14/10/2014
Dez coisas que o Brasil vai perder se eleger Aécio Neves
Sul 21-14/out/2014, 8h48min
Quem hoje tem 25 anos tinha 13 em 2002,
quando Lula foi eleito pela primeira vez Presidente da República. Quem
tem 18, tinha 6 naquela ocasião. Os eleitores entre estas idades
viveram os oito anos do mandato do FHC como adolescentes ou como
crianças. Não têm uma noção muito precisa, para dizer o mínimo, do que
significa “perder direitos” ou “posições”. Entraram na maturidade
“ganhando direitos e posições”, como o emprego, por exemplo.
Pode parecer hoje que tudo vai continuar
assim, independentemente de quem estiver no Palácio do Planalto, no
Ministério da Fazenda e no Banco Central. Mas não é bem assim. Aqui está
uma lista do que o Brasil vai perder caso Aécio Neves seja eleito
presidente, com Armínio Fraga como seu braço direito na economia.
1) Empregos – Aécio e Armínio costumam
falar coisas vagas, imprecisas. Mas nisto Armínio foi muito claro: mais
desemprego não faria mal ao país. Por quê? Porque na visão deste tipo de
economista o desemprego ajuda a comprimir os salários para baixo, e
isto torna o Brasil “mais competitivo”. Ou seja, eles pensam no modelo
que está devastando as economias europeias, levando-as à recessão
prolongada e atingido sobretudo os mais jovens.
2) Melhores salários – Esqueça qualquer
política de valorização do salário mínimo, dos salários em geral, das
pensões e aposentadorias, da participação dos assalariados na renda
nacional. As políticas sociais serão reduzidas, no mínimo. Tudo isto,
que hoje faz o Brasil ser considerado um sucesso internacional, é
condenável do ponto de vista desta visão econômica ortodoxa.
3) Poder aquisitivo – Em consequência, o
poder aquisitivo da população é rebaixado. A economia entra em recessão
para quem tem menos, embora possa até “melhorar” para quem já tem mais.
É como o tipo de política que os conservadores estão mantendo e
anunciando o aprofundamento na Inglaterra: compressão dos créditos e da
disponibilidade monetária e de ajuda social (como para comprar a casa
própria, por exemplo) para os mais pobres (pronunciamento do chanceler
econômico inglês, George Osborne, que pode ser lido no The Guardian).
Tudo em nome da “austeridade”.
Sim: “austeridade” para quem já leva uma vida austera; abono para quem já desfruta de uma vida abonada.
4) Investimentos produtivos – A
prometida e esperada política de juros elevados se destina a favorecer e
manipular a especulação com os títulos da dívida pública. Assim foi no
governo FHC (que também “desfrutou” de uma altíssima taxa de desemprego,
por exemplo, 25% em Salvador, atingindo também sobretudo os mais
jovens).
Portanto, o ideal deste tipo de economia é
tornar o Brasil atraente para os capitais especulativos – aqueles que se
volatilizam e vão embora assim que surge a menor contrariedade ou
aparecem praças mais atraentes. Como aconteceu na Irlanda, na Islândia,
em Chipre e outros países que se tornaram momentaneamente as meninas dos
olhos deste tipo de especulação.
Já os investimentos em setores produtivos
exigem um controle e uma orientação dada pelo Estado e sinalizada
(apoiada e garantida) pelos bancos públicos, justamente o setor que o
tipo de política prevista por Aécio e Armínio quer restringir e coibir.
5) Infraestrutura – Esqueça. Este tipo
de investimento, absolutamente necessário para garantir a dinâmica da
economia e da vida brasileiras depende desta capacidade de garantir sua
continuidade e orientação pelo setor público.
O Brasil necessita de estradas, portos,
aeroportos, rede ferroviária, transporte urbano, saneamento, hidrovias,
energia, revitalização do seu setor industrial. Isto só é possível se
houver um projeto claro para o país, se o país for mum projeto, e de
longo prazo. Para visões como as de Aécio e Armínio, o Brasil não é um
projeto: é uma praça, um mercado a ser explorado.
6) Mobilidade – Este foi um dos grandes
temas das manifestações de junho. Sem investimentos adequados em
infraestrutura, não vai haver melhor transporte nem melhor circulação
urbana, nada disso. Mas “mobilidade” não significa apenas transporte:
significa também mobilidade social, investimento em educação, em acesso a
ela, à universidade, programas de apoio a ela em todos os níveis
simultaneamente. Se o programa dos candidatos Aécio e Armínio prevêem a
diminuição do poder de intervenção do Estado, adeus tais investimentos.
