sábado, 11 de novembro de 2017

Nº 22.683 - "O inferno de Temer continua"

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11/11/2017


O inferno de Temer continua


Brasil 247 - 27 de Outubro de 2017


REUTERS/Ueslei Marcelino


por LEONARDO ATTUCH


Resultado de imagem para leonardo attuchGovernante mais impopular do planeta, segundo uma pesquisa divulgada nesta semana pela consultoria Eurasia, Michel Temer conseguiu mais uma vez se salvar. Graças a sua conhecida habilidade na arte de aliciar deputados, Temer escapou da denúncia por obstrução judicial e comando de organização criminosa, mas obteve uma vitória de Pirro. Sem alcançar a maioria dos votos na Câmara dos Deputados, Temer mostra ao País uma base de apoio frágil – e que tende a se esfacelar ainda mais, com a proximidade das eleições. Estar próximo a ele significa se associar a um projeto ilegítimo, impopular e fracassado diante da grande maioria dos eleitores.

Se isso não bastasse, a luta de Temer pelo poder não se esgotou. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal apressou o inquérito que investiga sua participação em esquemas de corrupção no porto de Santos – o que significa que ele ainda pode vir a ser alvo de uma terceira denúncia. Além disso, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se mostra cada vez mais insatisfeito, ainda tem 25 pedidos de impeachment engavetados contra Temer. Fechando a semana, um dia depois do livramento de Temer, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) soltou uma nota duríssima em que sugere que os brasileiros saiam às ruas para lutar contra a compra escancarada de deputados e retrocessos como a liberação do trabalho escravo nas fazendas – uma das moedas usadas na barganha da semana passada.

O enfraquecimento de Temer, agora convertido em "pato manco", não significa, no entanto, que sua capacidade de produzir danos esteja esgotada. Uma de suas próximas tarefas é privatizar a Eletrobrás, no momento em que o Brasil convive com reservatórios secos, acaba de aumentar em 43% a bandeira vermelha da energia elétrica e já enfrenta riscos de apagão. Se a situação já era precária, a segurança energética do País tende a se agravar ainda mais com a possível transferência do parque gerador nacional a grupos privados – ou a estatais chinesas.

Temer tentará ser lembrado como um "presidente reformista", mas, a este momento, já deve ter se arrependido de ter participado de uma conspiração política que fez com que o Brasil chegasse ao atual nível de degradação moral e institucional. Três de seus melhores amigos, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, estão presos e ainda o assombram. Prova disso foi a batida no Ministério do Turismo na semana passada contra três assessores de Henrique Alves, que, segundo a Polícia Federal, comandaria esquemas de corrupção de dentro da cadeia.


Metido a poeta, Temer já escreveu que embarcou em muitas naus sem chegar a lugar nenhum.

O que as pesquisas mostram é que a chamada "ponte para o futuro" foi mais uma uma dessas canoas furadas, que já se transforma em ponte para o inferno aos olhos da população brasileira.


LEONARDO ATTUCH. Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste.
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