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01/05/2010
Vermelho - 30 de Abril de 2010 - 17h33
Há 35 anos, em 30 de abril de 1975, os tanques das Forças Armadas Populares de Libertação do Vietnã penetraram os muros exteriores do antigo Palácio Presidencial de Saigon e seus combatentes içaram as bandeiras vitoriosas do Governo Revolucionário Provisório e da Frente Nacional de Libertação.
Por Luís Manuel Arce*
A guerra e a ocupação militar e política dos Estados Unidos, terminaram nesse dia, definitivamente.
Tinha passado mais de uma década desde que, em agosto de 1964, o governo dos Estados Unidos, presidido então por Lyndon B. Johnson, tinha cometido a grande fraude, de agredir um navio da sua própria frota militar estadunidense.
O fato foi conhecido como "acontecimentos do Golfo de Tonkín" e serviu de pretexto para iniciar a guerra aérea de destruição contra o norte do Vietnã e justificar a guerra especial no Sul.
Na realidade, desde 1971 os estadunidenses tinham começado a perder a guerra, quando não puderam controlar as fronteiras entre Vietnã, Laos e Camboja pela estrada 9 e o Pentágono tinha sido derrotado em sua guerra meteorológica, que tinha como objetivos atingir os diques e represas do Norte.
As forças de Lon Nol e Sirik Matak, no Camboja, estavam na bancarrota, as áreas libertadas abarcavam mais de 50% dos cenários da guerra, e uma forte ofensiva militar dos patriotas do Sul obrigou a Casa Branca a assinar os acordos de Paris de 27 de janeiro de 1973 para restabelecer a paz no Norte.
Mas os Estados Unidos não se renderam e o presidente de então, Richard M. Nixon, mantinha sua febril e veemente ideia de dominar e acabar com as forças de libertação.
Os ocupantes tinham distribuídos nas cinco zonas militares em que dividiram o Sul do país 1,2 milhão de soldados saigoneses, agrupados em 13 divisões, sem incluir ao pessoal da marinha e a aviação, esta última dotada com 1.800 aparelhos táticos, a metade deles helicópteros, 1.400 unidades de superfície, 2.000 embarcações fluviais sofisticadas, equipes de comunicações e de outras especialidades.
Contavam também com cinco super portos, numerosas bases aeronavais, como as de Da Nang, a maior do mundo então, Cam Ranh, 10 aeroportos de envergadura como o de Tan San Nhut em Saigon e 200 médios e pequenos.
Diante do evidente deterioramento da situação do inimigo, e as flagrantes violações dos acordos de Paris por parte de Washington, o comando político vietnamita instruiu o Estado Maior de suas forças armadas a preparar a batalha final pela libertação, quando mal começava o ano de 1974.
A primeira prova produziu-se com a batalha contra a base de Phuoc Long onde tinha localizados cinco mil soldados do regime saigonês.
A essa vitória sucederam muitas outras, que levaram o Comitê Central a determinar o10 de março de 1975 como a data para lançar a grande ofensiva final.
O ponto de partida foi a cobiçada Buon Me Thuot, nas mesetas centrais, onde as forças de libertação, em lugar de atacar a periferia como acostumavam, se concentraram na cidade e desde ali arremeteram contra as bases exteriores que as deixaram isoladas.
Dessa maneira, deixaram dividido o país à metade, debilitando as tropas inimigas, o que possibilitou que fossem caindo gradativamente baluartes militares como Pleikú, Che Réu, Hue, Dá Nang, Nha Trang, Luang Tri e muitos outros.
A longa e fortificada corrente de bases e acampamentos militares saigoneses em toda a extensão do país foi caindo como um dominó a uma velocidade surpreendente.
Assim, percebíamos que nesse momento estávamos em Hanói e corroborávamos com os especialistas militares que nossos anfitriões do Norte punham a nossa disposição para ter em primeira mão notícias do que acontecia e fazer reportagens fiéis para nossos meios de comunicação.
Durante os dias 26, 27 e 28 de abril a ofensiva patriota generalizou-se por toda a faixa costeira e permitiu consolidar o domínio das regiões militares I e II.
Aquilo determinou a decisão do Comitê Central de ordenar a Operação Ho Chi Minh pela libertação de Saigon, que originalmente não estava no plano, segundo nos explicaram posteriormente os chefes da ofensiva.
A batalha final iniciou-se com combates encarniçados em Long Binh, Xuan Loc, Bem Hoa e Cu Chi, casa por casa e polegada a polegada, para romper o famoso cordão "sanitário" que protegia militarmente à capital sul.
A Operação Ho Chi Minh foi fulminante e durou menos de 48 horas.
No dia 28, vendo já indefectivelmente derrotado o regime de Nguyen Van Thieu, o embaixador estadunidense Graham Martin fugiu de Saigon pelo sótão da sede diplomática, embarcando em um helicóptero, cena vexatória que ficou impressa na história em jornais, revistas e filmes.
Às 13h30 do 30 de abril de 1975, três tanques PT76 e dois blindados estadunidenses repletos de jubilosos combatentes revolucionários, desciam a toda velocidade a rua Pasteur , rumo ao rio Mekong no meio de aclamações; chegaram ao Palácio Presidencial e irromperam nele derrubando durante na sua passagem uma parte do muro exterior que o rodeava.
Poucos dias depois, quando o mundo já tinha festejado o Primeiro de Maio, dia dos Trabalhadores, e com a grata coincidência de ser o mês de nascimento e homenagem ao herói eterno do país, Saigon foi batizada para sempre com seu nome: Cidade Ho Chi Minh.
O general Vo Nguyen Giap, a quem encontramos de maneira fortuita nas praias de Nha Trang rumo ao Saigon ainda com cheiro de pólvora, nos confirmava o sucesso rotundo e definitivo da guerra de todo o povo.
Em 30 de abril de 1975 não caiu somente o regime fantoche saigonês e com ele a ocupação do então Vietnã do Sul que o governo dos Estados Unidos tinha sustentado a um preço desmesurado desde a derrota dos colonialistas franceses na década dos anos 50 do século passado.
Caiu um regime despótico, cruel e sanguinário, instalado pelo imperialismo no Vietnã do Sul a sangue e fogo, com o que tinham estancado no paralelo 17 a revolução nacional democrática liderada por Ho Chi Minh.
A depurada estratégia dos imperialistas para produzir o neocolonialismo estadunidense em série foi avariada e foi sepultada a expansão norte-americana no Sudeste da Ásia. E, naquele tempo, foi frustrada a possibilidade de que a experiência estadunidense na Indochina fosse aplicada na América Latina, África e outras áreas de influência norte-americana.
No plano corporativo, também ficaram para traz as ambições desmedidas das multinacionais de arrancar até o fim as riquezas naturais da Península.
No plano estratégico, saiu derrotada a repisada e doentia sede de vitória por meio das armas que o chamado "mundo livre" defendia.
O Vietnã, de fato, deveria ter marcado o limite até o qual podia chegar o expansionismo norte-americano.
Com as invasões de Afeganistão e Iraque, e com o estabelecimento de bases militares na Colômbia, as últimas administrações estadunidenses, inclusive a de Barack Obama, demonstraram que não quiseram aprender as lições da história.
Por isso mesmo, a experiência do Vietnã não pode ser descartada pela América Latina nestes tempos de tanto perigo, ameaças e aventureirismo.
*Luís Manuel Arce Editor da Prensa Latina e ex-correspondente de guerra no Vietnã.
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