quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Contraponto 6485 - "Manifestantes contra a corrupção vêem país pior do que há 10 anos"


Eduardo Guimarães

No início da tarde de 12 de outubro de 2011, comecei a ver na internet notícias de que uma das marchas contra a corrupção que a mídia vinha anunciando havia semanas reunira milhares em Brasília. Apesar disso, não se encontrava notícias de outras capitais. Por volta das 15 horas, então, por morar próximo ao Masp, local de partida da marcha de São Paulo, decidi ir até lá tentar entender esse movimento “apartidário” e “contra a corrupção”.

Todavia, cheguei tarde ao local de partida da “marcha”. Encontrei um grupo de cerca de 50 pessoas. Segundo os presentes, a marcha maior partira rumo ao centro da cidade havia alguns minutos. Os que ficaram no Masp, segundo disseram, romperam com a maioria que decidira marchar pela avenida Paulista, depois pela avenida da Consolação, depois pela rua Xavier de Toledo até chegar à Praça Ramos de Azevedo, diante do Teatro Municipal, onde o ato chegaria ao fim após alguns discursos.

Já no cruzamento da avenida Paulista com a Consolação, vendo que o tráfego continuava engarrafado rumo ao centro, apressei o passo. No caminho, encontro o blogueiro mineiro Tulio Viana e a esposa, a também blogueira Cintia Semiramis, descendo de um táxi em frente a um hotel. Falo com eles rapidamente e continuo caminhando, mas só vejo congestionamento e nada de manifestação.

Vou andando e vejo gente vestida a caráter para uma manifestação daquela natureza. Estavam indo na mesma direção ou voltando em sentido contrário. Alguns com caras pintadas de verde e amarelo, outros até portando cartazes e bandeiras do Brasil. Paro um casal em suas bicicletas, identifico-me como blogueiro político e pergunto se me poderiam dar uma rápida entrevista.

Ali começo a fazer a série de perguntas que faria nas outras 26 entrevistas durante as cerca de duas horas seguintes. Pergunto, basicamente, o seguinte:

1 – Como você tomou conhecimento da manifestação?

2 – Por que você decidiu participar dessa manifestação?

3 – Você lê a revista Veja, a Folha de São Paulo ou o Estadão?

4 – Você acha que hoje há mais corrupção no Brasil do que há dez anos?

5 – Você acha que hoje o Brasil é um país pior, igual ou melhor do que há dez anos?

6 – Quantas pessoas você acha que há nessa manifestação?

A bela e esguia jovem de pele bem branca e cabelos lisos, negros e bem cuidados, vestindo roupa de malha dessas que se usam em academias e um short jeans, e o rapaz forte, alto, vestindo short e camiseta, a quem ela chamou de “amor”, não desceram das suas bicicletas para me dar entrevista, apesar de terem sido simpáticos e receptivos. Eis as suas respostas consensuais:

1 – Souberam da manifestação pelo Facebook

2 – Foram se manifestar devido ao aumento da corrupção

3 – Lêem Folha e Veja

4 – Disseram que hoje há muito mais corrupção do que há dez anos

5 – Disseram que hoje o Brasil é um país muito pior do que há dez anos

6 – Estimaram que a manifestação reuniu em torno de três mil pessoas.

Consigo encontrar a marcha só quando chego ao limiar da rua Xavier de Toledo, a algumas quadras do teatro da Praça Ramos de Azevedo. Correra por quarteirões e já estava pondo os bofes para fora e suando em bica. Continuo caminhando, agora, mas meus passos ainda são mais rápidos do que os da marcha.

Vou parando os policiais, no caminho, e pedindo estimativa do número de manifestantes. Alguns falam em quatrocentos, outros falam em quinhentos, outros falam oitocentos. Quando encontro o oficial da PM responsável pela operação que acompanhou a manifestação, porém, o número muda: o capitão, um simpático oriental de óculos, diz que a PM estima o público em “três mil pessoas”.

Decido ultrapassar a marcha quando vislumbro o Teatro Municipal ao fim da Xavier de Toledo. Começo a correr. Chego ao Teatro e subo a escadaria. Começo uma contagem. Contei umas setecentas pessoas. Parecia mais porque a rua estava cheia de transeuntes. Mas como os manifestantes caminhavam pela via dos veículos, deixando a calçada para os transeuntes, consegui fazer uma contagem que julgo bem razoável.

Começo, então, a me esgueirar entre a multidão a fim de fazer aquela série de perguntas mencionada mais acima. As únicas divergências para o casal de ciclistas que obtive foram no que diz respeito a quem lê Folha, Veja e Estadão, quanto ao número de manifestantes e quanto à forma como essas pessoas ficaram sabendo da manifestação.

