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05/11/2013
“Espionagem” na Folha. O ridículo devidamente enquadrado
Do Tijolaço - 5 de novembro de 2013 | 08:58
Embora seja um bom trabalho de reportagem – e um sinal de que a Abin é mais furada que uma peneira, como já se tornou cansativo falar – o caso da “espionagem” brasileira é de uma estupidez sem par.
A começar pelo termo espionagem em lugar de contra-espionagem, porque nosso país não está “indo espiar” ninguém, mas apenas cuidando do que, às escondidas, estrangeiros vêm fazendo aqui. Ou será que deveríamos celebrar também algo como a “liberdade de espiar”, para americanos montarem salas de rádio dissimuladas, franceses fuçaram nossa base espacial em Alcântara, Irã ou Iraque tratarem se seus enfrentamentos com o EUA ali em pleno Setor de Embaixadas da Asa Sul de Brasília?
Aliás, o fato de ter sido identificado um espião francês em Alcântara, muito anterior à explosão de um protótipo de nosso Veículo Lançador de Satélites ( a foto, lá em cima, segue sendo impressionante) tornava uma obrigação monitorar suas ações, ainda mais sabendo que nosso programa de satélites poderia vir a ser concorrente comercial do francês, localizado em Kourou, na Guiana Francesa.
Melhor ainda que na Folha, agora “reforçada” na sua mediocridade por Reinaldo Azevedo, resta um Jânio de Freitas para enquadrar devidamente o caso. Sai da visão primária com que a edição do jornal tratou o tema, transformando num caso de “espionagem brasileira”.
Muito além da bobagem de querer traçar qualquer paralelo entre a invasão eletrônica dos EUA sobre nossas comunicações, em nosso território, Jânio vai ao ponto central: o jogo de poder é bruto e um país precisa se defender dele.
Coisas deles
Janio de Freitas
Gentileza não gera gentileza, não. Se há pelo menos dez anos são conhecidas da contraespionagem brasileira as salas sem presença humana e com equipamentos de transmissão, alugadas em Brasília pela Embaixada dos Estados Unidos, temos aí outro caso exemplar de gentileza não correspondida. A qual permite supor que, entre suas consequências, estejam a intercepção e a retransmissão, à Agência de Segurança Nacional dos EUA, das comunicações de Dilma Rousseff e de outras autoridades brasileiras.
O subterfúgio de instalações veladas está na essência da espionagem e das ações de sabotagem, mas tem mais de uma resposta eficaz. Não aplicar nem uma delas parece ser um vício brasileiro.
Bem antes do golpe de 1964, militares do Exército constataram que uma agência de turismo na rua Santa Luzia, na Cinelândia, pertinho da embaixada americana ainda instalada no Rio, na verdade era cobertura para um posto da CIA. No mesmo quarteirão, mas na rua México, em frente ao lado da embaixada, descobriram que um curso para sargentos desejosos de fazer vestibular, ou galgar uma promoção, funcionava para cooptar e infiltrar novos agentes da CIA nos quartéis.
A confiança em que o governo Jango nunca seria derrubado e o receio de um caso problemático com o governo americano sustaram qualquer reação. Houve, se houve mesmo, algum monitoramento, que se distingue das outras ações subterrâneas por se limitar à vigilância cautelosa.
Aqueles e vários outros postos identificados estavam sujeitos, porém, a dois tipos de ação defensiva. Uma, política, de exigir que o governo americano desmontasse os postos e recambiasse os estrangeiros em ação neles (o chefe da agência de turismo era um estrangeiro de língua espanhola). Um aborrecimento diplomático, por certo.
A outra ação possível, mais simples e terminante, seria estourar os postos a pretexto de indícios ou denúncias de contrabando, lavagem de dinheiro, funcionamento irregular, essas atividades que a polícia estoura dia a dia. “Ah, era coisa de vocês? Não sabíamos, agora não há mais nada a fazer.”
Salas em Brasília com equipamentos ativos dia e noite, e presença humana muito esporádica, só servem para “guardar equipamento como rádio walkie-talkie” no cinismo conveniente à espionagem -como foi na resposta dada ao excelente repórter que é Lucas Ferraz, revelador de documentos da Abin, a Agência Brasileira de Informação, sobre alguns monitoramentos seus.
A soma das muitas e diferentes gentilezas do governo Jango foram retribuídas do modo que se sabe. As dos governos Lula e Dilma, e provavelmente Fernando Henrique e José Sarney, sabe-se apenas que também tiveram retribuição à americana. Sabe-se graças a Edward Snowden.
Por: Fernando Brito
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