sábado, 7 de julho de 2012

Contraponto 8644 - Homenagem do blog ao poeta Ronaldo Cunha Lima

07/07/2012

Políticos e amigos se despedem de Ronaldo Cunha Lima na Paraíba
Em João Pessoa, o velório acontece no Palácio da Redenção.
Ronaldo Cunha Lima morreu aos 76 anos na manhã deste sábado.

Ronaldo Cunha Lima morreu aos 76 anos
(Foto: Leonardo Si
lva/Jornal da Paraíba)

Do G1 Paraiba- 07/07/2012 16h35 - Atualizado em 07/07/2012 16h35


cSenador Cássio Cunha Lima durante velório de Ronaldo Cunha Lima, em João Pessoa (Foto: Walter Paparazzo/G1)

Senador Cássio Cunha Lima se despede do pai
durante o velório (Foto: Walter Paparazzo/G1)

Centenas de pessoas foram ao Palácio da Redenção, em João Pessoa, para se despedir de Ronaldo Cunha Lima. O ex-governador morreu aos 76 anos na manhã deste sábado (7) na casa da família na capital. Os familiares, amigos e admiradores de Ronaldo prestaram suas homenagens. “Há uma tristeza enorme, saudade enorme, mas ao mesmo tempo há uma força enorme como se a presença dele estivesse ao nosso lado”, disse Ronaldo Cunha Lima Filho, um dos filhos do ex-governador.


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Na Paraíba, alguns elementos que faziam uma serenata foram presos. Embora liberados no dia seguinte, o violão foi detido. Tomando conhecimento do acontecido, o famoso poeta e senador Ronaldo Cunha Lima enviou uma petição ao Juiz da Comarca, em versos, solicitando a liberação do instrumento musical.


Senhor Juiz.


Roberto Pessoa de Sousa


O instrumento do “crime”que se arrola

Nesse processo de contravenção

Não é faca, revolver ou pistola,

Simplesmente, Doutor, é um violão.

Um violão, doutor, que em verdade

Não feriu nem matou um cidadão

Feriu, sim, mas a sensibilidade

De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,

Instrumento de amor e de saudade

O crime a ele nunca se mistura

Entre ambos inexiste afinidade.

O violão é próprio dos cantores

Dos menestréis de alma enternecida

Que cantam mágoas que povoam a vida

E sufocam as suas próprias dores.

O violão é música e é canção

É sentimento, é vida, é alegria

É pureza e é néctar que extasia

É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório.

Mas seu destino, não, se perpetua.

Ele nasceu para cantar na rua

E não para ser arquivo de Cartório.

Ele, Doutor, que suave lenitivo

Para a alma da noite em solidão,

Não se adapta, jamais, em um arquivo

Sem gemer sua prima e seu bordão

Mande entregá-lo, pelo amor da noite

Que se sente vazia em suas horas,

Para que volte a sentir o terno acoite

De suas cordas finas e sonoras.

Liberte o violão, Doutor Juiz,

Em nome da Justiça e do Direito.

É crime, porventura, o infeliz

Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, afinal, será pecado,

Será delito de tão vis horrores,

Perambular na rua um desgraçado

Derramando nas praças suas dores?

Mande, pois, libertá-lo da agonia

(a consciência assim nos insinua)

Não sufoque o cantar que vem da rua,

Que vem da noite para saudar o dia.

É o apelo que aqui lhe dirigimos,

Na certeza do seu acolhimento

Juntada desta aos autos nós pedimos

E pedimos, enfim, deferimento.


O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.


Recebo a petição escrita em verso

E, despachando-a sem autuação,

Verbero o ato vil, rude e perverso,

Que prende, no Cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão,

Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,

É desumana e vil destruição

De tudo que há de belo no universo.

Que seja Sol, ainda que a desoras,

E volte á rua, em vida transviada,

Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso ao que lhe fiz,

Noite de luz, plena madrugada,

Venha tocar à porta do Juiz.
.

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