A maioria, em 19 entrevistas, lê algum desses veículos, seja em papel ou pela internet, e os números que os entrevistados diziam haver de manifestantes iam de quinhentos a dez mil. Quanto à forma pela qual tomaram conhecimento da manifestação, citaram e-mails, jornais, revistas, boca a boca, blogs e sites, Twitter e Facebook.

Das 27 entrevistas, em 26 ouvi das pessoas que estavam lá por acharem que há muita corrupção. Essa maioria esmagadora afirma que há mais corrupção hoje no Brasil do que há dez anos e que hoje o país está muito pior do que há dez anos até na economia. Ou, como ouvi muito, “O país está pior em todos os sentidos”.

Na maioria das entrevistas, as pessoas acabaram atacando o PT, Lula, Dilma ou todos juntos. Quase todos disseram que a culpa pela corrupção é desse partido. O mais xingado foi, de longe, Lula. Um casal, inclusive, falou em impeachment de Dilma caso “a coisa continue a piorar”. Só um casal jovem que estava lá porque passava pelo local disse que hoje a corrupção aparece mais porque há mais informação e que o país está muito melhor hoje do que há dez anos.

Entre os organizadores do ato, descobri que estavam movimentos como o “Defenda São Paulo”, muitos alunos da universidade Mackenzie (havia até um professor contando, ao microfone, como ajudou a recrutá-los em sala de aula), a “juventude do PSDB” e o grupo Anonymous. Uma das entrevistadas se disse “militante do partido”, mas quando perguntei de que partido ela desconversou e passou a me ignorar, não mais respondendo as perguntas. E sumiu em seguida.

Por volta das 17 horas, fiz a última entrevista. Escolhi o que quase não se via na manifestação: um negro. Fiz a série de perguntas e ele, que se identificou como “Tiago”, estudante de Direito da universidade Unip, leitor da Veja e do Estadão, concordou com os outros que hoje há mais corrupção e que o país está pior do que nunca. Mas disse não entender por que não havia mais negros, ali. E arrematou: “É uma manifestação branca”.

4 comentários :

  1. SEREI OBJETIVO. ESSAS MANIFESTAÇÕES CONTRA A "CORRUPÇÃO" PARECE MAIS UMA CONVOCAÇÃO PARA CONSPIRAÇÃO CONTRA O GOVERNO, FEITA PELAS OPOSIÇÕES, GRANDE MÍDIA GOLPISTA ALIADA AO PSDB=DEM=PPS=PSOL, MUILTINACIONAIS (PRINCIPALMENTE AQUELAS DE OLHO NO PRE-SAL), DERROTADAS POR 3 VEZES E QUE NÃO SE CONFORMAM DE ESTAREM FORA DO PODER. PORÉM,se for bem observado, o movimento contra a corrupção deveria sim se concentrar contra o governo de São Paulo e Minas onde a corrupção corre solta e a tal "midia" ESCONDE os fatos. Os JOVENS que abram os olhos para que não sejam usados para fins politicos eleitoreiros de uma oposição que não tem projetos nem propostas para o País e querem tomar o poder a qualquer custo, mesmo paralizando a Nação, o governo, na tentativa de derrubá-lo , através de factóides, calúnias,difamações,distorções etc,,, querem enganar o povo e massificar os JOVENS para toná-los cumplices dos seus PLANOS , que de tão ruim são irreveláveis..... ABRAM OS OLHOS POVO E JOVENS DO BRASIL !!!... "nem tudo que reluz é ouro "... Essas manisfestações são da elite........

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  2. Ensaio

    O texto revela tudo claramente, mas agora me lembrei de um grande político brasileiro, que se estivesse vivo, diria novamente: Tem cara de jacaré, tem olho de jacaré, tem boca de jacaré e vai nos dizer que não é jacaré !? [ex-governador Leonel Brizola, (1922-2004)].

    No que se refere a afirmativa do jovem negro Tiago, devo acrescentar que, em princípio a manifestação poderia ser somente de brancos ou de negros. Este detalhe não é relevante e pode ser trivial, pois entre um branco e um negro alienado não existe diferença. A parte relevante foi exatamente o fato de ser uma manifestação de gente branca engomada, alienada, fascista e golpista. Esta é a parte realmente relevante, substantiva.

    Francisco Solano de Lima
    JP/PB, 13-10-2011.

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  3. O Brasil está muitissimo melhor que a 10 anos atrás, e felizmente, vai melhorar. Sem chances de retorno da direita golpista e com tudo melhorando, o desenvolvimento do gigante que acordou, acelerará com a entrada nos cofres do dinheiro do pré-sal e a midia alternativa na NET levando verdadeira informação a população. Hoje me orgulho de ser brasileiro.

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  4. Da uma peninha esses caras pintadas!!!. Estão crente que foram eles que derrubaram Collor. Tadinhos.

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