08/02/2010
Vermelho - 8 de Fevereiro de 2010 - 14h27
Pela primeira vez na história, a “classe” C, cujos lares recebem entre R$ 1.115 e R$ 4.807 por mês, passou a representar a maior fatia da renda nacional, segundo dados recém-agregados pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Correspondem agora a 46% do total de rendimentos das pessoas físicas, contra 44% do topo da pirâmide (AB).
Este exército de 91 milhões de brasileiros está tornando anacrônico o conceito atual de classe média — baseado em padrões de consumo e culturais — e métodos básicos de produção e publicidade estão sendo revistos. Entre 2003 — quando a “classe” C respondia por 37% da renda nacional (salários, benefícios sociais e previdenciários, juros e aluguel) — e 2008, 26,9 milhões chegaram a este grupo.
Essa migração em massa alterou o rumo da divisão historicamente desigual do bolo no Brasil e proporcionou o surgimento de um grupo com características socioculturais próprias. Se a década de 1990 foi marcada pela estabilidade e a educação, o aumento da renda que marcou os anos 2000 permitiu ao consumidor não só comprar, mas escolher o produto com que mais se identifica.
O vice-presidente da agência DM9DDB, Alcir Gomes Leite, garante que isso fez os profissionais reverem seus conceitos. O novo público não se preocupa só com preços: — Vai atrás das marcas, tem uma identidade própria, que é diferente da classe média tradicional. As marcas já entenderam isso. Não querem mais saber o que fazer para tornar o cliente fiel. Vão atrás do que têm de fazer para se tornarem fiéis a eles.
Também não adianta anunciar um produto para a “classe” AB achando que o indivíduo da classe C vai querer comprar para “ascender”: — Esse conceito de classe média foi para o saco. As grandes empresas têm concentrado ao menos 60% das inovações no novo público, segundo Alcir.
Já o presidente da Associação da Indústria Têxtil (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, disse que o setor investiu US$ 855 milhões em 2009 em designers, marketing e ampliação da produção com foco na nova classe média. O consumo per capita de tecido no país é considerado baixo: 8,2 quilos: — Com mais gente subindo da “classe” D para C e de E para D, podemos acrescentar mais cinco quilos.
Mas a mudança não está só nas novas necessidades de quem compra. A própria estrutura da economia está se alterando. O potencial de geração de renda do brasileiro está crescendo mais depressa do que a sua capacidade de consumo. “O brasileiro pode ser na foto ainda mais cigarra do que formiga, mas estamos sofrendo gradual metamorfose em direção às formigas”, diz o chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Néri, em referência à fábula de La Fontaine.
Néri garante que ascensão de pessoas das “classes” D e E à C se deu não apenas pelos programas de ajuda social do governo. Mas porque o brasileiro trabalhou mais, ganhou melhor, se educou, comprou computadores e celulares e poupou mais. Segundo a pesquisa, o índice do consumidor aumentou 14,98% entre 2003 e 2008, contra 28,62% do índice do produtor. O primeiro mede o acesso das famílias a bens de consumo (TV, geladeira, DVD), serviços públicos (lixo, esgoto), condições de moradia (financiamento, número de cômodos e banheiros) e tipo de família.
Já o segundo estima o potencial de geração de renda pela sua inserção produtiva e nível educacional, bem como investimentos em capital físico (previdência pública e privada, uso de tecnologia de informação e comunicação), capital social (sindicatos, estrutura familiar) e capital humano (frequência escolar dos filhos).
Tudo isso são ativos que deram ao trabalhador produtividade A nova “classe média” tem carteira assinada, casa própria ou financiada, estuda em escolas públicas ou particulares, tem previdência social ou privada, computador e celular. Idosos, mulheres, trabalhadores com carteira e nordestinos são exemplos de brasileiros que puxam a transformação.
Veja aqui entrevista de Marcelo Neri*, feita por Ivan Marsiglia, no jornal O Estado de S.Paulo
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