terça-feira, 10 de março de 2015

Contraponto 16.247 - "Narciso de Castro: À mineira, Dilma virou o jogo e deixou a bomba com o Congresso"


10/03/2015


Narciso de Castro: À mineira, Dilma virou o jogo e deixou a bomba com o Congresso


Viomundo - publicado em 09 de março de 2015 às 21:08

Posse Dilma


RECEITA DE CURAU À MINEIRA OU COMO DILMA VIROU UM JOGO QUE PARECIA PERDIDO


por Narciso Alvarenga Monteiro de Castro*, enviado por e-mail


Finalmente foi divulgada a lista dos investigados na Operação Lava-jato. Também como era esperado, houve muito choro e ranger de dentes. Mas o choro mais alto se ouviu pelos lados do “aliado” do Governo, o inolvidável e inoxidável PMDB.

Quem precisa de inimigo com tais amigos? A menos que se siga o conselho do Príncipe de Maquiavel conservando os inimigos o mais próximo possível. Pode ser. Mas o certo mesmo é que o jogo virou. Se havia uma crise, ainda que anabolizada pelos meios de comunicação, esta saltou de lado na Praça dos Três Poderes em Brasília. Agora os emparedados são outros e de peso, como os notórios Presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, não por acaso, do mesmo partido.

Por conta da Lista de Janot, que já entrou para a história, tanto pelos investigados, quanto pelos seus arquivamentos, há que se louvar o trabalho de bastidores do antes execrado Ministro da Justiça de Dilma. Parece-me que José Eduardo Cardozo teve um papel decisivo no resultado. De certo que há algum padrão nos passos do Procurador-Geral da República, que sugere relação com uma provável recondução que pode ocorrer pelos dias de agosto.

Também se reconhece que o trabalho foi pautado por inegáveis critérios técnicos. Tudo é uma questão de escolha. Parece que a Presidenta acordou e realmente resolveu fazer valer os mais de 50 milhões de votos que recebeu nas urnas. E já não era sem tempo. É possível ainda existir um dedo do “mineiro” José Dirceu, que está de volta à ativa, se é que saiu. Alguém ainda vai lembrar que o guerreiro José Genoíno recebeu o benefício do indulto, por preencher os requisitos legais. É ou não é uma série de pequenos sinais de mudança da rosa dos ventos?

Para os críticos mais ácidos ou desesperados, que vociferavam contra uma suposta inação ou inapetência do governo, em especial de Dilma, cabe a lembrança que mesmo tendo se radicado no orgulhoso Rio Grande do Sul, o seu DNA ainda é mineiro. E o mineiro ou mineira que se preza come pelas beiradas da sopa.

Quando os poderosos chefes do Legislativo chegaram com o milho, a Presidenta já estava com o mingau pronto e, se duvidar, com os indigitados dentro dele!

Há que se lembrar dos enormes festejos com que a mídia platinada brindou a eleição de Eduardo Cunha para a Presidência da Câmara dos Deputados. Já Dilma, precavida, antes mesmo de nomear seus ministros, tentou humildemente descobrir se estariam ou não presos nas redes implacáveis da Lava-jato. Dada a conjuração contra si, nada que Dilma ou o governo fizessem impediria a eleição de Eduardo Cunha. Este, não custa lembrar, já estava enredado desde a Lista de Furnas, muito mais antiga que a atual.

A prova definitiva do fim do inferno astral do governo, se dá também com o tradicional pronunciamento à nação feita por Dilma em comemoração ao Dia da Mulher. O tempo vai dizer se o rumo imprimido é definitivo.

Não se deve subestimar o poder de recuperação às adversidades já demonstrada pelo Partido dos Trabalhadores ou de seu chefe maior, o ex-Presidente Lula.

Portanto, aqueles que estão na luta fratricida e antecipada de 2018, podem ficar com as barbas e o que mais quiserem de molho. A ação de Dilma, a espera até o último minuto para sair no contra-ataque, o sangue-frio, inclusive demonstrado explicitamente na nomeação do novo ministro do STF, denotam uma boa interlocução entre a atual ocupante do Palácio do Planalto e do antecessor.

Já foi dito e não custa repetir: são inúteis as tentativas para intrigar o criador e sua criatura dileta e predileta. E o debate antecipado de 2018 só interessa aos perdedores de 2014, não ao governo que dá as cartas.

Este, com a caneta e o Diário Oficial na mão, cabe mostrar aos recalcitrantes como pode ser dura a vida dos opositores e/ou golpistas, como logo vão saber o Deputado Cunha e o novo rebelde das Alagoas.

Quem blefou vai ter que pagar e dívida de jogo não é para ser perdoada fácil. Quem escapar da guilhotina vai rezar conforme a cartilha ainda a ser distribuída. Logo, logo, os deputados antes alinhados a Cunha vão mudando de lado, pouco a pouco ou em bando, conforme o costume de cada um.

Agora, o governo que não se deixe embalar pelos novos sucessos, pois como diz o poeta, camarão que dorme a onda carrega. Cumpre levar adiante a agenda positiva, cobrar o fim do julgamento pelo STF da questão do financiamento das campanhas, por a questão da reforma política e da lei dos meios de comunicação, primeiro nas ruas e depois na pauta do novo Congresso, pós Eduardo Cunha, “O Breve” e Renan Calheiros, “O Imortal”.

E a PETROBRÁS? Ah, continua a maior empresa brasileira e produzindo mais de 800 mil barris/dia apenas no pré-sal, ainda que tais fatos não saiam na grande imprensa. É chegado o momento de se aproveitarem os limões e fazer da crise uma oportunidade. Sair ainda mais forte.
Talvez esteja chegando a hora do Ricardo Berzoini mostrar a que veio e não se pode olvidar de Jaques Wagner, o Ministro da Defesa, da mesma região que levou Dilma à vitória, junto com a terra de Aécio, podendo contrabalançar a inegável pujança paulista.

Às vezes se esquecem os chamados “fatores reais do poder”, como os denominou Ferdinand Lassale, um vilão para os constitucionalistas puristas. Se o perdão é o desejável, o esquecimento pode levar a contratempos evitáveis. Muita gente falou em golpe, mas não se ouviu um só ruído vindo das casernas. Sinal de maturidade. Se existe crise, essa é apenas política, não das instituições, que nunca funcionaram tão bem antes na história desse país.


* Narciso Alvarenga Monteiro de Castro. Mestre em Direito e instituições políticas
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