17/02/2018
Mídia estrangeira desconfia das reais intenções de Temer ao intervir no Rio
Carta Capital — publicado 17/02/2018 11h57, última modificação 17/02/2018 12h24
Além da preocupação com ecos autoritários, vários jornais identificam manobra do governo para não votar a impopular reforma da Previdência
Para o NYT, decisão atrasa votação da reforma da Previdência, 'cada vez mais condenada ao fracasso'
Com ampla repercussão internacional, a intervenção militar no Rio de Janeiro é vista com desconfiança por numerosos veículos de comunicação estrangeiros. Além da preocupação com o passado autoritário do País, muitas publicações, a exemplo do jornal norte-americano New York Times, da agência Bloomberg e do diário francês Le Monde, enxergam na medida uma desculpa do governo Temer para não colocar em votação a impopular reforma da Previdência, aparentemente fadada ao fracasso.
O New York Times enfatizou que esta é a primeira intervenção federal em um estado desde o retorno da democracia no Brasil, nos anos 1980. Para muitos, acrescenta o jornal dos Estados Unidos, a decisão é vista como uma iniciativa do presidente Michel Temer “para melhorar os seus índices de aprovação, e não como uma medida para combater o crime”.
Leia também:
A intervenção no Rio tem todos elementos para não dar certo, diz especialista
O decreto da intervenção federal é a pá de cal na reforma da Previdência?
Na avaliação do NYT, o decreto representa não apenas o endurecimento das ações contra a criminalidade, mas também o atraso da votação de uma “impopular proposta legislativa” de reforma do sistema de aposentadorias, “cada vez mais condenada ao fracasso”.
O Wall Street Journal deu destaque à onda de violência no Rio, e registrou que os homicídios no estado cresceram 37% em três anos. "O número de crimes violentos aumentou em meio a uma crise fiscal no governo do estado e a uma grande recessão no setor de petróleo", diz o diário.
O Wall Street Journal enfatizou a escalada da violência no Rio (Reprodução)
A Bloomberg afirma que o movimento é uma resposta às demandas crescentes perto das eleições pelo combate ao crime e à violência. "Também pode oferecer uma desculpa para não votar a impopular reforma da previdência, pois as mudanças na Constituição não podem ser feitas enquanto uma intervenção militar está em vigor", afirma a agência.
Um dos mais relevantes diários da França, o Le Monde destacou que, em 2017, o Rio registrou 6.731 mortes violentas, duas a cada três horas. “Todos os dias, os jornais brasileiros relatam os absurdos tiroteios e tragédias de famílias atingidas por balas perdidas ou vítimas de agressão”.
Embora reconheça a gravidade da crise de segurança, a publicação francesa não deixou de registrar que muitos veem a decisão de intervir no Rio como “uma manobra visando apagar a incapacidade do governo de votar a reforma da Previdência, um elemento crucial” para a gestão Temer.
O Le Monde demonstrou ainda preocupação com o passado autoritário do Brasil. “Em um país no qual a memória da ditadura militar (1964-1985) permanece nas mentes, essa demonstração de firmeza também faz tremer”, diz a reportagem, antes de observar que Temer chegou a ser comparado, nas redes sociais, com o marechal Castelo Branco, “principal arquiteto do golpe de Estado de 1964”.
Um dos primeiros veículos da Europa a noticiar a intervenção no Rio, o jornal britânico The Guardian explicou que a decisão é inédita, pois pela primeira vez desde a redemocratização as Forças Armadas assumirão o controle de todas as operações de segurança de um estado, além de comandar as distintas corporações policiais.
“Intervenção militar é um assunto delicado para muitos brasileiros, embora simpatizantes de extrema direita apoiem cada vez mais um retorno a um governo militar”, afirma o diário do Reino Unido. O Guardian relatou ainda o receio de moradores de favelas, que “temem o policiamento a cargo de soldados sem treinamento para isso”.
.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista