Do JornalGGN - qui, 10/04/2014 - 08:38
Da Folha
CPIs prestam-se ocasionalmente a investigações valiosas, mas sempre são instrumentos políticos
Janio de Freitas
Em resposta ao que Lula não disse,
Fernando Henrique ponderou, a propósito de uma CPI da Petrobras, que, em
vez de política, "a oposição deve verificar os fatos (...), é uma coisa
de interesse nacional". Perfeito. Mas para ser dirigida ao seu próprio
partido.
Nem Lula propôs que o PT impeça a CPI,
nem disse que os petistas devem "partir para cima" da oposição. Não só
Fernando Henrique leu tais recomendações não feitas. É que no
jornalismo, cada vez mais, e ainda pior em fase eleitoral, nada garante
que o não dito vire o dito. E vice-versa.
Quanto à ponderação, além do desvio de
rota, é de uma inutilidade perfeita. Câmaras, Senados e Assembleias são
iguais em toda parte, quando suscitadas investigações: a política
precede o dever do esclarecimento. Mas não só por isso a ponderação,
mesmo que dirigida ao PSDB, é inócua. Os senadores e deputados do PSDB
estão fazendo mais política do que servindo a esclarecimentos para
evitar que a corrupção no metrô e nos trens paulistas seja também
investigada. Um serviço ao PSDB de Fernando Henrique.
Na mesma questão, mas em sentido
contrário, a proposta do relator Romero Jucá adquire sentido ao admitir a
abertura da CPI para os casos da Petrobras, do metrô e dos trens, sob o
rótulo geral da malversação de fundos. Assim os dois problemas
paulistas chegariam a um foro ao mesmo tempo político e institucional,
que a Assembleia de São Paulo lhe devia, e não deu, e os governos
paulistas do PSDB lhe negaram, por motivos óbvios. Para nem falar nos
Ministérios Públicos, o federal e o paulista, cuja longa omissão não se
explica nem por interesse partidário (o que bem poderia justificar uma
CPI).
É também por interesse político que o
PSDB e seus aliados, inclusive jornalísticos, tentam espichar o caso do
aventureiro André Vargas, deputado cujo destino é a rua. A pretexto de
que ele imaginaria ser vice na chapa petista ao governo do Paraná,
querem atingir a candidatura da senadora Gleisi Hoffmann. Já a hipótese
de que o doleiro associado a André Vargas seja o verdadeiro dono de um
laboratório farmacêutico, com uma história de contrato feito ou não
feito no Ministério da Saúde, é para atingir a candidatura do
ex-ministro Alexandre Padilha ao governo paulista.
CPIs prestam-se, ocasionalmente, a
investigações valiosas, mas são instrumentos políticos sempre. O mais
comum é que, até se instalar, uma CPI crie em torno do seu tema uma
confusão, de informações e de interesses, que vai limitar ou desvirtuar
muitas de suas conclusões. Estamos em tal fase.
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