segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Nº 20.950 - "Racha intestino - por Mino Carta"

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20/02/2017

Racha intestino



Carta Capital - publicado 20/02/2017 00h03, última modificação 17/02/2017 09h50 - Editorial


A continuidade da Lava Jato rompe a aliança golpista, unida apenas pelo propósito de alijar Lula da corrida presidencial. E que partido tomará a mídia?

Lula
O candidato imbatível. Caso os golpistas consigam seu intento, o Brasil corre o risco de cair nos braços de Jair Bolsonaro


por Mino Carta


Uma pesquisa CNT-MDA informa que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva ganha as eleições presidenciais de 2018 com maioria relativa no primeiro turno e absoluta no segundo. Não há tucanos ou peemedebistas entre seus adversários mais cotados. No rol figuram Jair Bolsonaro, como fruto do discurso do ódio, e Marina Silva, a resultar da ilusão. Os números são trágicos para os golpistas no poder.

Pergunto aos meus intrigados botões que efeito haverá de ter a pesquisa sobre o comportamento da República de Curitiba em relação ao destino de Lula. No mês passado, dois graúdos delegados divergiam. Um dizia ter-se esgotado o timing para a  prisão do ex-presidente, o outro não concordava. Em que medida a pesquisa divulgada na quarta-feira 15 atiça os propósitos de Sergio Moro e da sua turba de promotores milenaristas?

Matutam os botões, a partir da consideração de que um racha se define progressiva e impetuosamente entre as forças golpistas, e o pomo da discórdia é a própria Lava Jato. Cada vez mais escancarada a postura de cada facção. Um único objetivo ainda as une: alijar Lula da corrida presidencial. Mas é possível admitir, ao cabo destes anos todos de tormento, que o único objetivo da operação curitibana seja impedir o ex-presidente de voltar a sê-lo nos braços do povo?

Tudo é possível no Brasil do golpe, murmuram soturnamente os botões, e eu me pego a anuir, forçado pelas evidências. Contudo... Contudo, engato outra pergunta: que dirá o Brasil diante da violência cometida contra seu único grande líder? Como afirma Raduan Nassar, ao receber o Prêmio Camões, “vivemos tempos sombrios, muito sombrios”. Até quando o povo brasileiro aguentará tanta privação, tanta humilhação, tanta prepotência?

Cabem dúvidas quanto à aposta na cordialidade popular, entendida como resignação. A marcha inexorável da recessão trabalha contra os senhores. A comparação entre os tempos do governo Lula e os dias de hoje também, enquanto grassa o conflito nas hostes golpistas. O quadro é sombrio, está claro, passível, porém, de revelar um país que a casa-grande não imagina.

Embora pessimista na inteligência, como recomenda Antonio Gramsci, e escassamente inclinado à esperança, conforme aconselha Spinoza, dias esperançosos vivi durante a ditadura, na crença de que, ao terminar o estado de exceção, o Brasil encontraria o caminho da liberdade e da igualdade. Com a chamada redemocratização, precipitei na desilusão. E se um raio de sol subitamente penetrasse a selva obscura?

Algo, de todo modo, me espicaça neste exato instante: diante da fratura a se alargar dentro das forças golpistas, em um país privado pela força e pela insensatez das suas instituições, que comportamento tomará a mídia nativa? Contra ou a favor da messiânica operação curitibana?

Perplexos, os botões intensificam a reflexão. Concordam, porém, com a importância do quesito, determinante na visão do futuro imediato. O apoio midiático à Lava Jato foi maciço e constante, em benefício dos vazamentos seletivos. Em momento algum a propaganda do pseudojornalismo deixou de projetar a Lava Jato como a imbatível ponta de lança do combate à corrupção.

Nada contra esta sacrossanta batalha, desde que, ao contrário da operação em curso, não poupe quem quer que seja. Desde que não atue politicamente na tentativa de  destruir um partido e seu líder e seu líder. Desde que não cometa irregularidades imperdoáveis e ofenda gravemente a própria lei que pretende aplicar.

A maior afronta cometida pela Lava Jato foi ignorada pela mídia nativa, bem como todas as demais. Refiro-me à interpretação errada, em clamorosa má-fé, do conceito da delação premiada, inaugurada na Itália na operação antimáfia e confirmada por  Mani Pulite. Entenda-se a diferença. Uma coisa é a delação do preso por culpa provada e sentenciada, destinada a abrandar-lhe a pena, outra é prender sem prova para forçar a delação. Escárnio cometido em nome da felicidade geral da nação ignorante.

Não sei, e tampouco sabem os meus botões, que fará a mídia agora, enquanto se define o racha intestino. Confesso que, na expectativa, ganho bastante diversão.
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