12/02/2016
Santayana: meritocracia não é democracia. E se não é democracia…
Mauro Santayana, em mais uma aula de lucidez dada em seu blog,
vai ao âmago da questão da legitimidade, parte inseparável de uma
legalidade democrática. Porque há outras legalidades, aprendemos com a
ditadura, que servem para oprimir e, de outro lado, para criar castas de
privilegiados poderosos.
E legitimidade é dada, nas democracias, pelo instituto do voto, não
pelo do concurso público, porque é ele quem permite o exercício da
soberania popular: o seu, o meu, o nosso direito de escolher a direção e
o dirigente de nossa cidade, estado e país.
Mas, escreve Santayana…
“O que está ocorrendo hoje é que, com
a cumplicidade de uma parte da mídia, voltada para a deseducação da
população quanto ao Estado e à cidadania, há funcionários públicos que,
longe de se submeter ao poder político – e na ausência de votos, que não
têm – pensam que foram guiados pela mão de Deus na hora de preencher as
respostas dos exames em que foram aprovados, tendo sido assim ungidos
pelo altíssimo para assumir o destino de comandar o país e corrigir os
problemas nacionais, que não são – e nunca deixarão de ser – poucos.
A situação chegou a tal ponto de
surrealismo que alguns espertos e os imbecis que os secundam na
internet, parecem querer dar a impressão de que a solução para o país
seria acabar com as eleições e os partidos e fazer concurso para
vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores, ministros do
Supremo Tribunal Federal – essa última “sugestão” se multiplica por
centenas de sites e redes sociais – e para Presidente da República.
Substituindo, assim – como se tal
delírio fosse de alguma forma possível – a soberania popular pela
“meritocracia” e o suposto saber e competência de meia dúzia de
iluminados que entraram muitos deles, na carreira pública, por ter
dinheiro para pagar cursinhos e na base da decoreba para passar em
exames – criados por empresas e instituições terceirizadas, que
ruborizariam – pelo estilo e forma como são elaborados – um professor
secundário dos anos 1950.
Afinal, para parte da burocracia
atual – à qual se poderia acrescentar, sem medo de exagerar no erro, um
“r” a mais, do ponto de vista de seu entendimento prático e histórico do
que é e de como funcionam nosso sistema político e a própria Democracia
– o povo brasileiro é visto como uma massa amorfa e ignorante, que não
sabe, nem merece, votar, e que dá o tom do nível intelectual e de
“competência” daqueles que chegam eleitos, ao Executivo e ao
Legislativo.
E o mundo dos “meritocratas”, é perfeito?
Se não fossem, boa parte das vezes,
péssimos os serviços prestados à população por essa mesma burocracia; se
os cidadãos não estivessem conscientes da importância do direito de
voto de quatro em quatro anos; se o artigo primeiro da Constituição
Federal não rezasse que todo o poder – mesmo o dos burocratas de
qualquer tipo – emana do Povo e em seu nome deve ser exercido; se não
houvesse carreiras que pagam quase 100 vezes mais do que ganha um
trabalhador da base da pirâmide social; se mais de 600 funcionários
concursados não tivessem sido demitidos, no ano passado, a bem do
serviço público, só na esfera federal, por crimes como prevaricação,
peculato, extorsão, corrupção, etc.
Afinal, para o bem da população – que
pode votar sem exigir diplomas de seus candidatos – passar em concurso –
por mais que pensem o contrário muitos brasileiros – não é selo nem
garantia de honestidade, nem de caráter, nem de sanidade mental, nem de
compromisso com o bom senso, ou com o futuro, com a soberania, o
desenvolvimento e a dignidade da Nação.
Ou passou a ser isso tudo, e não fomos informados disso?”
De qualquer forma, para confirmar o que diz Santayana sobre a meritocracia não ser ” não é selo nem garantia de honestidade, nem de caráter, nem de sanidade mental, nem de compromisso com o bom senso, ou com o futuro, com a soberania, o desenvolvimento e a dignidade da Nação”, talvez bastasse lembrar que Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Pedro Barusco – sim, senhor – eram todos “de carreira”.
De que carreira, sabemos bem, agora.
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