17/10/2017
Carone: Ministra Carmen Lúcia, até quando o STF delegará a sua função a uma elite política mesquinha, corrupta, apenas interessada em defender os próprios interesses?
Do Viomundo - 17 de outubro de 2017 às 17h36
Prezada ministra Carmen Lúcia,
Eu não tinha planos de voltar a lhe escrever, pelo menos, no curto prazo.
Mas diante da lambança monumental na sessão de quarta-feira passada (11/10) do Supremo Tribunal Federal (STF), me sinto obrigado a fazê-lo.
Lembra-se de que mensagem de 3 de outubro eu afirmei que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) iria desmoralizar o Supremo?
Infelizmente, foi o que aconteceu.
O Supremo, que se acovardou e acabou cúmplice do golpe que derrubou a presidenta Dilma, saiu ainda mais desacreditado daquela enfadonha sessão de quase 13h, que julgou se pode ou não aplicar medidas restritivas de liberdade contra deputados e senadores.
Todos nós sabemos que o julgamento dessa matéria só entrou em pauta devido ao afastamento de Aécio do Senado, decidido pela 1ª turma do STF.
Casos como o de Aécio não são novidade na história do Brasil. Aqui, a elite sempre tenta proteger-se e proteger seus confrades. Porém, tais manobras nem sempre acabam bem e as consequências podem ser graves.
Nós temos um exemplo emblemático de fato ocorrido no Estado Novo, período tenebroso da nossa história, marcado pelo autoritarismo.
Getúlio Vargas, através de decreto-lei nº 6.378, de 28 de março de 1944, transformou a Polícia Civil do Rio de Janeiro em Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP).
A DFSP nasceu serviu principalmente para abrigar de forma institucional a temida “guarda pessoal de Getúlio Vargas”, organizada por seu irmão, Benjamim Vargas.
Inicialmente, essa guarda era integrada por 20 homens de confiança, a que Benjamin Vargas recrutou em São Borja, no Rio Grande do Sul.
Porém, após a edição do decreto em 1944, Getúlio extrapolou. Em 25 de outubro desse mesmo ano, nomeou o irmão Benjamin para chefe de Polícia do Distrito Federal.
Objetivo: prender inimigos do governo e paralisar investigações que apuravam a participação de integrantes de sua família e de um membro da sua equipe em práticas criminosas.
Na época, circularam rumores de que, ao assumir a chefia de polícia, Benjamim teria dito que prenderia todos os generais que estivessem conspirando contra o governo do irmão.
Nesse clima, em 29 de outubro de 1944, Getúlio foi deposto pelo Alto Comando do Exército.
No dia seguinte, José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, assumiu a presidência da República, para transmiti-la, em janeiro de 1946, ao candidato vitorioso nas eleições, Eurico Dutra.
Ministra Carmem Lúcia, o STF já decidiu que autoridades processadas não podem permanecer na linha sucessória da presidência da República.
Como bem sabe, os presidentes da Câmara e do Senado já foram denunciados por delatores da Lava Jato por recebimento de propinas. Assim, basta esta Corte aceitar a denúncia para virarem réus e, por consequência, excluídos da linha sucessória da presidência da república.
Quando disse que para o mineiro um pingo é letra, queria alertá-la para a gravidade da situação. Assim como a questão do Aécio, outros casos extremamente sérios virão.
E, aí, se permite, uma pergunta: até quando o STF vai manter na gaveta as denúncias contra o deputado Rodrigo Maia e o senador Eunicio de Oliveira?
Caso sejam transformados em réus, pela linha sucessória, a presidência da República seria exercida senhora.
Porém, desculpe-me: a sua atuação no julgamento de quarta-feira foi deplorável. Uma desagradável surpresa.
Os seus assessores lhe mostraram memes que circularam nas redes sociais sobre a sua participação?
Imagino que não. Peça-lhes para ver.
A sua fragilidade e insegurança ao proferir seu voto, que favoreceu Aécio, ficará marcado na memória de todos aqueles que realmente lutam contra a corrupção. Lamentável.
O plenário do Senado deve decidir na sessão desta terça-feira (17/10) pelo afastamento ou não de Aécio Neves. Pelo menos, é o que está previsto na pauta.
Acredite: mais desgaste ocorrerá. Enquanto o senador tucano não tiver certeza absoluta de que o seu mandato será restabelecido pelo plenário da Casa, essa votação provavelmente não ocorrerá.
Um juiz federal e, agora, também o ministro Alexandre de Moraes, já disseram que a votação terá de ser aberta.
Ministra, se me permite, mais uma pergunta: quantas delações com vídeos e provas já se encontram no Supremo contra Aécio Neves e seu grupo e ainda não foram tornadas públicas?
Já imaginou como ficarão os brasileiros no dia em que souberem que, assim como em relação a Michel Temer, o STF tinha conhecimento de tudo sobre Aécio & Cia e permaneceu calado?
Ministra, como bem sabe, as elites, quando estão se defendendo, pouco importam com a crise que criam.
O Supremo, como guardião da nossa Constituição, não pode, em tese, se dar ao luxo de fazer o mesmo.
Só que, na prática, não tem agido assim.
O julgamento da semana passada escancarou esse absurdo.
O STF, sob a alegação de buscar o não aprofundamento da crise, acabou delegando suas atribuições constitucionais a integrantes de uma elite política mesquinha, corrupta, apenas preocupada em defender os seus próprios interesses.
Uma elite que nunca se importou com a quebra da ordem institucional, como demonstrou ao derrubar o presidente João Goulart e a presidenta Dilma Rousseff
Hoje em dia a senhora e os demais colegas STF contam a blindagem da grande mídia. Mas a história não os perdoará.
Embora com atraso, ainda há tempo de reescrever a sua.
Um abraço,
Marco Aurélio Carone
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