quinta-feira, 7 de junho de 2018

Nº 24.344 - "Se houver uma nova greve de caminhoneiros, o governo Temer não sobreviverá"

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07/06/2018

Se houver uma nova greve de caminhoneiros, o governo Temer não sobreviverá

Do Blog Nocaute - 7 de junho de 20180




Por Celso Amorim

Prazer estar aqui no Nocaute novamente, depois de um breve intervalo por causa de viagens e outros afazeres. Eu queria falar de dois assuntos hoje. Um é a tentativa capitaneada pelos EUA e muito infelizmente pelo Brasil de começar um processo de suspensão da Venezuela da OEA.

Não que a OEA valha grande coisa, para falar a verdade, como tem sido dito. Mas sempre é um foro de discussão, de diálogo. Foi derrotado evidentemente porque não conseguiu votos necessários, precisava de 2 terços dos votos e tiveram muitas abstenções. Abstenção nesse caso tem valor de um voto negativo. Mas é muito triste ver o Brasil do lado da punição e não do diálogo.

Mesmo que o Brasil tivesse críticas ao governo do Maduro, podia ter adotado uma posição como a do Equador, que se absteve e agora está chamando para uma discussão sobre o referendo. Quando o Brasil assume uma posição em que o próprio chanceler disse meses atrás que o Brasil não pode mediar porque tem partido, isso é algo que não faz só o Santiago Dantas, da política externa independente, tremer no túmulo, mas faz o Barão do Rio Branco tremer também.

Porque é o Brasil deixar de lado o seu próprio interesse, o interesse nacional, interesse na paz da região – que é essencial para que nós todos possamos voltar a crescer e ter um desenvolvimento condigno. É muito triste ver o Brasil nessa posição, eu realmente não esperava.

Eu não me lembro, em governos recentes, fora o comecinho do período após o golpe de 1964, o Brasil ter uma política externa tão subserviente, tão pouco afirmativa dos valores nacionais. Nem nos governos militares, nem no governo Sarney. O próprio governo Collor, não sei se teve tempo, mas ele não era tão subordinado nessas questões. Me lembro que Collor encontrou Fidel Castro aqui quando teve a Rio 92, o governo FHC também ajudou a promover o diálogo, condenou o golpe lá.

Então é uma tristeza muito grande ver o Brasil numa situação tão deplorável. Não só por um espírito de perseguição, de conflito ideológico, que nunca caracterizou o Brasil. A posição do governo do presidente Lula e da presidenta Dilma, por exemplo, o apoio dado e a boa relação com o governo do Chávez não nos impediu de ajudar no referendo revogatório que passou, na criação do grupo de amigos, com participação dos EUA.

Muito triste ver isso. Eu que estive encarregado da política externa por muitos anos, não só nos governos Lula, com a Dilma foi Defesa, mas também no governo Itamar Franco, que também tinha uma posição independente. Aliás, começou uma aproximação com a Venezuela naquela época, que depois se aprofundaria no governo Lula.

Então, é muito triste ver essa situação e não está realmente à altura da diplomacia brasileira. Não falo nem dos últimos tempos, mas da diplomacia tradicional brasileira na região. A única exceção, volto a dizer, foi em 1964 quando o Brasil votou justamente a favor da suspensão de Cuba.

Lembrando que em 1962, na famosa Conferência de Punta del Leste, o chanceler Santiago Dantas se absteve, lembrando também que a abstenção tinha valor e o voto negativo baseado nos princípios da não-intervenção da autodeterminação dos povos, do respeito ao diálogo e da busca da solução pacífica para conflitos.

Muito triste ver o Brasil abandonar esses princípios em nome provavelmente de dependências imediatas de interesses outros que eu não quero nem mencionar porque não me cabe aqui especular, mas que certamente não são valores maiores que defendemos.

Governo Temer por um fio


Outra questão, que talvez para nós seja mais imediata, é a própria situação do Brasil que requer uma reflexão muito profunda de todos os setores interessados em manter a democracia. Raras vezes na minha vida adulta me lembro de uma situação de pré-convulsão social como a que nós estamos vivendo hoje que ficou muito evidenciada na greve dos caminhoneiros.

E agora está claro para todo mundo que a solução encontrada não foi uma solução. Porque a solução seria uma mudança efetiva da política de preços da Petrobras. Coisa que esse governo não fará, porque a dependência dele dos setores externos é muito difícil. E é difícil também porque esse vínculo que se criou entre a bolsa de Nova Iorque e o estoque Exchange Commission lá de Nova Iorque e a Petrobras é muito forte. Os fundos de investimento que têm recursos colocados na Petrobras são muito fortes e influem nas decisões.

