14/04/2016
Dilma ou Temer?
Brasil 247 - 14/04/2016
Emir Sader
Moreira Franco, coordenador do projeto golpista, disse que a alternativa no Brasil hoje é entre Dilma ou Temer. Como tudo o que ele diz, é raso, vulgar e equivocado.
Para começar, do lado do Temer está o Eduardo Cunha, resumo de tudo de pior que tem o país hoje. Alinhar-se a ele ja basta para dar a natureza e os limites do que significa o projeto encabeçado pelo Temer. Um governo seu teria à cabeça a pior reunião de políticos tradicionais, que so vivem à sombra das negociações parlamentares sombrias, todos eles envolvidos em casos de corrupção, alguns com vários processos no próprio STF.
Seria a alternativa para aprofundar a crise, porque esse governo nao teria condições de governar. Seria assediado desde fora, com a mesma punição que os golpes brancos similares tiveram – os de Honduras e do Paraguai – com a suspensão do Brasil dos organismos regionais – Mercosul, Unasul, Celac –, até que a institucionalidade fosse restaurada, com o retorno do presidente eleito ou com novas eleições democráticas.
Além disso, seria um governo que nasce sob o signo da traição e de um programa que resume o que de mais restaurador das propostas conservadoras e anti-populares existe hoje no pais, na continuidade dos retrocessos impostos pelo Congresso, sob a direção de Eduardo Cunha. Um programa que tem um viés abertamente de vingança contra os direitos sociais conquistados desde 2003, por mais que se diga que se vão manter os programas sociais. Assim como acontecia com os candidatos da direita na campanha eleitoral de 2014, suas políticas econômicas apontam na direção opostos, em cortes duros nas políticas sociais. (Recordemos que Arminio Fraga, consultado por Temer, afirmou que o problema do Brasil é que “o salário mínimo é muito alto”, de onde se pode imaginar que tipo de política econômica e social teria um governo de direita.)
Alem desse caráter antipopular, esta presente na plataforma elaborada por Moreira Franco para o PMDB um objetivo claramente entreguista, que visa, conforme as propostas o Serra, privatizar a Petrobras e o pré-sal, sob o pretexto de que faltam recursos para investir. Um objetivo que aponta diretamente para trazer as grandes empresas internacionais do petróleo para se apropriar da nossa maior riqueza e do projeto que mais garante o nosso futuro.
Um programa antipopular e antinacional, hoje, diante dos avanços conseguidos nestes anos e das extraordinárias mobilizações do povo em todo o Brasil, em todos os setores da sociedade civil, se chocaria com esses obstáculos, e só sobreviveria por meio da repressão e de medidas antidemocráticas. Como poderia conviver com esse poderoso movimento nas ruas e com uma liderança como a do Lula? Nao ha duvida que ao caráter antipopopular e antinacional, se somaria o caráter antidemocrático e autoritário, ditatorial, embutido no projeto da direita hoje.
Um governo Temer, ao contrario do que diz, não significaria o fim da crise, mas seu aprofundamento e prolongação. Se geraria a maior crise social e politica que o Brasil já conheceu, com impasses abertos à ação de um governo de direita no país hoje. Na sua ingovernabilidade, teria que apelar para medidas repressivas em todos os planos, ao mesmo tempo que teria que tomar decisões que libertassem seus principais dirigentes dos graves processos de corrupção. Teria que agira contra os movimentos populares, os partidos de esquerda, as entidades da sociedade civil, o próprio Judiciário, a mídia alternativa. Tentando sobreviver contra o consenso nacional de hoje de que “Não vai ter golpe”, jogará o Brasil no caos, como deseja a direita e as forcas internacionais que se interessam em inviabilizar o pais, a integração latino-americana e os Brics. Constituiria, com o governo argentino atual, um núcleo neoliberal que trataria de desarticular os outros governos progressistas da região e recolocar a região no circuito neoliberal, que tantos danos provocou aos nossos países nos anos 1990.
Tendo a seu lado ao Lula, Dilma se propõe a um novo governo, que é a única via hoje para terminar com a crise. Propor um pacto nacional de retomada do crescimento econômico com distribuição de renda, que dê inicio a um verdadeiro processo de reconstrução do país, vitimizado pelas forças que, de uma ou outra forma, estão desarticulando o potencial produtivo que fomos acumulando ao longo do tempo. Uma proposta que pode, perfeitamente, abrir um grande debate nacional sobre as propostas de futuro para o Brasil, que pode desembocar numa Assembleia Constituinte em 2018, que promova as reformas, não apenas do sistema politico, mas o próprio Estado brasileiro, para coloca-lo em condições de promover e não de obstaculizar o desenvolvimento econômico, social, politico e cultural que o Brasil precisa.
Mas, para evitar o caos que o governo Temer representaria, e para reencaminhar o pais no caminho do seu desenvolvimento, em paz, com progresso social e diversidade cultural, é preciso agora derrotar a direita, brecar o golpe que significa o impeachment. São estas alternativas diametralmente opostas que estão em jogo, não apenas a alternativa Dilma ou Temer. A alternativa Lula ou Eduardo Cunha resumiria melhor os dilemas que estão sendo decididos nestes dias no Brasil, que definirá não apenas seu futuro imediato, mas sua fisionomia em toda a primeira metade do novo século.
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