Aos olhos de hoje, é correto dar o braço a torcer, inclusive este jornalista, e dizer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acertou quando disse no ano passado que a crise econômica mundial chegaria ao Brasil como uma marolinha. Diante das expectativas da época de governos, empresas e veículos de comunicação do mundo todo, o que bateu no país foi mesmo uma marolinha.
Na virada de 2008 para 2009, parecia que o planeta iria quase acabar. E Lula foi duramente atacado por seu otimismo. Ele cumpria o fundamental papel de animador do auditório na hora da crise, mas também a subestimava um pouco.
Nesse sentido, o pessimismo da mídia teve papel importante para acordar Lula e o governo. O presidente vive reclamando da imprensa, mas os alertas que hoje soam exagerados fizeram o governo levantar da cadeira e arregaçar as mangas. O Brasil ganhou com esse choque de opiniões, apesar da azia do presidente e de críticas de parte da imprensa que pareciam chiliques e torcida política.
Também não dá para dizer a quem perdeu o emprego, sobretudo em setores mais afetados pela queda do comércio mundial, que passou uma marolinha pelo Brasil. A crise trouxe dramas pessoais para muitas famílias. Os dados mostram que os mais pobres sofreram menos, comparados aos abastados. Mas há uma diferença tremenda de grau de sofrimento entre quem tem menos renda e quem tem mais. Cem reais fazem uma diferença na vida dos mais pobres. E não pensam nada para os mais ricos. Registro: a ficha de Lula caiu mesmo quando ele voltou de uma viagem ao exterior em outubro de 2008. Ele passou por cinco países em três continentes. A crise havia atravessado não só o Atlântico, mas também o Índico e o Pacífico. Era global.
No Brasil, ele recebeu relatos de inconsistência do aparente forte sistema bancário. Bancos pequenos e médios correram riscos reais. Uma instituição de grande porte fraquejava. Poderia ter havido um efeito dominó não fossem as ações do Banco Central e a edição da medida provisória que permitiu ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal comprar outros bancos e empresas fora do setor financeiro.
Para chacoalhar Lula, pesou ainda o temor de queda na alta popularidade. Empresas da chamada economia real fizeram chegar ao governo que poderiam viver fortes problemas no segundo semestre de 2009. A Vale demitiria e cortaria investimentos rapidamente, sem falar com Lula.
Uma conjunção de fatos, críticas e conselhos fez Lula agir e passar no teste de gestão da crise. Mais uma prova de que a democracia é mesmo o pior sistema político, com exceção de todos os outros.
Sucessão presidencial - As previsões do governador José Serra, potencial candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, não aconteceram. Na virada de 2008 para 2009, o tucano achava que a queda do PIB (Produto Interno Bruto) seria bem maior. Também previu um forte aumento do desemprego. Esse cenário, se confirmado, favoreceria seus planos para conquistar a Presidência.
Num país como o Brasil, que vem melhorando, mas ainda é bastante desigual, o bom desempenho da economia será um ativo político importante nas eleições de 2010. No mínimo, dificultará o que já anda difícil para a oposição: encontrar um discurso que convença o eleitor a votar no candidato dela e não no representante do atual governo.
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terça-feira, 22 de setembro de 2009
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