismo na prática.
Depois, percorreu laboratórios de ensino e de pesquisa (muitos foram fotografados), além da biblioteca.
O que ficou claro – ou deveria ter ficado, ao menos –, do ponto de vista da SECOM, foi que, mesmo não havendo espaço físico próprio, as estruturas existentes garantem, sim, o funcionamento de uma universidade em construção.
Em outras palavras, a Assessoria possibilitou que a jornalista realizasse uma verdadeira imersão no cotidiano da Universidade, sem qualquer intervenção junto aos entrevistados. A equipe acredita que as pessoas que compõem a comunidade acadêmica são as melhores e mais confiáveis fontes de informação sobre a UNILA.
Relato detalhado
Estudantes entrevistados pela Revista Época
Foram entrevistados, ao longo dos trabalhos, 11 estudantes; cinco servidores técnico-administrativos (uma bibliotecária, uma técnica em laboratório, um engenheiro, uma arquiteta e um administrador da Secretaria de Implantação do Campus); um professor estrangeiro, do curso de Engenharia de Energias; e o reitor, Gustavo Oliveira Vieira.
Cabe ressaltar que nas entrevistas foram coletados dados sobre vários assuntos ligados à Universidade, e não apenas sobre o campus.
Além disso, a repórter solicitou outros contatos, que acabou não entrevistando, sendo uma delas uma pessoa da comunidade envolvida em um projeto de extensão, e o embaixador Celso Amorim, que, a princípio, estaria em Foz do Iguaçu na mesma data para uma atividade na UNILA.
Mesmo após ter deixado Foz do Iguaçu, a repórter continuou em contato com a equipe da SECOM, solicitando informações adicionais (que poderão ser lidas na íntegra abaixo).
Para embasar as respostas, a Assessoria de Imprensa contou com o apoio de diversas áreas: Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças (PROPLAN); Procuradoria; Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD); Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) e Secretaria de Implantação do Campus (SECIC). Entre os dados solicitados, estavam informações sobre orçamento da Universidade; custo por aluno; reconhecimento dos cursos; seleção internacional; histórico da UNILA; condição social dos alunos; e detalhamento dos processos judiciais contra o Consórcio Mendes Jr e Shahin.
Além das informações encaminhadas por e-mail, foram repassados os seguintes documentos solicitados pela repórter:
Manifesto em defesa da UNILA, assinado por estudantes egressos; Relação de Locações; Croquis e fotos da obra; Relatório de Gestão 2016; Relatório da Ação Judicial do Consórcio; Informativo UNILA no território; Release de Apresentação da Universidade e Release de ações de extensão.
Troca de e-mails entre a jornalista Flávia Oshima e a Divisão de Assessoria de Imprensa
Documentos repassados
Cabe ressaltar, por fim, que em nenhum momento houve o objetivo, por parte da SECOM, de “esconder” os problemas da UNILA – até mesmo porque essa atitude iria contra os próprios preceitos de transparência elencados no início deste texto.
Mas, por outro lado, também foi realizado um trabalho, por parte da equipe, para mostrar que a Universidade não se constitui apenas de prédios e laboratórios, mas também – e principalmente – de pessoas, e que é através delas que a Universidade existe, ao contrário do que a capa da revista sugere ao estampar que a universidade “nunca ficou pronta”.
A SECOM entende que a chamada da revista induz o leitor ao erro e estampa uma manchete sensacionalista, uma vez que gera a compreensão de a Universidade nunca ter existido na prática.
Do ponto de vista dos profissionais da SECOM, a decisão editorial de simplesmente descartar todas as informações relativas ao projeto pedagógico da Universidade e focar apenas no problema do campus tem um caráter puramente ideológico e político, especialmente num cenário nacional em que determinados grupos trabalham no intuito de desmontar as Universidades Públicas.
Assim, a SECOM posiciona-se com indignação em relação à forma como a Universidade foi retratada e reitera que a UNILA não é apenas um canteiro de obras, e muito menos “um fiasco”.
A UNILA é uma instituição da qual nos orgulhamos e pela qual seguimos trabalhando com seriedade, comprometimento e dedicação, mesmo em tempos de crise.
Foz do Iguaçu, 25 de setembro de 2017
Equipe da Secretaria de Comunicação Social – SECOM
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