Então, o governo tentou encontrar uma coisa meio média que não está claro para ninguém. E mesmo quando prometeu que o preço do diesel não subiria e não estão conseguindo conter nem do diesel, nem da gasolina, nem do gás de cozinha, mesmo quando prometeu isso, prometeu às custas de programas sociais, de saúde, educação etc.

Além de tudo, hoje nós estamos vendo também a insatisfação continuada dos caminhoneiros, a insatisfação de setores poderosos dentro da economia brasileira, como o agronegócio que não quer também pagar a conta.

E vemos que a eventualidade de uma nova greve dos caminhoneiros, sem julgar as reivindicações, os objetivos que, obviamente, são em sua última instância justos porque vem dessa política de preços errada, essa passagem para o consumidor, não é nem o consumidor, é o produtor brasileiro, a variação do custo internacional e a variação do câmbio, é algo que não foi praticado jamais dessa maneira e que cria problemas imensos para toda economia para a sociedade.

Desde as pessoas que dependem do gás de cozinha até para o conjunto da sociedade que depende do diesel, que é fundamental no funcionamento da economia, é o que junta tudo.

Mas o que eu vejo também é que o governo Temer não resistirá a uma nova greve de caminhoneiros se ela vier. Eu tenho que medir um pouco as palavras porque a gente começa a fazer profecia e pode parecer que você é o profeta do caos ou está desejando. Não é isso.

Mas, ele já esteve por um fio obviamente. Eu acho que com uma nova greve esse governo não se sustenta. E o que eu temo aí não é um golpe militar de estilo tradicional.

Eu acho que os militares não desejam, posso estar enganado, mas a minha experiência como ministro da Defesa me dá uma certa convicção de que os estamentos predominantes, não estou falando de pessoas que saem falando por aí, militares da reserva, mas quem está lá, o alto comando e o ministro da Defesa, eles não vão estar interessados em dar golpe, mas você pode ter uma situação de caos, de vacância de poder praticamente.

E nesse caso o que fazer? Aí é que entra o risco, porque a solução buscada pelos setores que estão preocupados com a eleição agora, pode ser uma solução de adiamentos de eleições, um governo provisório que dure um ano e meio ou dois. Seja com a figura do Parlamento, seja de outro lugar.

E isso é muito perigoso. Porque aí é que se começam a criar as soluções dos governos autoritários. A gente conhece isso desde a época do Luis Napoleão Bonaparte, que depois se tornou Napoleão III, começou assim provisório.

E também as outras experiências no Brasil. O próprio Castelo Branco dizia que teria eleições em 2 anos e não foi o que aconteceu. Eu acho que as forças democráticas têm que estar lutando pela manutenção das eleições. Em qualquer situação que ocorra, as eleições são importantes. E dentro desse processo, para que seja minimamente legítimo, é indispensável que o presidente Lula seja solto e possa participar das eleições.

Depois cada um vota em quem quiser, essa é outra questão. Isso é fundamental para garantir a legitimidade e tranquilidade de que se vão encontrar soluções negociadas para os problemas brasileiros. O Brasil está passando por uma crise muito forte, esse governo veio com muitas promessas. Nada está acontecendo. Não está havendo crescimento.

Essa questão do preço da Petrobras é a ponta do iceberg, ponta muito forte, que é uma crise econômica e social muito grande. Basta ver o apoio que receberam os caminhoneiros, e a perplexidade de muitas outras pessoas.

O que temos que fazer as forças democráticas no Brasil para preservar a democracia é afirmar sem titubear, sem nenhum oportunismo que não há outra solução que não sejam as eleições. E eleições livres no Brasil supõem a possibilidade de Lula ser candidato.

É essa possibilidade que eles temem e o adiamento das eleições que pode ser buscado para procurar outro candidato, que a direita também está dividida. Mas ela que se arrume, que se resolva se vai ser Meirelles ou Alckmin, da centro-direita, para não falar da direita extrema.

Esse momento exige muita reflexão de todos os brasileiros democratas, todas as forças, muito diálogo, que todos sejam capazes de colocar o interesse do Brasil e da democracia brasileira acima de projetos pessoais.


É um momento dramático. Talvez esteja sendo exagerado de colocar aqui essas preocupações, mas sinceramente eu vejo as coisas de maneira preocupante. Acho que é muito importante que se ampliem os espaços de reflexão coletiva porque é preciso entender essa situação e fazer propostas. Vou lembrar também aos internautas que vai haver o lançamento da candidatura do presidente Lula, no dia 8, em Contagem, na Grande Belo Horizonte. É importante todos estarmos lá. A defesa do .Lula é também a defesa da democracia, independentemente em que você vai votar depois.

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