Enquanto na Câmara os
líderes entendiam o tamanho da enrascada em que se meteram ao aprovar o
texto básico sobre terceirização ampla e geral de mão-de-obra, adiando a
votação dos destaques para a semana que vem, no Senado o presidente da
Casa, Renan Calheiros, demonstrava ter um radar social bem mais
sensível. Em conversa com o 247, avisou:
– Terceirização é uma prática
importante para as empresas na gestão de alguns serviços mas não pode
substituir completamente as relações trabalhistas regulares. Qualquer
projeto que ameace os direitos sociais ou represente retrocesso nas
relações de trabalho enfrentará grandes dificuldades no Senado. Aqui não
passará.
Na Câmara, o projeto que enfrenta
resistência de centrais, sindicatos e movimentos sociais, e vem sendo
malhado impiedosamente nas redes sociais, teve o apoio do presidente da
Casa, Eduardo Cunha, e da maioria dos deputados peemedebistas. Ao se
posicionar criticamente, antes mesmo de o projeto chegar ao Senado,
Renan se desvencilha desta agenda que desgastará o Congresso quando
ficar mais claro que foi dele a iniciativa e não do governo. Diz ele
ainda:
– Como poderia o PMDB votar uma
medida que afeta os direitos sociais tendo sido a força propulsora da
Constituinte de 1988, que produziu a Constituição cidadã e seu admirável
artigo quinto?
Sua desvinculação antecipada da
proposta confirma o que este blog já disse: os partidos que embarcaram
no projeto (foram quase 400 votos favoráveis na votação inicial)
buscando impor mais uma “agenda legislativa” ao governo cometeram um
erro. Conseguiram devolver ao PT e aos partidos de esquerda a posição de
partidos mais comprometidos com a agenda social. Dilma é que poderia
ter se diferenciado também, pelo menos dizendo-se contrária ou
preocupada com matéria de tal gravidade social, assim como vem fazendo
em relação à redução da idade penal
.
Outras de Renan
O PMDB sempre foi de centro-esquerda, diz o presidente do Senado, justificando sua oposição à terceirização:
– O que estou dizendo sobre a
terceirização segue a mesma lógica do que defendo em relação ao ajuste
fiscal. Ele é necessário, vamos todos nos empenhar mas vamos
qualifica-lo. Vale dizer, não deixaremos que, num momento de recessão, o
trabalhador e o desempregado sejam os mais penalizados. Vamos suavizar
os sacrifícios e o governo que trate de compensar os ganhos fiscais
cortando em outras áreas, cortando no custeio. Até agora não vimos o
decreto de programação orçamentária do governo para este ano.
Ele diz ter tido dois encontros com o
jurista Luiz Edson Fachin, indicado para ministro do STF, do qual tem
as melhores referências, mas diz que o seu voto será apenas mais um
entre 81 senadores.
Já da troca do ministro do Turismo
Vinicius Lages, por ele indicado, pelo também peemedebista Henrique
Eduardo Alves, fala bem pouco.
_ Ouvi da presidente, quando da
remontagem do ministério, que ele era o melhor dos ministros do governo
passado. Já estando indicado para ser secretário em Alagoas, ficou no
posto. Se era o melhor, outras foram as razões para a troca. Mas não há
hipótese de ele vir a ocupar uma posição compensatória no Governo. Eu,
que apresentei à presidente uma proposta de redução do ministério, não
devo fazer qualquer indicação. E o PMDB tem que deixar para trás esta
questão de cargos no governo.
Mas o assunto que ele evita mesmo é
da proposta de impeachment que a oposição começou de fato a abraçar após
a prisão do ex-tesoureiro do PT, João Vacari. E isso significa apenas
que seu radar ainda está perscrutando o céu.
.
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