02/07/2018
Opinião
Cérbero e a Medusa
A realidade mostra que o cão do inferno serve o monstro da cabeleira de serpentes
Da Carta Capital — publicado 02/07/2018 00h10, última modificação 29/06/2018 11h36
por Mino Carta
A mitologia da antiga Grécia é flor de estufa da sabedoria mais profunda e até hoje traça o caminho de quem investiga a alma humana. E direi então que, se Cármen Lúcia é a Medusa, Edson Fachin é o seu Cérbero, o cão do inferno de três cabeças.
No caso, permito-me um retoque à trama grega, pois, pelo que sei, parceria não houve entre o monstro e o animal terrificante. Agora está claro, porém, que a dupla pode agir ao sabor de uma aliança feroz para manter Lula onde se encontra, condenado sem provas e preso contra a lei.
Cérbero, digo, o citado Fachin, nesta encenação confirma-se como subdoloso ser de muitas faces e dentes afiados. Nascido em Rondinha, Rio Grande do Sul, 5,5 mil habitantes, saiu da sua aldeia, mas esta não saiu dele. Assim emergiu a cabeça do provinciano recalcado em busca de ascensão.
Advogado de causas justas, não se sabe se por fé ou oportunismo, Fachin acabou por defender publicamente a legitimidade de ações do MST, organização que muitos encaram como subversiva. Para chegar a envergar a toga do Supremo, Fachin recorreu à recomendação de João Pedro Stedile, líder dos sem-terra.
Recomendação importante junto à presidenta Dilma, talvez decisiva. E Fachin chegou lá. Ao assumir o papel desempenhado pelo falecido Teori Zavascki, a relatoria da Lava Jato, ele mostrou os dentes, a contar com o incentivo da Medusa.
As figuras mitológicas assumiram carne e osso para fazer o jogo dos golpistas empenhados em explorar a demência do País e vendê-lo a preço de ocasião. Enxovalham impunemente, e diria mesmo coerentemente, uma dita Alta Corte em proveito do Brasil da casa-grande e da senzala.
As razões do ódio desvairado a Lula, tão bem representado pela Medusa e seu Cérbero, merecem um estudo capaz de atingir as raízes. Não basta limitar-se ao ódio de classe e à crença, alimentada também por muitos pobres, de que presidente da República tem de ser doutor.
Não basta entender que inúmeros brasileiros graúdos enxergam no ex-presidente e no seu partido a força maligna que levaria à comunistização do Brasil ou a uma forma de chavismo verde-amarelo.
Nesta edição, José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, entrevistado por Carlos Drummond, fixa com extrema precisão os elos entre as ações que com o golpe de 2016 resultam no estado de exceção em que continuamos a precipitar.
Há uma precisa ligação, uma implacável conexão, entre a Lava Jato e o desmonte da Petrobras para entregar o nosso petróleo aos Estados Unidos e outros mais, e, enfim, com a interdição eleitoral de Lula, preso para impedir a vitória de quem representaria o entrave fatal ao entreguismo criminoso.
O golpe corresponde ao propósito da casa-grande de reconduzir o País à condição de vassalo de Tio Sam, obediente na aplicação do neoliberalismo e na divinização do mercado a favor do rentismo.
A entrevista de Gabrielli nos conduz à percepção de que por trás do golpe há um plano minuciosamente elaborado, com suporte estadunidense, como é fácil imaginar. Mais complexa a tentativa de perceber as razões de Edson Cérbero e Cármen Lúcia Medusa.
Engajam-se de caso pensado na operação anti-Lula, afinados com as vontades da casa-grande, ou participam da demência geral? Os botões me puxam pela manga, perguntam: mas que diferença há entre uma situação e outra? A demência é própria do enredo em todos os seus aspectos, de cabo a rabo.
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