07/06/2018
DENÚNCIAS
Cerveró denunciou parceria da Petrobrás com Odebrecht, fechada durante o governo FHC, como “um dos maiores escândalos”
Da Redação
Em 2016, o ex-diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, detalhou em delação premiada os esquemas que lhe valeram uma condenação por 12 anos e três meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, que cumpre em prisão domiciliar.
Cerveró ocupou cargos na estatal de 2003 a 2014.
Em um de seus depoimentos, chamou a atenção o inconformismo de Cerveró com o fato de que o escândalo da Braskem — parceria da Odebrecht com a Petrobrás — não ter sido investigado.
Foi uma negociata “do governo anterior”, como diria o Jornal Nacional em relação aos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso.
A partir de então, várias empresas do ramo petroquímico foram privatizadas, com amplo financiamento do BNDES.
Em 31 de março de 1999 surgiu uma empresa de nome WPP, fundada no Brasil por Luiz Eduardo Ematne, informou a CartaCapital.
Em 24 de janeiro de 2001, Stephen Timothy Fitzpatrick ingressa como sócio.
Em 2002, a Odebrecht reúne todas as empresas do setor petroquímico que adquiriu na Braskem e a Petrobrás, antes monopolista do setor, se torna sócia minoritária.
Em 2004, foi a vez do filho de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique, ingressar oficialmente na WPP.
No mesmo ano, a WPP fecha parceria com a Braskem para produzir resinas especiais de PVC.
Em 30 de março de 2009, Paulo Henrique cria uma sociedade com o pai, a Ibiuna LLP, com base no Reino Unido.
Nos dias 13 e 20 de setembro de 2010, Fernando Henrique Cardoso dispara dois e-mails para Marcelo Odebrecht, cobrando ajuda financeira para campanhas eleitorais do PSDB, sendo “o de sempre” o cabeçalho da segunda mensagem.
Os candidatos ao Senado Flexa Ribeiro e Antero Paes de Barros, pelos quais FHC intercedeu, não declararam doações da Odebrecht em suas prestações de contas de 2010, o que significa que o dinheiro foi dado para o caixa 2 — o que os candidatos negam.
Em 19 de novembro de 2011, Paulo Henrique, o filho de FHC, cria uma offshore no Panamá com os mesmos sócios da WPP brasileira.
A cronologia sugere que negócios vantajosos para a Odebrecht no governo FHC resultaram em negócios vantajosos para familiares de FHC com a Odebrecht/Braskem e talvez expliquem a tranquilidade com que FHC cobrava contribuições eleitorais de Marcelo Odebrecht, “o de sempre”.
A interrogação levantada por Nestor Cerveró persiste sem resposta.
O delator disse aos investigadores que a Odebrecht tinha grande influência na Petrobrás desde os tempos de Joel Rennó, que presidiu a empresa durante o governo FHC.
Porém, Rennó era defensor da Petrobrás estatal e perdeu poder com a criação da ANP, dirigida pelo genro de FHC, até deixar a Petrobrás em março de 1999.
Um detalhe: Rennó saiu da Petrobrás em 6 de março de 1999 e a WPP, ligada ao filho de FHC e que em 2004 se tornaria formalmente parceira da Braskem, foi criada em 31 de março…
No depoimento, Nestor Cerveró diz que “a Braskem é um dos maiores escândalos criados na época do governo Fernando Henrique, essas coisas, não foi o Lula que inventou, essas coisas não são investigadas, isso que eu fico impressionando, a Braskem é um escândalo, mas está lá, firme e forte, feita pela Odebrechet…”.
Ele é interrompido de forma brusca por quem toma o depoimento!
Depois de uma pausa, o homem não identificado diz: “Nestor, deixa eu falar uma coisa para você, essas questões da Braskem eu sei que tem inquérito, o tema específico aqui é a Ipiranga”.
Cerveró rebate: “Aquelas investigações…”, sugerindo que eram para inglês ver.
“Eu respondo por mim”, diz a autoridade. “Eu sei que você responde por você, eu também”, diz o delator.
Uma mulher presente afirma que “as investigações que estão aqui, correndo, elas andam”.
Nestor Cerveró insiste: “A Braskem até hoje não andou, pelo jeito”.
Não deixem de ver o momento constrangedor a partir dos 10 minutos do vídeo abaixo:
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