domingo, 5 de agosto de 2018

Nº 24.714 - " A 'Operação Borracha' "

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05/08/2018

 A “Operação Borracha”


Do Tijolaço - 05/08/2018


 

Por FERNANDO BRITO 

Na parte final de “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo,  depois que finalmente são sepultados os mortos inconvenientes que, insepultos, teimavam em dizer verdades pela vila, os principais do lugar criam a “Operação Borracha”, com a qual pretendem apagar da memória do povo os fatos que aconteceram.

Nesta eleição, viveremos aquilo que tentaram fazer na  pequena e imaginária cidade.

No mundo “oficial”, aquele descrito pelos principais de nossa imensa vila Brasil, será dito ao povo brasileiro que a prosperidade virá com mais daquilo que temos já há tempos: cortes nos gastos públicos, abandono dos sonhos de progresso (megalomanias, dirão) e com a necessidade de nos ajustarmos – leia, obedecermos – a uma ordem mundial crescentemente injusta.

E que a década que vivemos com aspirações de progresso, com (ainda que parcos) avanços sociais, com a afirmação do Brasil no mundo e com milhões de pessoas, afinal, podendo acreditar em um futuro para seus filhos e netos foi, afinal, uma fantasia, uma espécie de Carnaval que, depois dos quatro dias, tem de se desfazer na duríssima realidade dos “sem-sonho”.

Merval Pereira, que é uma espécie de sumo do pensamento conservador – para que você veja como andamos mal de pensamento conservador – diz que Lula promete  um “retorno ao tempo em que, com o mundo prosperando como nunca antes se vira, conseguiu tirar milhões da pobreza”.

Como se vê, na visão desta gente, até para desenvolvimento e  justiça social precisamos que venham de onde nunca vieram para país algum: do mundo. E que, claro, conformem-se, não virá mais.

Voltar aos bons tempos é um sonho que embala ainda 30% dos eleitores, que não desconfiam que esse é um sonho impossível.

Explica-se, assim, o empenho de, deixado de lado qualquer prurido institucional, além de “matar” Lula, cuidar que ele seja politicamente sepultado dentro de uma cela e não possa “assombrar” a paz do inferno no qual querem que permaneça o povo brasileiro.

Última obra de Veríssimo, o livro foi lançado em plena euforia do “Brasil que vai pra frente”, com o qual se contava apagar a memória da democracia morta em 64. Hoje, diante do “Brasil que vai pra trás” parece mais difícil que os “apagadores da História” a consigam sepultar.

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