Nº 23.877 - "Que tipos de terroristas os EUA e seus aliados armaram na Síria?"

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15/04/2018

Que tipos de terroristas os EUA e seus aliados armaram na Síria ?

Do Brasil 247 - 15/04/2018

por LÚCIA HELENA ISSA 


1) Durante minha estadia de mais de 20 dias no campo de refugiados de Zahle, e nas mais de 100 entrevistas que fiz com mulheres, mães, médicos, professores, crianças, jovens e idosos refugiados ali, ficou muito claro para mim, assim como para alguns jornalistas internacionais independentes, que nunca existiram "rebeldes moderados". A oposição armada sempre foi extremamente violenta.

Os grupos armados e financiados pelos EUA se uniram rapidamente ao ISIS e à Al Qaeda na Síria e aos mercenários vindos do exterior.

2) Fui descobrindo também - e com imensas evidências - que os cristãos, antes protegidos na Síria por Assad, que criou leis para protegê-los e sempre foi apoiado por milhares de cristãos, depois da intervenção dos EUA começaram a ser mortos e a ter suas mulheres sequestradas.

3) Uma das mulheres que entrevistei, uma bonita cristã com duas filhinhas, havia sido violentada e desfigurada por terroristas, e seu pai e marido haviam sido degolados pelos "rebeldes moderados" que Trump e sauditas financiaram.

4) O ISIS enriqueceu de forma meteórica não apenas com a venda e tráfico de armas deixadas pelos EUA no Iraque, mas também porque passou a vender barris de petróleo roubados do Iraque, depois que a invasão dos EUA o transformou em um estado zumbi.

5) Descobri também que esses grupos chegaram, sim, a usar gás cloro, cuja fabricação não é complexa, em 2017, matando centenas de crianças e idosos, mas os EUA teriam utilizado as imagens contra o governo sírio.

6) Descobri também que vários países ocidentais, como a França ou países aliados aos EUA, como a Turquia, alegavam estar combatendo os terroristas do ISIS, enquanto faziam grandes negócios com eles, comprando petróleo barato diretamente de Al Bagdhadi, o líder do grupo.

7) Descobri também que os terroristas do ISIS na Síria receberam milhões em doações de radicais sauditas que praticam o wahhabismo, corrente radical rejeitada por muçulmanos que entrevistei no mundo todo, mas praticada pelos sauditas, os grandes aliados árabes dos EUA.

8 ) Descobri ainda que os grupos terroristas ligados ao ISIS ou Estado Islâmico, que John Kerry admitiu há dois anos ter armado "por engano" na Síria, também enriqueceram vendendo meninas muçulmanas de famílias que apoiavam Assad e mulheres de minorias como as Yazidis como escravas sexuais.

9) Descobri que, quando os terroristas tomaram a cidade de Sinjar, no norte do Iraque, por exemplo, milhares de meninas e mulheres foram aprisionadas e muitas usadas como escravas sexuais. Antes da invasão dos EUA, o governo iraquiano protegeu por décadas cristãos, yazidis e outras minorias no Iraque, algo fartamente comprovado.

10) Testemunhei que os terroristas da Frente Al Nusra, a Al Qaeda na Síria, que os sauditas e americanos fortaleceram com armas na fronteira, aumentaram suas receitas também agindo como uma espécie de Cosa Nostra, se máfia siciliana ou milícia carioca, praticando extorsões contra comerciantes sírios para que suas lojas não fossem bombardeadas ou mesmo roubadas. Fiz uma longa entrevista com dois comerciantes que haviam perdido suas lojas dessa forma. E isso nada tem a ver com a religião muçulmana ou qualquer religião. Chama-se crime organizado em qualquer lugar do mundo.

11) Você consegue imaginar o que aconteceria no Brasil se os EUA armassem criminosos e estupradores ligados ao Comando Vermelho, causando uma longa guerra civil aqui e os chamasse de "rebeldes moderados"? Foi exatamente isso o que testemunhei na Síria.


LÚCIA HELENA ISSA - Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília"

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