Depois da votação de ontem, do regime de urgência para o projeto de
terceirização, o vice-presidentMichel Temer e o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, tinham um encontro marcado para discutir a indicação do
primeiro como responsável pela coordenação política do governo. Ao longo
da sessão, Cunha deu sinais de seu desagrado com a jogada de Dilma, ao
passo que Renan Calheiros, presidente do Senado, deu um passo à frente.
Declarou que Dilma "foi ousada" e que a escolha de Temer representa "uma
virada" na relação como Congresso e a coalizão governista.
Renan é mais pragmático. Cunha é mais sanguíneo. Se é mais propenso a
compreender que do sucesso de Temer no posto dependem tanto ele como o
PMDB. Se ele se recompõe, Cunha fica isolado em sua bronca com Dilma e o
governo.
Na sessão de ontem o presidente da Câmara não conseguiu evitar
esgares e gestos faciais involuntários a cada vez que um orador ia ao
microfone e saudava Dilma pela escolha de Temer. Mas irritou-se mesmo
foi com o deputado Silvio Costa (PSC-PE), quando este o cumprimentou
pela "indicação" de Temer, louvou Dilma e terminou dando vivas ao "PMDB e
ao Brasil". Cunha acalmou outros peemedebistas que tentaram replicar
dizendo que ele mesmo o faria. E respondeu ao orador dizendo que ele não
tinha procuração para falar em nome de ninguém do PMDB.
Mas houve depois a conversa com Temer, da qual ainda nada sabe. Ela
foi importante para definir as novas jogadas de Cunha, que não está
sozinho. Dilma, é verdade, cometeu o erro de não comunicar previamente
aos caciques do PMDB sua "ousadia". Mas, independentemente disso, Cunha
tem a seu lado uma penca de peemedebistas vestindo camisas de oposição. O
que eles querem? Juram que não é cargos nem liberação de verbas
orçamentárias? O que os atazana tanto?
Uma velha raposa da Câmara (onde a espécie está em extinção) arrisca
um palpite: estão todos com dívidas de campanha e procurando algum
socorro que o PT e o governo não lhes podem dar.
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