18/11/2017
Por que o futebol é tão importante
Do Brasil 247 de Novembro de 2017

LEONARDO ATTUCH
Alguns poderão alegar que se trata de corrupção privada, sem maiores implicações na esfera pública. Nada mais falso. Como maior paixão nacional, o futebol é o grande negócio da televisão brasileira. Monopólios nas transmissões, fomentados à base de propinas e portanto de forma anti-concorrencial, garantem audiência, poder, influência e a capacidade de manipular a opinião pública e de minar a própria democracia. Segundo delatou o empresário argentino Alejandro Burzaco, os três grupos de mídia pagaram propinas de US$ 15 milhões – o equivalente a R$ 50 milhões – para garantir a exclusividade apenas nas Copas de 2026 e 2030.
Do lado da Fifa, a corrupção era fruto de seu próprio modelo de governança. Como cada país-membro tem um voto, os cartolas que comandavam confederações, como era o caso do argentino Julio Grondona, concentravam enorme poder na entidade. Era "Dom Julio", por exemplo, quem negociava os direitos de transmissão nas Américas – Burzaco agia como seu representante informal. Se a Fifa recebia menos dinheiro por dentro, os argentinos eram pagos por fora, em suas contas em paraísos fiscais.
Para os grupos de mídia, molhar a mão dos cartolas era um investimento de altíssimo retorno – uma vez que as verbas de patrocínio do futebol são as maiores do mercado publicitário. No caso da Globo, cada uma das seis cotas anuais custa nada menos que R$ 230 milhões e elas são ocupadas por grandes marcas: Itaú, Ambev, Vivo, Chevrolet, Johnson & Johnson e Ricardo Eletro. Ou seja: o futebol rende R$ 1,3 bilhão por ano a quem tem o direito exclusivo de transmiti-lo e se mantém como a grande receita cativo de grupos de mídia, que hoje perdem espaço com a ampliação de ofertas de notícias e também de entretenimento por outros meios.
Imaginar que se trata apenas de uma distorção do mercado privado é minimizar os efeitos da concentração midiática numa democracia. Nos protestos de que foram convocados pela Globo e levaram ao golpe de 2016, os manifestantes foram às ruas com camisas da CBF, hoje um símbolo da corrupção internacional, e promoveram a troca de uma presidente honesta pelo regime que hoje envergonha o Brasil diante do mundo. A propina investigada na corte do Brooklyn, em Nova York, explica parte dessa página infame da história nacional.
Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste
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