segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Nº 20.945 - "O dia em que Darcy Ribeiro não deu Ibope"

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20/02/2017

O dia em que Darcy Ribeiro não deu Ibope


Do Blog do Kotscho - 19/02/2017


 O dia em que Darcy Ribeiro não deu Ibope
O antropólogo Darcy Ribeiro (Foto: Luciana Whitaker/Folhapress)


Ricardo Kotscho


Ainda bem que muitos se lembraram. Nesta sexta-feira, fez 20 anos que morreu o professor Darcy Ribeiro, um dos grandes mestres da brasilidade.

Brasileiro, acima de tudo, Darcy era um apaixonado pela sua terra e sua gente, e eu pelas coisas que ele escrevia e defendia.

Por isso, no dia da sua morte, 17 de fevereiro de 1997, cheguei mais cedo ao trabalho.

Na época, eu trabalhava como diretor de jornalismo da CNT/Gazeta, uma rede sediada em Curitiba. Logo pedi à minha equipe que preparasse uma edição especial do nosso telejornal sobre a vida e a obra dele.

Não existia Google nem nada, desconfio que alguns daqueles jovens nem sabiam de quem se tratava, mas eles foram à luta e fizeram uma bela pesquisa de texto e imagem em bibliotecas e arquivos, tão boa que resolvi dedicar quase todo o tempo do CNT Jornal a um só assunto: Darcy Ribeiro.

Teve quem achou um exagero, mas eles fizeram o trabalho com gosto e eu fiquei muito orgulhoso do resultado.

Quando terminou o telejornal, a equipe reunida na minha sala, como fazia todas as noites, até aplaudiu o encerramento, mas um deles cortou meu barato.

_ Chefe, ficou muito bom, mas acho que o nosso Ibope vai despencar...

E não deu outra. Como ainda não existia o acompanhamento do Ibope online, minuto a minuto, a gente só recebia um fax no dia seguinte com a média de audiência, que oscilava entre um e três pontos, mas tinha dias em que ganhava dos telejornais do SBT e da Bandeirantes.

Vocês podem imaginar minha decepção quando vi que aquela edição especial tinha dado só um ponto.

Ainda bem que não deu traço, pensei, conformando-me com a realidade de que a maioria do nosso público não sabia quem foi o antropólogo, educador, político, escritor de tantos livros, criador dos Cieps no Rio e da Universidade Nacional de Brasília.

Algum tempo depois, eu estava dirigindo o jornalismo do Canal 21, da Rede Bandeirantes, em São Paulo, para onde levei parte dos jovens de Curitiba.

No dia da morte do cantor Leandro, que fazia a famosa dupla com o irmão Leonardo, astros da música sertaneja, resolvemos ficar no ar ao vivo o dia inteiro, com várias equipes fazendo a cobertura completa sobre a vida, a obra, a família, os fãs e o velório do cantor, que causou uma comoção nacional.

Já havia no meu computador a medição online do Ibope, e a audiência não parava de subir, minuto a minuto.

Batemos nosso recorde de audiência, chegando a cinco pontos, uma enormidade para uma emissora em UHF dedicada à cobertura local de São Paulo.

Todo mundo sabia quem era Leandro, mas não quem foi Darcy Ribeiro.

Este é o Brasil real, que o professor mineiro nascido em Montes Claros, vice-governador de Brizola, ministro-chefe da Casa Civil de João Goulart, tanto amou e a quem dedicou seus 75 anos de vida.

Hoje, quem ocupa o mesmo cargo no Palácio do Planalto chama-se Eliseu Padilha.

E vamos que vamos.

Para onde?

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PITACO DO ContrapontoPIG


Darcy Ribeiro  X  Eliseu Padilha.  O Brasil dos sonhos  X  o Brasil dos pesadelos.

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