sábado, 30 de abril de 2016

Nº 19.262 - "O jogo, agora, vai ser fora do estádio. Por Jari da Rocha"

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30/04/2016 


O jogo, agora, vai ser fora do estádio. Por Jari da Rocha


por · 30/04/2016

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A frustração, ao presenciar a derrota do grande plano de conciliação das classes, deve mesmo ter levado o ex-presidente Lula as lágrimas. Não por arrependimento.

Lula sabia que não poderia mexer com as grandes fortunas sem ser importunado. Manter os lucros exorbitantes entreteria os milionários enquanto os mais necessitados iam sendo puxados do buraco negro da miséria.

Atender a população carente de um lado e deixar a elite continuar a encher as burras de dinheiro.
Lula deve ter pensado. Ou é “o que der” ou não será nada.

Conseguiu varrer a miséria e é justamente esse o seu capital político. Capital político, aliás, internacional.
Esticar a corda com o segundo mandato de Dilma foi fatal. Não havia, como vemos, tanta gordura para queimar. Era um risco muito alto e a corda arrebentou.

Dilma não é Lula. Lula não é Dilma.

Cardozo é o sujeito que será lembrado pela apatia no período regulamentar e pelo gigantismo depois do apito final. Enquanto todos já vão para o chuveiro, Cardozo segue em campo com arrancadas sensacionais pela esquerda, cruza, cabeceia, dá de trivela e pode até fazer algum gol.

As luzes do estádio já começam a ser apagadas e a técnica ainda parece nutrir alguma esperança.
Lula sempre gostou de usar metáforas futebolísticas. O juiz roubou, mas o time também não se ajudou, diria.

Ministros patéticos se acotovelam no corredor. Não são culpados, ninguém deve lhes ter exigido competência em caso de incêndio.

Correm de um lado para o outro, atônitos. Outros, menos preocupados, mal sabem o que acontece. Há também quem faça sessão de fotos com alguma gostosona para mostrar para os netos.

À presidenta resta ainda o último gesto (quantas vezes se falou disso?).

Deve estar relutando porque isso seria admitir culpa ou que não seria uma jogada republicana.
Às favas com republicanismos. Ou ela luta por novas eleições agora ou espera, pacientemente, o inimigo enterrá-la viva.

Não há decência no Senado e o Supremo é caolho.

Em meio a todo medievalismo teocêntrico e bárbaro, quando não se espera mais nada dos bravos combatentes da legalidade, algumas vozes vão surgindo. Vozes juvenis.

Os jovens vêm surpreendendo a cada dia que passa. Superam-se a cada batalha, a cada dificuldade imposta pelos bandidos multimídia da nação.

Essa multidão de meninos e meninas estão fazendo a diferença e nos dão esperança no futuro. Eles têm brilho nos olhos.

(Não são os ‘brasileirinhos’ que a voz descontrolada e hipócrita – ausente nos tempos de penúria – pede para ser ouvida. Onde é que estava essa senhora quando se morria de fome no Brasil?)

Alento que contrapõe o histerismo pentecostal grandiloquente e a caduquice de velhos babões que pisoteiam na própria história.

Eles venceram, mas o sinal não está fechado para esses jovens.

Nem, tampouco, para quem não foge da luta.

Enquanto Lula enxuga as lágrimas, enquanto ministros se atropelam, enquanto Dilma (e Cardozo) está sentada, com a boca cheia de dentes, esperando o STF chegar e enquanto ratos vão se escondendo nos armários da transição (muitos já cooptados pelo novo chefe), um homem dá um passo a frente.

Ele vem de Lagoa Vermelha e tem na ponta da língua os nomes de todos os líderes dos movimentos sociais. Sabe de cor (de coração) quem é quem na luta pela verdadeira democracia e aponta o dedo na cara dos farsantes, dando nome aos bois que travam o país.

Acima dele está Lula, ninguém mais.

João Pedro Stédile é o maior nome da luta e da resistência hoje. Isso é um fato e nem ele, nem Rui Falcão nem Lula escondem mais isso.

Ele chamou a briga pra si e não dá sinais de arredar pé.

Enquanto Cardozo avança, no escuro, pelo meio campo, Stédile já cercou o estádio.

A guerra só termina quando acaba.

E a guerra mal começou

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