03/12/2009
Foto Flávio Aguiar
Carta Maior - 03/12/2009Durante entrevista coletiva conjunta com a chanceler alemã Ângela Merkel, o presidente brasileiro disse que se os Estados Unidos e a Rússia quiserem de fato pressionar um país já de “forte presença internacional” como o Irã, eles devem começar por diminuir de modo significativo os próprios arsenais nucleares. Já o Brasil, continuou o presidente, pode falar de cátedra, por ter na sua Carta Magna artigo que proíbe a construção de armas nucleares. O artigo é de Flávio Aguiar.
Flávio Aguiar - Cobertura compartilhada: Rede Brasil Atual/Revista do Brasil – Carta Maior
“Quem tem moral para falar com o Irã é o Brasil”: essa declaração do presidente Lula, em sua visita oficial a Berlim, contem algumas das palavras-chave de sua presença na capital alemã. Ela surgiu durante a entrevista coletiva que ele e a chanceler (equivalente ao cargo de primeiro-ministro) Ângela Merkel deram no prédio da chancelaria alemã, perante quase uma centena de jornalistas.
A pergunta, feita por um jornalista alemão, teve uma resposta quase, eu diria, protocolar, por parte da chanceler alemã. Referiu-se às preocupações do bloco ocidental em relação ao programa nuclear iraniano, além de mencionar o cuidado com que se vê a receptividade do governo de Ahmadinejad em espaços políticos outros (como o Brasil). Já o comentário de Lula foi contundente, embora registrando também as dificuldades da posição brasileira. Disse que se os Estados Unidos e a Rússia quiserem de fato pressionar um país já de “forte presença internacional” como o Irã, eles devem começar por diminuir de modo significativo os próprios arsenais nucleares.
Já o Brasil, continuou o presidente, pode falar de cátedra, por ter na sua Carta Magna artigo que proíbe – o presidente frisou – “PROÍBE” – a construção de armas nucleares. E completou com a observação de que o empenho no diálogo, por mais problemático que isso seja, é melhor e – também frisou, o que não é desprezível – “mais barato” para todo mundo. De sobremesa, serviu o prato de que, se o Brasil recebeu o presidente do Irã, no mesmo período recebeu também os presidentes de Israel e da Autoridade Palestina.
Claro que isso expõe também o fato de que o Brasil não é uma presença militar maior nesta questão e em outras – o que pode ser visto como uma limitação e uma praga, ou como uma limitação e uma bênção (caso deste escriba). Freqüentemente o pensamento conservador brasileiro considera a política externa do governo Lula “megalomaníaca”, querendo assumir ares que o país não teria como oferecer. Tem sim, como neste caso. A aposta permanente do Brasil (que não foi invenção do governo Lula, mas sim potenciada por ele) em fóruns multilaterais e no campo das negociações diplomáticas credencia o país – de resto uma economia e uma nação do tamanho de metade da América do Sul – para isso.
Mas na entrevista coletiva houve também outros temas abordados. Copenhague e a negociação climática: Lula e Merkel se mostraram, digamos, cautelosamente otimistas. Apostam que Copenhague não será um ponto de chegada, mas de partida, nos impasses mundiais sobre a questão. Lula ressaltou que é necessário prestar atenção às realidades de cada país, de cada continente (como a África, que necessita de linhas de investimento especiais para se desenvolver sem comprometimento meio-ambiental). Referiu-se à China e suas dificuldades internas, e também ao governo de Barack Obama e suas dificuldades domésticas. Fez um elogio indireto ao presidente norte-americano, ao ressaltar que tinha certeza de que, se dependesse só dele, Obama, os Estados Unidos teriam propostas mais ousadas no sentido da preservação planetária. Mas por outro lado, ressaltando a limitação do presidente mais poderoso da Terra, lembrou que ele precisa atender a compromissos internos.
Rio de Janeiro e o tema Copa/Olimpíadas
Lula e Merkel ressaltaram a cooperação alemã (foi assinado um acordo específico sobre isso) no caso da segurança. Lula ressaltou mais o aspecto policial da questão, em relação à criminalidade e à possibilidade de violência, ressaltando que o Brasil está estudando as últimas copas e olimpíadas pelo mundo para fazer “uma média” de realizações e problemas. Já Ângela Merkel sublinhou que o acordo abre o caminho para uma série de temas, incluindo, por exemplo, o do relacionamento entre policias e torcedores, e que ele abre também a possibilidade da presença física de policiais de outros países no Brasil antes e durante os eventos esportivos.
Essa entrevista coletiva foi até o momento o ponto culminante da visita oficial, de Estado, de presidente Lula à Alemanha, que começou na quarta-feira (2), a Berlim, provindo da Ucrânia, onde realizou conversações sobre, inclusive, lançamento de foguetes espaciais.
Uma visita dessas é uma maratona, que exige e dá aos jornalistas um atestado de preparo físico e moral. Num clima nada acolhedor (não por parte dos organizadores, mas do clima mesmo), de um frio de um ou dois graus centígrados, deve-se correr de um lado para o outro, fotografar, ver, registrar, prestar atenção nos detalhes, etc. No decurso de uma manhã, até a hora do almoço, o presidente brasileiro visitou o palácio oficial do presidente alemão (Horst Köhler), passou em revista a tropa formada, depois de ouvir os respectivos hinos nacionais, assinou acordos (inclusive um que terá de ser definido em cada setor sobre reciprocidade na previdência social), conversou com escolares e assinou seus cadernos, visitou o Portão de Brandemburgo, colocou uma coroa de flores no Monumento às Vítimas da Tirania, e seguiu para a chancelaria, onde houve assinatura de novos acordos de cooperação e a referida entrevista coletiva. Ele trotando por tudo isso e nós, os jornalistas, a galope atrás.
Um sucesso: assim pode ser descrita essa visita do presidente Lula a Berlim. Todos os jornais deram notas elogiosas sobre ele e o Brasil, sem desconhecer nossos problemas tradicionais. A manchete do dia ficou por conta do Süddeutsche Zeitung: “O presidente brasileiro na Alemanha: Lula superstar”.
Nesta sexta-feira haverá uma excursão em trem-bala, especialmente fretado pelo governo alemão, a Hamburgo, onde ocorrerá um seminário sobre oportunidades de investimento no Brasil. Acompanham o presidente diversos ministros, entre eles a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e o Assessor Especial para Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
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