quinta-feira, 14 de março de 2019

Nº 25.258 - "Atirador de Suzano teve a vida marcada por bullying e abandono dos pais"

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14/03/2019

Atirador de Suzano teve a vida marcada por bullying e abandono dos pais

Guilherme e Luiz Henrique cresceram juntos e moravam na mesma rua. O primeiro abandonou a escola um ano antes de concluir ensino médio.

Do GGN - 14/03/2019

............................Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil


Jornal GGN – Os dois jovens e autores da tragédia de Suzano, Guilherme Taucci, 17, e Luiz Henrique Castro, 25, cresceram juntos, na mesma rua gostavam de games e, um deles, teve a vida marcada pelo abandono dos pais e bullying na escola. É o que conta reportagem da Folha de S.Paulo, publicada um dia após o massacre.

Guilherme e Henrique invadiram a Escola Professor Raul Brasil, onde estudaram, na manhã desta quarta-feira (13) matando sete pessoas e ferindo outras onze, entre alunos e funcionários. Antes de chegar ao colégio, Guilherme parou na loja do tio, Jorge Antônio Moraes, irmão da mãe, e atirou contra ele. O tio morreu no hospital.

A reportagem descobre que Guilherme morava com a mãe, mas foi criado pelos avós. Ele havia sido fruto de um breve relacionamento. A família conta que com a morte da avó, quatro meses atrás, o jovem passou a dar sinais de tristeza permanente.

“Nosso relacionamento até que não era ruim. Mas a gente quase não conversava”, revelou a mãe.

Na casa onde vivia, de tijolo aparente, entulhada de móveis e objetos, no Jardim Imperador, o quarto de Guilherme ficava nos fundos. Antes de sair para o atentado, ele deixou no chão do quarto uma foto queimada, que a mãe reconheceu como sendo uma foto sua com o pai do adolescente.

“O adolescente é um indivíduo que passa por uma transição severa na vida, são inúmeras transformações biológicas, psicossociais. Muitos se isolam. É um período difícil”, pontuou conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e um dos coordenadores do Atlas da Violência em entrevista ao GGN, Daniel Cerqueira.

Para acolher adolescentes que passam por algum período psicossocial conturbado são necessárias políticas de inclusão e que ajudem os jovens a conviverem com pessoas que são ou pensam de forma diferente. “Em países de primeiro mundo são implementados programas educacionais que reconhecem essa diferença do indivíduo, que incentivam o estabelecimento de diálogo entre os próprios jovens para conviverem com as diferenças e respeitando-se mutuamente”, explica Cerqueira.

O atentado que Guilherme e Henrique realizaram na escola de Suzano terminou com o suicídio dos dois. A mãe de Guilherme conta que ele abandonou os estudos um ano antes de concluir o ensino médio, porque não aguentava mais ser “zoado por causa das espinhas no rosto”. O avô, que ajudou a criá-lo chegou a pagar um tratamento para neto.

Luiz Henrique, o outro atirador, morava a poucos metros de Guilherme em condições de vida e família um pouco mais estruturadas. Vivia com pais e irmãos nos fundos da casa do avô, em “uma construção térrea de pintura alegre e jardim cuidado”, conta a matéria da Folha. Henrique havia começado a trabalhar com o pai, no ramo da jardinagem.

Desde a infância, Guilherme e Henrique andavam juntos. Eles eram considerados normais, “falavam bom dia, boa tarde, boa noite. Não usavam drogas”, conta um vizinho que os viu crescer, o motorista Cássio Nogueira.

O programa mais recorrente da dupla eram passeios pelo shopping e visitas regulares a LAN house do bairro, onde jogavam video-games de tiros. “Por aqui passam cerca de cem pessoas por dia, e quase todos jogam games de tiros. Se isso determinasse alguma coisa, todas essas pessoas seriam assassinas”, pondera Tatiane Motta, 27, que trabalhou no local.

Ela conta que os dois jogavam videogames pelo menos três vezes por semana na LAN house. Apesar da frequência, eram fechados e xingavam muito durante a partida. Um dia ela ficou assustada ao ver que um deles usava um pingente com a suástica nazista no pescoço. A partir dali, os dois clientes passaram a ser vistos com cautela.

Uma tia e vizinha de Guilherme falou ao jornal que a família está com medo de represálias e que estão sofrendo ataques nas redes sociais, como co-responsáveis pela crime praticado pelos dois jovens.

“Eu entendo a revolta das pessoas, mas não podemos pagar por aquilo que não fizemos. Estamos todos sofrendo, mas estamos com muito medo também.”

“No Brasil o que temos visto nos últimos anos é a brutalidade aumentada nos discursos de ódio, o uso da violência para resolver problemas. O que se propõe é exterminar o outro quando pensa diferente de mim”, explica Cerqueira concluindo que o papel do Estado na promoção ou redução das taxas de criminalidade, e isso inclui a relação entre políticos e seus seguidores, também deve ser considerado, analisando tragédia de Suzano dentro de um contexto maior: o cultural.


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