10/02/2018
Com apoio de autoridades, velha imprensa trata Lula como troféu de caça. Por Joaquim de Carvalho
Do Diário do Centro do Mundo - 10 de fevereiro de 2018
Eles comemoraram a condenação de Lula |
Eles comemoraram a condenação de Lula
Depois da selfie, jornalista vai à prisão para mostrar onde Lula, segundo ele, vai ficar: “se beber muita água, a direção corta”
O governo do Estado do Paraná, chefiado pelo réu em ação de improbidade Beto Richa, abriu as portas do Complexo Médico-Penal de Pinhais, para mostrar ao repórter Germano de Oliveira a cela onde Lula, segundo a revista, vai ficar.
É um local encardido, com aparência de mal cheiroso, pequeno.
A abertura da penitenciária revela a indigência das autoridades que ocupam postos de comando no Brasil. O objetivo é escrachar uma liderança política que tem quase 40% das intenções de voto no primeiro turno das eleições deste ano e venceria qualquer candidato em um segundo turno.
O repórter que fez a reportagem para a IstoÉ, Germano de Oliveira, faz de Lula a única pauta da sua vida. Em 2014, quando trabalhava em O Globo, Germano escreveu que Lula e Marisa poderiam passar o Reveillon no triplex do Guarujá.
O casal não só não passou o Reveillon lá como não pernoitou uma única noite no imóvel. Motivo óbvio: não era deles.
Quando fez a reportagem, Germano usou a imagem de Lula e Marisa no Reveillon do triplex do Guarujá não para falar de corrupção ou lavagem de dinheiro, mas para mostrar que o casal estaria sendo beneficiado no cronograma de construção da OAS/Bancoop, responsável pelo imóvel.
A informação era para mostrar que outros donos de cota nos condomínios bancados pelo consórcio estariam sendo passados para trás. A reportagem registra que o casal Lula da Silva era dono de cota no condomínio — o que é correto, mas não do triplex.
Na interpretação da Lava Jato, a imagem usada pelo jornalista se tornou fato verídico, e que Lula e Marisa planejavam o Reveillon no Guarujá.
A farsa ganhou corpo em janeiro de 2017, quando saiu da boca de Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que Lula havia solicitado em janeiro de 2014 que o apartamento ficasse pronto até o Reveillon daquele ano.
A reportagem de Germano e a declaração de Leo Pinheiro foram para os autos do processo conduzido por Moro e o resultado é o que todos conhecem: Lula condenado a 9 anos e seis meses de prisão, com a pena elevada pelo TRF-4 a 12 anos e 1 mês. Moro cita a reportagem como um evidência de que o apartamento era mesmo de Lula.
Com a condenação de Lula confirmada pelo TRF-4, Germano fez uma self com outros quatro jornalistas, para se vangloriar:
— Os cinco jornalistas que fizeram a diferença na cobertura da Lava Jato, que acabará levando Lula para trás das grades. Da esquerda para a direita: Vladimir Neto, da TV Globo; Ricardo Brandt, do Estsdao; André Guilherme, do Valor; este que vos fala Germano Oliveira, da ISTOE; e Flávio Ferreira, da Folha de S.Paulo. Faltaram outros grandes repórteres como Fausto Macedo, do Estadao, Cleide Carvalho, do Globo. Essa turma eh da pesada e se reuniu hoje na sede do TRF4, em Porto Alegre, quando os desembargadores condenaram Lula por 3 a 0 a 12 anos e 1 mês de cadeia. Ainda da psra (sic) confiar na Justiça — escreveu ele.
Nesta semana, Germano conta, pelas páginas da IstoÉ, como é atrás das grades, “local em que o petista irá dormir — uma cela de 12 metros quadrados (…) “:
A cela, com uma janela e porta em aço, conta com um vaso sanitário no chão (o chamado boi), com pouca privacidade, e um tanque com torneira. Os agentes penitenciários asseguram que é possível bebê-la sem sobressaltos – a água, fornecida pela Sanepar, esclarecem, é potável. Mas se Lula exagerar no consumo, não tem conversa: a água será cortada.
Jornalistas sérios trabalham com fatos de interesse público. Qual o interesse público nesta descrição?
Isto é parte do linchamento, parte de um roteiro cujo desfecho jornalistas como Germano já escreveram. Lula é um troféu de caça.
Que o jornalismo brasileiro, moldado pelo padrão ético da Globo, aja assim, nenhuma surpresa. Mas é estarrecedor que, ao lado de linchadores, se coloque ministros como Édson Fachin, indicado por Dilma Rousseff ao Supremo Tribunal Federal.
Ele negou habeas corpus pedido pela defesa de Lula, o que já era esperando, tendo em vista sua posição a favor da prisão após a condenação em segunda instância.
Mas, ao decidir que o mérito da decisão caberá ao plenário do Supremo, ele deu a oportunidade para uma decisão que permita aos veículos de comunicação a imagem que querem exibir como troféu: Lula sendo preso.
É que Fachin poderia submeter sua decisão à segunda turma do STF, da qual faz parte, onde o HC, pela posição dos ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello, certamente seria concedido.
No plenário do Supremo, a concessão do HC também é provável, já que, dos onze ministros do STF, seis já manifestaram posição contrária a prisão a partir da decisão em segunda instância: Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Rosa Weber.
Porém a artilharia está centrada em Rosa Weber. “Ela pode mudar de posição”, repete diariamente Merval Pereira, o principal comentarista de política da Globonews e da CBN, além de colunista de O Globo.
O jogo da mídia comercial é pesado e, a prevalecer sua pressão, o Judiciário como instituição se reduzirá ao tamanho de uma editoria do jornal O Globo.
Juízes ganham muito acima da média (nem precisaria do artifício do auxílio-moradia) e não podem ser demitidos. A sociedade, através da Constituição e das leis, aceita conceder-lhe vantagens para que não precisem se curvar ao poder. E, neste caso, não é o poder político, mas de quem se comporta como dono desse e de todos os outros poderes.
Fachin, ao submeter sua decisão ao plenário do STF e não à segunda turma do Supremo, agradou a esse poder e colocou Rosa Weber na linha de tiro.
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PITACO ContrapontoPIG
O povo brasileiro não pode aceitar escárnios e provocações desta natureza, sem uma reação contundente e pronta.
Chega de apatia, de covardia, de inação frente a tantos desmandos golpistas contra as riquezas do país e os direitos de seu povo.
Cabe aqui a frase célebre de Martin Luther King: "O que me preocupa não é o grito dos maus, ma o silêncio dos bons".
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