31/05/2013
Saúde
Uma arma contra o Chagas
Em teste, novo remédio traz esperança aos 8 milhões de infectados na América Latina
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Um novo medicamento para o tratamento da doença de
Chagas está em fase de teste na Bolívia. Foram recrutados 231 pacientes
adultos, na fase crônica da moléstia, nas cidades de Cochabamba e
Tarija, para avaliar o potencial do composto E1224, um pró-fármaco do
ravucunazol, previamente estudado para o combate de fungos, mas que
demonstrou eficácia contra o Tryponosoma cruzi, o parasita causador da doença de Chagas, que afeta o coração e é uma das principais causas de insuficiência cardíaca.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, há ao menos 8 milhões
de infectados na América Latina, onde a doença de Chagas é endêmica em
21 países. Embora o Brasil tenha reduzido o número de novos casos anuais
de 150 mil, na década de 1970, para cerca de 150 a 200 atualmente, é
temerário falar em erradicação da doença. Uma pesquisa publicada na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, em 2012, aponta 6 mil mortes por ano associadas à moléstia. O número de infectados é estimado em 1,7 milhão.
A molécula E 1224 foi descoberta pela indústria farmacêutica Eisai, do Japão. Desde 2009, a empresa estuda o composto em parceria com o DNDi, organização sem fins lucrativos voltada à pesquisa de novas drogas para o tratamento de doenças negligenciadas. A E 1224 teve a eficácia comprovada em testes laboratoriais e em modelos animais. Entre as vantagens da nova substância estão a redução do tempo de tratamento, de três meses para um, maior eficácia nos casos crônicos e redução dos efeitos colaterais, entre eles alergias e reações no sistema nervoso.
“Até agora, os testes indicaram que o composto é mais eficaz e seguro, além de ter um custo acessível aos sistemas de saúde nacionais”, afirma Eric Stobbaerts, diretor da DNDi na América Latina. “Se passar por todas as etapas, a expectativa é registrar o medicamento nas agências reguladoras em 2015”. Confira a seguir a íntegra da entrevista com Eric Stobbaerts, que atuou por 20 anos na ONG Médicos Sem Fronteiras e está à frente do escritório da DNDi na América Latina desde março de 2009.
CartaCapital: Em que estágio estão as pesquisas para esse novo medicamento contra a doença de Chagas?
Eric Stobbaerts: O composto E 1224 já passou por testes laboratoriais in vitro, para avaliar a sua eficácia e toxicidade. Os testes em modelos animais também foram feitos com sucesso. Agora, avaliamos os efeitos em humanos. O que está em jogo é a tolerância do paciente ao medicamento, se ele vai reagir mal à droga ou sofrerá com efeitos colaterais. Foram recrutados 231 pacientes adultos, na fase crônica da moléstia, nas cidades bolivianas de Cochabamba e Tarija. Eles serão monitorados não apenas nas 4 semanas de tratamento, mas nos meses seguintes, até completar um ano. Depois disso, vamos analisar as estatísticas, para então passar à fase seguinte, com uma amostra maior de pacientes, não apenas da Bolívia, mas de vários outros países da América Latina onde a doença de Chagas é endêmica. Se passar por todas as etapas, a expectativa é registrar o medicamento na Anvisa e outras agências regulatórias em 2015.
CC: Quais são as vantagens desse novo medicamento?
ES: O tempo de tratamento deve ser menor, em torno de quatro semanas. Atualmente, os tratamentos disponíveis, com benzonidazol e nifurtimox, medicamentos desenvolvidos há mais de 30 anos, giram em torno de três meses. O composto E1224 deve ser sintetizado em um medicamento oral, o que facilita o uso pelo paciente. É bastante resistente a variações de temperatura, o que favorece a logística de transporte e o uso no campo e em áreas remotas. Haverá dosagens específicas para crianças e adultos. É mais eficaz em pacientes em fase crônica, além de ter menos efeitos colaterais, como dermatites, alergias e reações no sistema nervoso. E o medicamento terá um custo baixo, acessível aos sistemas nacionais de saúde. Essa é a nossa expectativa.
CC: A doença de Chagas ainda é um problema relevante para o Brasil? O vetor não foi erradicado do território nacional?
ES: Houve, de fato, um grande avanço no controle da transmissão por vetor no Brasil. Reduziu muito o número de novos casos, mas ainda existem mais de 1,7 milhão de infectados no País e 6 mil mortes associadas ao Chagas por ano. Na América Latina, a Organização Pan-Americana de Saúde estima um número superior a 8 milhões de infectados, com 55 mil novos casos por ano. Na Bolívia, 7% da população tem o parasita. A moléstia está presente até mesmo em países desenvolvidos. Há centenas de milhares de infectados nos Estados Unidos e em países europeus. Pior: menos 1% dos doentes recebe tratamento adequado. Com base nos medicamentos produzidos pela indústria farmacêutica, é possível afirmar que apenas de 15 mil a 20 mil pacientes são tratados por ano, muito pouco diante dos milhões de infectados.
CC: Há problemas no diagnóstico?
