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11/10/2014
Como Arminio Fraga explodiu a economia em 2002
Para que se perca a ideia de Arminio Fraga como o supereconomista, capaz de mudar o mundo com sua sabedoria
Publicado originalmente m 28/11/2012
Na condição de dirigente de instituições financeiras e de principal
guru econômico do pré-candidato à Presidência da República Aécio Neves,
o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga deveria ter mais
consideração pelo peso da sua opinião. E não desgastá-la com declarações
irresponsáveis.
Em entrevista ao jornal "O Valor", Arminio diz que 2014 poderá
repetir o terremoto financeiro de 2002, quando o dólar foi às alturas
com a perspectiva de vitória de Lula. É uma declaração que pode mexer
com o mercado, ainda mais sendo dada a um veículo de informações
financeiras online.
Em 2002, foram duas as razões para a crise financeira: a provável
vitória de um Lula, que o mercado não conhecia direito; e a atuação do
presidente do Banco Central, o próprio Armínio Fraga.
Intencionalmente ou não (de minha parte julgo que foi
nao-intencional) as medidas desastrosas adotadas na época foram o
principal combustível para o terrorismo que se instalou no mercado.
Primeiro ato: o SPB
Sabendo ter pela frente um ano nervoso, por conta das eleições, em
abril Armínio instituiu o SBP (Sistema de Pagamentos Brasileiros) que
trouxe enormes dificuldades de implementação. Além disso mudou o sistema
de acompanhamento das operações. Todas as liquidações financeiras -
troca de reservas, mudanças de fundos etc - passaram a ser feitas em
tempo real.
Segundo ato: mudou o sistema de marcação da renda fixa
Os títulos de renda fixa tem um prazo de vigência e uma curva de preços.
Imagine um título pós-fixado. O investidor compra por R$ 100,00. Se
no primeiro mês a correçao for de 1%, passados 30 dias o valor do
título estará em 100 x 1,01 = 101,00. No segundo mês, em 101,00 x 1,01 =
102,1 e assim por diante.
No caso dos pré-fixados, o cálculo diário é diferente. O investidor
já sabe antecipadamente o valor de resgate. Digamos que seja sempre
100. 12 meses antes o valor será de 100 / 1,10 ^ (12/12) = 90,91. Onze
meses antes, o valor será de 100 / 1,10 ^ (11/12). E assim por diante.
Aí Armínio decidiu implantar o chamado sistema de marcação a
mercado. Por esse sistema, o valor diário do papel dependerá do preço
final (100) descontada a taxa de juros em vigor no mercado naquele
momento.
Mas suponha que a taxa de juros salte para 15% ao ano. Nesse caso, o
valor presente do título cairá para 100 / 1,15 = 86,96. Ou seja, cairá
imediatamente de 90,91 para 86,96.
Esse é o padrão adotado nos Estados Unidos e em outras economias
maduras. Acontece que por lá não existem essas oscilaçoes malucas de
juros, como no Brasil.
Terceiro ato - a venda casada de hedge cambial
Armínio completou sua obra com uma outra operação que se constituiu
em um dos grandes desastres financeiros da história do Banco Central.
O mercado estava ávido por títulos cambiais, corrigidos pelo dólar.
Arminio montou uma operação casada. Quem quisesse adquirir títulos
cambiais, teria que adquirir no mesmo pacote títulos pré-fixados.
O que o mercado fez foi adquirir o pacote, ficar com os títulos
cambiais e despejar os pré-fixados no mercado. A inundação de títulos
pré-fixados fez os preços caírem. A quantidade negociada era pequena,
frente ao estoque de pré-fixados no mercado. Mas, na marcação a mercado,
vale o que for negociado no dia. Com a operação, caíram os preços dos
títulos pré-fixados afetando todos os fundos e investidores que tinham
títulos em carteira.
O quadro atual
Pretender que esse mesmo quadro possa se repetir em 2014 é
terrorismo puro, que depõe contra a seriedade e a responsabilidade
institucional de Arminio.
Em 2002, Lula era desconhecido; Dilma não, é candidata à reeleição.
Pretender que ela será imprevisível em um segundo mandato é
irresponsabilidade pura da parte de Armínio. Pode-se taxar a política
econômica de incompetente, jamais de temerária ou irresponsável.
Além disso, o BC não está submetido às experimentações de 2002.
Aliás, a própria imprevidência de Arminio serve de lição, para não ser
imprudente, especialmente em tempos de eleição.
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