15/07/2018
Os grandes vitoriosos da Copa são os refugiados
Do Brasil 247 - 15 de Julho de 2018

por LÚCIA HELENA ISSA

Meu lado francês, que tantas vezes se envergonha de uma França que cometeu imensos crimes ao longo de sua história, que causou a morte de mais de um milhão de argelinos, que torturou e matou crianças de vários paises árabes, que comteu crimes contra a própria humanidade, que dizimou uma parte da Indochina, e que reprimiu com tiros , em 1961, uma manifestação pela dignidade dos argelinos em Paris, meu lado francês que tantas vezes sentiu culpa pela origem materna aristocrática, hoje se emocionou com a outra França. Com uma batalha sem tiros, sem drones e sem tanques, em que os verdadeiros heróis foram os guerreiros filhos e netos de refugiados.
Emocionei-me com a batalha épica protagonizada pelos filhos daqueles refugiados, de mulheres que um dia fugiram da morte , que um dia sonharam que seus filhos pudessem crescer longe das balas e das guerras alimentadas pelos europeus na África. Emocionei-me com cada gesto, cada lágrima, e palavra dita pelos franceses ao Mbappé.
A grande vitoriosa desse torneio não é a França de Marine Le Pen, racista, retrógrada, apodrecida e xenófoba, mas a França que conheço bem, e onde estarei de novo esse ano, a França de meus amigos que acolhem, que ajudam e que, como eu, dão voz às crianças e mulheres refugiadas.
As grandes vitoriosas dessa Copa de 2018 são a Rússia, anfitriã maravilhosa e capaz de diluir em poucas semanas um milhão de estereótipos que alimentam o ódio contra ela, e a diversidade religiosa e racial e a minha esperança de paz.
Os grandes derrotados de 2018 são o neonazismo que renasce na Croácia, o fascismo de alguns líderes italianos e o neofascismo de bolsonaros no Brasil.
A grande vitoriosa desse torneio não é a França de Marine Le Pen, racista, retrógrada, apodrecida e xenófoba, mas a França que conheço bem, e onde estarei de novo esse ano, a França de meus amigos que acolhem, que ajudam e que, como eu , dão voz às crianças e mulheres refugiadas.
Os grandes derrotados são os fabricantes de ódio, de armas e de conflitos mundiais.
Como mulher, como brasileira que é fruto dessa mistura inusitada entre franceses e árabes, alguém que carrega em seu DNA todas as angústias e paradoxos da relação entre a Europa e o Oriente Médio, mas que também carrega em si a esperança de que a paz vença no segundo tempo de alguma forma, ouço meu coração hoje sussurrar: - Nós vencemos!
LÚCIA HELENA ISSA. Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília". Pós- graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma e embaixadora da Paz por uma organização internacional. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio.
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