ES: A subnotificação de casos é preocupante, mas também a falta de uma metodologia de diagnóstico para determinar se o paciente submetido a um tratamento conseguiu se curar ou não. O tratamento, incluídos os gastos com remédio e atenção médica, custa em torno de 200 dólares para pacientes com a doença na fase inicial. Quem é diagnosticado tardiamente, desenvolve complicações cardíacas, e chega a custar de 4 mil a 6 mil dólares. O gasto torna-se 20 vezes maior para os sistemas de saúde, e os governos parecem ignorar essa carga financeira da doença.
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A molécula E 1224 foi descoberta pela indústria farmacêutica Eisai, do Japão. Desde 2009, a empresa estuda o composto em parceria com o DNDi, organização sem fins lucrativos voltada à pesquisa de novas drogas para o tratamento de doenças negligenciadas. A E 1224 teve a eficácia comprovada em testes laboratoriais e em modelos animais. Entre as vantagens da nova substância estão a redução do tempo de tratamento, de três meses para um, maior eficácia nos casos crônicos e redução dos efeitos colaterais, entre eles alergias e reações no sistema nervoso.
“Até agora, os testes indicaram que o composto é mais eficaz e seguro, além de ter um custo acessível aos sistemas de saúde nacionais”, afirma Eric Stobbaerts, diretor da DNDi na América Latina. “Se passar por todas as etapas, a expectativa é registrar o medicamento nas agências reguladoras em 2015”. Confira a seguir a íntegra da entrevista com Eric Stobbaerts, que atuou por 20 anos na ONG Médicos Sem Fronteiras e está à frente do escritório da DNDi na América Latina desde março de 2009.
CartaCapital: Em que estágio estão as pesquisas para esse novo medicamento contra a doença de Chagas?
Eric Stobbaerts: O composto E 1224 já passou por testes laboratoriais in vitro, para avaliar a sua eficácia e toxicidade. Os testes em modelos animais também foram feitos com sucesso. Agora, avaliamos os efeitos em humanos. O que está em jogo é a tolerância do paciente ao medicamento, se ele vai reagir mal à droga ou sofrerá com efeitos colaterais. Foram recrutados 231 pacientes adultos, na fase crônica da moléstia, nas cidades bolivianas de Cochabamba e Tarija. Eles serão monitorados não apenas nas 4 semanas de tratamento, mas nos meses seguintes, até completar um ano. Depois disso, vamos analisar as estatísticas, para então passar à fase seguinte, com uma amostra maior de pacientes, não apenas da Bolívia, mas de vários outros países da América Latina onde a doença de Chagas é endêmica. Se passar por todas as etapas, a expectativa é registrar o medicamento na Anvisa e outras agências regulatórias em 2015.
CC: Quais são as vantagens desse novo medicamento?
ES: O tempo de tratamento deve ser menor, em torno de quatro semanas. Atualmente, os tratamentos disponíveis, com benzonidazol e nifurtimox, medicamentos desenvolvidos há mais de 30 anos, giram em torno de três meses. O composto E1224 deve ser sintetizado em um medicamento oral, o que facilita o uso pelo paciente. É bastante resistente a variações de temperatura, o que favorece a logística de transporte e o uso no campo e em áreas remotas. Haverá dosagens específicas para crianças e adultos. É mais eficaz em pacientes em fase crônica, além de ter menos efeitos colaterais, como dermatites, alergias e reações no sistema nervoso. E o medicamento terá um custo baixo, acessível aos sistemas nacionais de saúde. Essa é a nossa expectativa.
CC: A doença de Chagas ainda é um problema relevante para o Brasil? O vetor não foi erradicado do território nacional?
ES: Houve, de fato, um grande avanço no controle da transmissão por vetor no Brasil. Reduziu muito o número de novos casos, mas ainda existem mais de 1,7 milhão de infectados no País e 6 mil mortes associadas ao Chagas por ano. Na América Latina, a Organização Pan-Americana de Saúde estima um número superior a 8 milhões de infectados, com 55 mil novos casos por ano. Na Bolívia, 7% da população tem o parasita. A moléstia está presente até mesmo em países desenvolvidos. Há centenas de milhares de infectados nos Estados Unidos e em países europeus. Pior: menos 1% dos doentes recebe tratamento adequado. Com base nos medicamentos produzidos pela indústria farmacêutica, é possível afirmar que apenas de 15 mil a 20 mil pacientes são tratados por ano, muito pouco diante dos milhões de infectados.
CC: Há problemas no diagnóstico?
ES: A subnotificação de casos é preocupante, mas também a falta de uma metodologia de diagnóstico para determinar se o paciente submetido a um tratamento conseguiu se curar ou não. O tratamento, incluídos os gastos com remédio e atenção médica, custa em torno de 200 dólares para pacientes com a doença na fase inicial. Quem é diagnosticado tardiamente, desenvolve complicações cardíacas, e chega a custar de 4 mil a 6 mil dólares. O gasto torna-se 20 vezes maior para os sistemas de saúde, e os governos parecem ignorar essa carga financeira da doença.
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