07/11/2011
Enviado por luisnassif, seg, 07/11/2011 - 08:00
Luis Nassif
Fato 1: Crise de 2008, o governo ordena que os bancos públicos aumentem a oferta de crédito para compensar o estancamento do crédito privado.
O Banco do Brasil turbina suas operações. Imediatamente é alvo de uma saraivada de críticas de analistas econômicos seguindo o pensamento convencional. Segundo eles, a estratégia geraria um festival de inadimplência, cumprometendo a solidez financeira do banco. Quem procurasse ouvir os executivos do BB, recebia informações tranquilizadoras.
Ao final do processo, a carteira de crédito do BB tinha crescido exponencialmente em cima do setor privado, a inadimplência tinha permanecido em níveis baixos e, nos trimestres seguintes, o banco acumulou lucros crescentes.
Nenhum dos analistas foi cobrado por seus erros.
Fato 2: ainda na crise, analistas vociferando nos jornais e na televisão para o brasileiro jogar na retranca, parar de consumir porque a crise era brava. Na outra ponta, Lula conclamando ao consumo para evitar o aprofundamento da crise. Analistas sugerindo aperto fiscal, Lula isentando produtos de impostos e sendo acusado de populista.
No final do processo, o Brasil foi o primeiro país a sair da crise, consagrando definitivamente a gestão de Lula. A opinião pública mundial nem se deu conta de que nos anos anteriores o crescimento foi pífio. Justamente porque Lula se deixou influenciar pelas recomendações do senso comum do mercado.
Nenhum dos analistas foi cobrado por seus erros de análise.
Fato 3: Serra se anuncia candidato do PSDB. Políticos de peso tentam argumentar que Aécio Neves seria o melhor candidato, por ter um índice de rejeição menor e por Serra ter feito um governo pífio em São Paulo, sem nada a mostrar. Mas analistas insistem na tese de que Serra era o mais preparado, que era um gestor re renome. Na campanha, a não ser obras viárias, Serra não tinha o que mostrar. E seu gra de rejeição foi tão grande que, no segundo turno, afastou os eleitores de Marina Silva que poderiam ter somado para sua vitória.
Nenhum dos analistas foi cobrado por seus erros de análise.
Fato 4: surge a notícia do câncer de Lula. Analistas políticos de grandes redes comemoram que a doença zeraria o jogo político. Era óbvio que não. Qualquer tragédia santifica os grandes nomes políticos. Se algo ocorresse com Lula, sua influência seria maior do que a do Padre Cícero no velho nordeste.
Hoje em dia há consenso sobre isso, a ponto da própria The Economist entender o fenômeno do crescimento na tragédia.
Nenhum dos analistas foi cobrado por erros recentes em suas análises.
Esses erros continuados ocorrem porque, há anos, a torcida - política ou econômica - tomou lugar do rigor analítico. Analistas que erraram em praticamente todos os episódios econômicos e políticos relevantes continuam opinando, como se nada tivesse ocorrido, porque, em muitos veículos, a notícia se tornou em instrumento de arma política - não de informação.
Desde os anos 50, a imprensa brasileira tinha seguido o caminho da norte-americana. Cada veículo tem sua opinião, mas não briga com os fatos: tentava-se, com isso, ao menos simular um noticiário isento.
Real ou simulado, essa isenção deixou de frequentar o noticiário dos grandes veículos há tempos.
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