7) Reforma política – Que reforma
política poderá fazer um partido cuja aliança histórica principal foi
com o DEM, ex-PFL, o velho coronelismo travestido de liberalismo, que
manietava o Nordeste quase inteiro. Aliás, este é um tema interessante:
para um certo tipo de pensamento preconceituoso, nordestino não sabe
votar quando passa a votar em frentes populares; quando votava no PFL,
era a gema das eleições brasileiras.
8) Luta contra a corrupção - Quem
precisa de total autonomia não é o Banco Central, mas sim a Polícia
Federal, como tem acontecido nos últimos anos. Nunca a Polícia Federal
foi tão ativa em levantamentos de casos de corrupção, e os chamados
crimes do colarinho branco.
Já nos tempos de FHC a dinâmica da PF era
muito menor, vivíamos sob o programa do “Engavetador Geral da
República”, lembra-se? Aliás, o número de CPIs engavetadas pelas
maiorias do PSDB e seus aliados em São Paulo e Minas é inigualável.
9) Segurança – Se você acha que aumentar
a segurança é baixar a idade penal, pode tirar, ou pôr o cavalo da ou
na chuva. Aumento de segurança se consegue com políticas de pleno
emprego, educação, reforma das polícias militares e estaduais, tudo
aquilo que empodera e revê os padrões policiais do país. Nosso sistema
carcerário e judicial precisa de reformas profundas. Já temos as
chamadas universidades do crime nas penitenciárias, para adultos. Com os
mais jovens, vamos criar também as escolas médias para a criminalidade.
10) Soberania – O Brasil é um dos únicos
países que tem relações diplomáticas com todos os países da ONU. Sua
aposta em fóruns multilaterais e na diversificação de sua política
externa tem dado resultados muito bons para om país, ajudando a
dinamizar relações comerciais e portanto a impulsionar nossa economia
num momento de recessão mundial.
A visão do PSDB acusa a política externa de
nosso país de ser “ideologizada”, mas “ideologizada” será a deles, que
querem arrefecer o Mercosul e a integração com os BRICS em nome de “se
reaproximar” – leia-se, nos reatrelar de modo subalterno – àquilo que de
mais recessivo existe hoje no mundo – as políticas periclitantes dos
EUA e da Zona do Euro, nos reintegrando a um clima ideológico herdeiro
dos tempos da Guerra Fria.
O ideal do PSDB, declarado por FHC quando
assumiu a presidência, era “o fim da era Vargas”. Sim, mas não para
diante, porém para trás, em direção à República Velha, coronelícia
(aliança do PSDB com o antigo PFL, hoje DEM, e seus antigos “currais
eleitorais” no Nordeste, em Santa Catarina etc.).
Este ideal esteve presente desde antes,
quando FHC literalmente presidiu a reforma monetária. O nome da nossa
moeda passou a ser o “real”. Aparentemente uma palavra forte, cheia de
“realidade”. Mas na verdade uma evocação da moeda dos tempos da
República Oligárquica, do Império, que de tão desgastada que foi ao
longo do tempo tornou-se o popular “milréis”, “mil reais”.
Mas é verdade que hoje o ideal do PSDB não é,
de fato, tornar o Brasil um país apenas agrário-exportador, como era
nos tempos da República Velha. Tornou-se o ideal de um país importador:
importador da especulação financeira, da recessão, da subserviência
programada. Se conseguirem impor suas políticas, vão de novo quebrar o
país, como já aconteceu em 2000/2002.
Hoje o Brasil não é mais devedor, mas credor
do FMI e da União Europeia. Nem é monitorado. Embora o Brasil não seja
membro efetivo, mas convidado, da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico, seu programa de luta contra a corrupção foi
tão elogiado pela ONU que o levou a presidir a comissão temática da OCDE
a respeito. O Brasil hoje não é mais parte da problemática, mas da
“solucionática”.
É tudo isto que o Brasil perderá, se o candidato Aécio e seu cardeal econômico, Armínio Fraga, forem sufragados.
Flávio Aguiar é professor, escritor,
correspondente internacional, tradutor, organizador e colaborador de
dezenas de livros. Atualmente vive em Berlim, na Alemanha.
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