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24/05/2013
Drogas:
Guerra perdida
A lei da oferta e da procura garante a sobrevivência
perene do tráfico. A mais ferrenha repressão policial não resolve
Eduardo Recife
"Não existem guerras duradouras que tenham beneficiado algum Estado" Sun Tzu
por Drauzio Varella
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publicado
17/05/2013 12:45,
última modificação
23/05/2013 16:41
Na semana passada tomei um susto quando li na capa de CartaCapital:
“Legalizem as drogas!” No subtítulo vinha a justificativa: “Seria o fim
do tráfico e da violência e corrupção a ele associadas”.
É a primeira vez que uma revista semanal brasileira coloca essa proposta em discussão.
Assinada pelo jornalista Willian Vieira, a reportagem de CartaCapital
alinha argumentos e dados numéricos que comprovam o fracasso retumbante
das políticas repressivas adotadas em países como o Brasil.
O exemplo dos Estados Unidos é didático.
Nos últimos 40 anos, eles investiram mais de 1 trilhão de dólares nessa
guerra insólita. Nesse período, a população carcerária saltou de 38 mil
para 500 mil, a um custo anual de 30 mil dólares por preso.
Além de enriquecer os
grandes bancos envolvidos na lavagem dos narcodólares, o que a
sociedade americana ganhou com esse esforço? Formar o maior mercado
consumidor do mundo.
A matemática é clara: 1 quilo de cocaína
de boa qualidade pode ser comprado por cerca de 2 mil dólares na Bolívia
ou Colômbia. Quando desembarca em Nova York, já vale 30 mil; em Roma,
55 mil; na Austrália e no Japão, mais de 80 mil. Em São Paulo ou Rio de
Janeiro, depois de “batizada” para aumentar o rendimento, essa
quantidade poderá render de 20 mil a 30 mil dólares.
Para a viabilidade comercial de qualquer
mercadoria o gasto com transporte é crucial. Plantar tomates no norte de
Mato Grosso, para vendê-los nas feiras livres de São Paulo, levaria o
produtor à falência. Quando o produto é uma droga ilícita, o custo do
transporte torna-se, no entanto, desprezível.
Supomos que um comprador holandês pagasse
400 mil dólares por 200 quilos de cocaína colombiana, e um traficante
pedisse a absurda quantia de 1 milhão de dólares para desembarcá--los em
Amsterdã. Que diferença fará? Apesar de o transporte acrescer 5 mil
dólares por quilo, a margem de lucro continuará estratosférica.
Lucros dessa magnitude,
numa atividade não sujeita à taxação pela Receita Federal, obrigações
trabalhistas e demais impostos que sufocam a produção em nosso país, têm
um poder de corrupção irresistível. Não sejamos ingênuos: bocas de fumo
são pontos de comércio estabelecidos em endereços acessíveis aos
usuários. Se eles e até os cidadãos abstêmios sabem onde encontrá-las,
só a polícia treinada para combatê-las é que não sabe?
A lei da oferta e da procura garante a
sobrevivência perene ao tráfico. A mais ferrenha repressão policial
poderá no máximo aumentar transitoriamente o preço das drogas nas ruas, e
com isso talvez diminuir o consumo, jamais acabar com ele.
Está mais do que na hora de encontrarmos
formas mais inteligentes de lidar com esse flagelo das sociedades
modernas. Por que não começarmos mudando a legislação que criminaliza o
consumo de maconha? Ou a solução será mandar para a cadeia todos os
usuários, ainda que sejam da nossa família?
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