18/02/2018
A volta da censura?
CASSARAM A FAIXA DO VAMPIRÃO! PRESSÃO TERIA VINDO DO PALÁCIO DO PLANALTO; PROFESSOR QUE ENCARNA TEMER CRITICA INTERVENÇÃO NO RIO E DIZ QUE TEM MEDO DE VOLTA AO PASSADO
Do Viomundo - 18/02/2018
Da Redação, com Mídia Ninja, reprodução de TV
“Não sou escravo, de nenhum senhor”, diz o samba-enredo da Paraíso do Tuiuti.
Mas, o historiador Léo Moraes, que encarnou o Vampirão na vice-campeã do Carnaval do Rio, desfilou na madrugada de hoje sem o arremedo de faixa presidencial que ostentava no desfile da madrugada de segunda-feira.
A faixa tem um acabamento com notas que imitam dólares (veja, em fotos abaixo, como era e como saiu o Vampirão)
A Mídia Ninja acompanhou Léo pouco antes dele subir ao carro alegórico.
Ele afirmou que, se autorizado pela escola, usaria a faixa.
Porém, no desfile, apareceu sem o ornamento que poderia mais diretamente identificá-lo com Michel Temer.
Uma pessoa que se apresentou como maquiadora do Vampirão disse à Mídia Ninja que ele chegou a ser proibido de desfilar, mas que duas horas antes do início recebeu a notícia de que poderia subir ao carro alegórico desde que sem a imitação de faixa presidencial.
A narradora da TV Brasil, que tem os direitos de transmissão do Desfile das Campeãs, ficou surpresa ao ver o Vampirão sem a faixa. “Talvez esconderam”, disse.
Diferentemente da Globo, a TV pública mencionou tratar-se de uma sátira a Temer.
Oficialmente, a escola diz que o vampiro representa o sistema que continua oprimindo os negros. O título dele é Vampiro Neoliberalista.
A TV Brasil não mostrou a ala dos Manifestoches e citou o protesto contra a reforma trabalhista sem exibir a carteira de trabalho esgarçada gigante que ilustrava a traseira do Neotumbeiro, o carro alegórico que carregava o Vampirão no topo.
O carro trouxe mãos gigantes nas laterais, que manipulavam figurantes vestidos com a camisa da Seleção Brasileira e batendo panelas.
Nem a TV Brasil, nem a Globo mencionaram dois outros personagens que acompanharam o Vampirão no topo: os Golpresários e os Vampiresários. No caso da Globo, a omissão foi denunciada pela historiadora Conceição Oliveira.
Ao menos dois figurantes da Paraíso do Tuiuti carregavam pequenos cartazes com Fora Temer.
Segundo informações do barracão da escola, emissários da presidência da república pediram à Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesa) que impedisse o desfile do destaque. Questionado, o professor de História Léo Moraes, de 40 anos, disse que não recebeu essa informação, e que desfilaria com a faixa. Logo depois, no entanto, ele afirmou que perdeu o adereço no fim da apresentação de domingo. A reportagem do GLOBO, no entanto, viu o momento que ele pediu que a faixa fosse guardada dentro de um carro.
Mas o diário conservador carioca anunciou o fato com a manchete: ‘Vampiro-presidente’ da Tuiuti desiste de usar faixa presidencial no desfile das campeãs.
O Globo disse que tentou contato mas não obteve retorno da Presidência.
A Mídia Ninja denunciou censura, com imediata repercussão nas redes sociais (veja o vídeo acima, com entrevista do historiador que encarna o Vampirão e trecho do desfile).
Antes do desfile, sintomaticamente, um representante da escola usou o sistema de som do sambódromo para reforçar que a Paraíso do Tuiuti é um grêmio recreativo “apartidário”. “Apartidário”, frisou.
Léo Moraes, em entrevista à Mídia Ninja, criticou a intervenção militar no Rio de Janeiro e disse que estava com medo.
“A gente fica com medo, inclusive de se manifestar”, afirmou.
Em seu nome, repetiu críticas ao impeachment de Dilma Rousseff.
Léo, que é professor de História do ensino fundamental, está deixando o Brasil para morar na Itália.
Ele disse que ficou assustado com a repercussão do desfile e que sua página no Facebook foi “invadida”, com muitos elogios e algumas críticas.
Jack Vasconcelos, o carnavalesco responsável pelo samba enredo Meu Deus, meu Deus, acabou a escravidão? afirmou que prefere falar sempre através de seu trabalho.
Antes do desfile, houve gritos de Fora Temer no setor 1, tido como o termômetro da Sapucaí. Durante o sábado, Michel Temer esteve no Rio para “comandar” o início da intervenção militar na segurança pública do Estado.
Antes da Tuiuti desfilou o Salgueiro, que também causou controvérsia no Carnaval, por conta de ritmistas que desfilaram com o rosto pintado de preto, o blackface que no passado foi usado nos Estados Unidos, em filmes e apresentações de teatro, para zombar dos negros.
Só que, desta vez, a bateria da escola veio de rosto limpo.
A Paraíso do Tuiuti foi recebida e se despediu do sambódromo sob gritos de “é campeã”. Nas arquibancadas, havia cartazes contra a Globo, o golpe e a intervenção no Rio.
Um figurante carregava uma mensagem SOS EBC na imitação de carteira de trabalho, o que talvez tenha motivado a emissora a evitar a ala em que ele aparecia.
A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), da qual a TV Brasil faz parte, está em processo de desmonte de direitos, denunciam trabalhadores.
Durante a transmissão, a hashtag criada pela TV Brasil disparou.
Embora com muito maior qualidade que a Globo quanto aos comentários, de novo os narradores foram incapazes de sintetizar e contextualizar o enredo quanto a acontecimentos recentes: manifestoches, manipulados pelos senhores do dinheiro, derrubaram Dilma Rousseff e promoveram a reforma trabalhista de Temer. Uma das formas de escravidão moderna, sugere o enredo.
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