08/08/2018
Impedir Lula de concorrer será um tiro no pé
Do Brasil 247 - 7 de Agosto de 2018
por Ribamar Fonseca
Com o quadro sucessório presidencial já praticamente definido, após a escolha dos vices no último fim de semana, as atenções se voltam agora para a questão Lula: será que a Justiça Eleitoral vai manter a farsa da sua condenação e impedi-lo de concorrer? Será que vão continuar essa encenação de julgamento justo? Será que vão insistir nesse falso pretexto de ficha suja, já que ele não cometeu nenhum crime? Se tal acontecer cairá de uma vez a máscara dos homens e mulheres de toga que posam de democratas. E ficará escancarado para o mundo o regime de exceção em que mergulharam o Brasil, onde a Constituição, que diz que todo o poder emana do povo e em seu nome será exercido, perdeu a validade. Afinal, que diabo de democracia seria esta onde o povo não significa nada? Que diabo de democracia seria a nossa onde quem seleciona os candidatos a governantes são os juízes? Que diabo de democracia seria esta onde o maior líder popular do país e líder das pesquisas de intenção de votos é impedido de concorrer? É claro que isso só é possível num regime de exceção.
Até o próximo dia 15, quando se encerra o prazo legal para registro de candidaturas, a situação de Lula deverá ser definida. Segundo renomados juristas, nada impede que ele seja registrado e concorra ao pleito de outubro, até porque existem precedentes, mas quando se trata de Lula o procedimento da Justiça se altera, as decisões são tomadas antes do julgamento e vale tudo para ferrá-lo. Não é segredo para ninguém que há uma disposição, dentro do Judiciário, para banir o ex-presidente da vida pública, mesmo com todos conscientes da armação para atingir esse objetivo. Alguns magistrados não conseguem esconder o seu constrangimento, mas temem contrariar a corrente e serem linchados pela mídia, em especial pela Globo, a maior interessada na morte política do líder petista. Na verdade, será um tiro no pé, porque o substituto dele, caso se confirme o impedimento, fará exatamente o que ele faria se eleito fosse. Fernando Haddad, que terá a responsabilidade de substitui-lo na corrida sucessória, é o coordenador do seu programa de governo e, portanto, estará inteiramente à vontade para executá-lo.
Mais uma vez o ex-presidente demonstrou a sua capacidade como articulador político, mesmo de dentro da cadeia. Além de garantir o apoio do PCdoB, com a indicação de Manuella Dávila , para sua vice ou de Haddad, ele costurou acordos com outros partidos da esquerda, como o PCO e o PROS. A aliança com o PSB, tão criticada pelos admiradores de Ciro Gomes, foi positiva, embora tenha sacrificado a candidatura de Marilia Arraes em Pernambuco, porque objetivou um projeto muito maior, de nível nacional, que é a volta do PT ao Palácio do Planalto. Afinal, todos os políticos sabem que não se faz politica sem alianças que, às vezes, obrigam a perda dos anéis para que os dedos sejam preservados. Os que criticaram duramente o ex-presidente estavam mais interessados em eleger Ciro do que em garantir uma vitória da Esquerda com Lula. O PT, na verdade, não teve nenhuma responsabilidade pelo fracasso das negociações do ex-ministro, que pareceu meio perdido em busca de alianças até com os partidos do chamado Centrão, que o trocaram por Alkmin. Ele poderia estar numa situação privilegiada, hoje, se não tivesse cometido erros infantis e agredido gratuitamente Lula e o PT, perdendo talvez a sua maior oportunidade de ser eleito Presidente.
O fato é que toda essa trama para impedir Lula de voltar ao Planalto não deverá produzir o efeito que seus perseguidores imaginaram. Certamente vai criar mais dificuldades para a eleição do eventual substituto do ex-presidente que, provavelmente, não conseguirá transferir integralmente os seus votos, mas não vai impedi-lo de chegar ao segundo turno e à vitória. Antes de entregar-se à Policia Federal Lula disse que deixava de ser um homem para ser uma idéia. E será justamente essa idéia que dará entrada no Palácio do Planalto no dia primeiro de janeiro de 2019, para recuperar o Brasil dos graves danos causados pela desastrosa gestão do governo golpista de Temer. Na verdade, longe de destruir o líder petista, como pretendiam seus perseguidores, a sua prisão foi o seu melhor cabo eleitoral, contribuindo decisivamente para conscientizar o povo da sua condição de vítima dos donos do poder. E todos os seus algozes, a começar pelo juiz Sergio Moro, serão esquecidos pela História ou lembrados como traidores da Pátria. Talvez nem isso. Alguém se lembra do sujeito que matou Gandhi a tiros? Alguém se lembra dos juízes da Suprema Corte que impediram o Imperador Pedro II de permanecer no Brasil, após banido pelos autores do golpe que implantou a República? Alguém se recorda do nome dos juízes da Corte Suprema que autorizaram a entrega de Olga Benário para ser executada pelos nazistas?
O simples anuncio de Haddad como vice e provável substituto de Lula na corrida sucessória já lhe garantiu o segundo lugar nas pesquisas, atrás de Bolsonaro. No momento em que for ungido formalmente como candidato a Presidente, porém, no lugar de Lula, caso o ex-presidente seja mesmo impedido de concorrer, não há dúvida de que ele dará um salto nas pesquisas, sobretudo quando começar a aparecer nas entrevistas e debates. E Lula, mesmo da cadeia, com todas as restrições impostas pelos magistrados, influenciará o processo eleitoral, carreando seus votos para Hddad. E aí? Com que cara ficarão Moro, os desembargadores do TRF-4 e os ministros do STF e do STJ que, acovardados diante da Globo, lhe negaram a liberdade? Esta semana deverá ser marcada por intensa movimentação nos círculos do Judiciário, particularmente no TSE e no STF, para uma tomada de decisão que pode fazer de Lula a grande vítima da Justiça brasileira. E garantir a eleição da sua idéia, representada por Haddad, já no primeiro turno.
RIBAMAR FONSECA. Jornalista e escritor.
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